Tem alguma coisa estranha aí.

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Caio

Sei que eu deveria estar lá dentro com todo mundo, ou ajudando a minha mãe. Mas me sinto um idiota ansioso, parado aqui na varanda, esperando para ver a Bella. Talvez pelo receio de que seja como das outras vezes, um beijo, uma noite maravilhosa seguida de uma manhã vazia. Contudo o Rodrigo me garantiu que ela não foi embora e chegou a rir da minha cara, com o meu desespero.

Escuto o barulho da caminhonete de luxo e me condeno por estar parecendo um adolescente. Disposto a raptá-la, a sumir do mapa e mandar uma mensagem para o Rodrigo dizendo que só voltarei em três dias.

Sempre fui louco por ela e não perderia a chance, depois de ouvir Bella contar que está se separando.

Os vidros escuros não me deixam ver dentro do carro. Eu me posiciono de maneira estratégica para abrir a porta para ela. Sei que a Clarinha está com a tia e preciso ser discreto. Coloco uma mão no bolso, para não soar desesperado. Rodrigo disse que os gêmeos ainda não sabem sobre o divórcio, preciso me controlar.

Todas as minhas ideias mirabolantes vão por água abaixo quando vejo a Clarinha saindo do banco do motorista. Ela me olha de um jeito diferente, que não entendo. Talvez pela travessura da tia maluca, que a deixou dirigir.

Não sabia que a Clara dirigia...

— Não conta pro meu p... — Bella desce do outro lado do carro — irmão.

— Vocês estão loucas? A estrada é tranquila, mas é cheia de buracos. A Clara não tem experiência. Se o Rodrigo souber disso...

— Você não vai contar, né, tio? Eu sei que vocês faziam coisas piores na minha idade.

Clarinha me dá um beijo no rosto, toda segura de si, como se tivesse certeza de que eu não falaria nada. Ao mesmo tempo, parece vigilante. O que essa menina andou aprontando, além de dirigir sem habilitação? Está estranha, olha furtivamente para a casa e para os lados, como se temesse estar sendo vigiada.

Ainda paralisado com a audácia da Bella de contar sobre a nossa adolescência, eu a observo se afastar. Ela está estranha, até a maneira de andar. Parece um pouco curvada para a frente, bem diferente da postura altiva que costuma ostentar. Será que ela está bem?

Clara olha para mim algumas vezes, acho que está com medo de ser dedurada. Principalmente porque ainda está de castigo e suspensa da aula até quarta-feira.

Ando atrás delas ansiando por um momento a sós com a Bella, que, como eu temia, finge que nada aconteceu ontem.

Demora uma eternidade até que Clara saia de perto da tia. Elas ficam cochichando por um tempo. Finalmente minha afilhada se levanta para ajudar minha mãe na cozinha. Essa menina está estranha. Parece mais empinada que o normal. Quando foi que ela virou uma mulher?

Acorda, Caio, você está ficando velho. Daqui a pouco, é a Kath, toda cheia de si, igual a ela, andando como se fosse independente. Essa moçada de hoje... Balanço a cabeça e aproveito a oportunidade para me aproximar.

— Quer dar uma volta? Podemos almoçar em outro lugar, só nós dois.

Ela me olha como se eu tivesse chifres, o que está acontecendo?

— Não estou muito bem — ela se limita a dizer e rapidamente se junta à Clara.

Caramba! Será que voltamos à estaca zero? A Bella está me evitando? Não pira, Caio, ela pode estar indisposta.

Fico observando-a de longe, talvez Bella precise de espaço. Eu entendo que ela queira ser discreta em relação a nós dois, mas esta situação é desesperadora.

Deu RuimOnde histórias criam vida. Descubra agora