1|

1.7K 58 8
                                    

Estava terminando de me arrumar para trabalhar, ponho o macacão e calço as botas.
- Aí está você.
- O que foi Lina? Carolina é minha prima, quando me mandaram para Roma esperei me recuperar e larguei tudo, só queria um tempo pra mim me esconder do que passei, enterrei o passado e refiz minha vida e foi aí que Lina me chamou para vir ao Paraná em Foz do Iguaçu perto das fronteiras da Argentina, é uma cidade bem pequena do interior, onde tem uma reserva natural, que o dono é Argentino e ganha muito dinheiro com o turismo aqui, e ela conseguiu com um conhecido uma vaga de segurança da reserva para mim, o que foi bom.
Comprei uma casa para mim, na parte mais isolada onde respiro o ar puro da natureza.
- Tem um pessoal na reserva, estão procurando por você.
Arqueio uma sobrancelha.
- Não tenho ideia do que seja Rugge, eu estava na loja e um homem alto vestido de preto perguntou se eu era sua prima e se sabia qual o seu horário de turno, eu não falei claro, só achei estranho.
- Tudo bem eu já estou indo pra lá, mais e você como está a Lete. - Letícia é filha de Carolina ela tem dois anos é um doce de criança, sei o quanto Lina sofreu com a morte de Erick se viu sozinha para criar a pequena, e tento dar um suporte a elas.
- Vou pegar ela na creche agora.
- Tá amanhã meu turno muda para noite e eu pego ela na creche pelos próximos dias.
- Você não existe sabia, não sei o que faria sem você. - Ela fala e beija minha bochecha.
- Seria você, porque é forte e batalhadora  eu que não sei o que seria de mim se não atendesse aquele seu telefonema a cinco anos atrás.
- Não diga isso, depois de tudo que passou naquele lugar... Desculpe eu sei que amava o que fazia mas um cenário de guerra não é bem o que chamo de lugar ideal, mas enfim o importante é que deu a volta por cima.
Respiro fundo e ponho o boné na cabeça.
- Agora você bem que poderia arrumar alguém né, abrir esse seu coração lindo.
- Não vou trazer ninguém pra minha vida Lina, você sabe...
- Rugge isso aqui não é o Afeganistão, não estamos em um centro de guerra e não tem inimigos, aqui está seguro.
- Estou bem assim, não vamos falar de mim, você deveria se arriscar a ser feliz já fazem dois anos.
- Eu sei e é como se fosse ontem, enfim só quero sua felicidade.
- E eu a sua. - Beijo sua testa e entro na picape.
Chego na reserva e tiro meu colega trocando o turno, estava na cabine observando as câmeras quando um carro preto para perto da entrada, saiu da cabine e o motorista abre a porta do carro.
- Senhores boa tarde, não podem estacionar aqui, se quiserem visitar a reserva ou entram e colocam no estacionamento, ou tem que fazer a volta e estacionar lá na frente, essa área é restrita. O motorista pede que espere e um homem sai da parte de trás, alto de terno preto ele levanta o dedo em sinal de um minuto e espera que mas alguém saia do carro, uma mulher loira de olhos azuis sai do carro, eles se aproximam.
- É ele?
- Sim, o Major. Escuto a última parte sussurrada fico parado ninguém aqui sabe nada da minha vida, não sabem que eu sou um...
- Boa tarde Major Pasquarelli. Ela fala e a encaro.
- Desculpem não podem ficar aqui.
- Não vamos demorar só precisamos falar com você tem alguns minutos? - O cara pergunta.
- Estou trabalhando e não sei quem são e nem o que fazem aqui? então se me derem licença.
- É ele, petulante e teimoso é perfeito. - A mulher fala.
- Desculpe senhora eu..
- Senhorita. - Ela faz sinal para um dos seguranças que vai até a cabine no meu lugar de trabalho.
- Valentina Zenere Sevilla pode nos acompanhar um momento Major.
Olho para o cara e para os seguranças e assinto, entro no carro com eles.
- Quem mandou vocês?
- Na verdade ninguém nos mandou senhor, preciso dos seus serviços. - Ela fala.
- Não entendi, eu já tenho um trabalho.
Ela pega uma pasta e abre ler uns papéis.
- Aqui diz que você é um Major do exército italiano e que esteve em combate no Afeganistão, não entendo ainda o que veio fazer aqui como segurança na reserva do meu tio.
- Não estou entendendo, eu trabalho a quase cinco anos e ninguém nunca me perguntou ou pediu algum certificado da minha brigada para isso.
- Major.. - o interrompo.
- Ruggero, aqui eu não sou um major.
- Tudo bem Ruggero, meu nome é Agustin Bernasconi estamos aqui por conta do senhor Sevilla.
- Continuo não entendendo.
- Meu tio Roberto sumiu, ele deveria vim a foz do Iguaçu e nunca chegou, estamos segurando a notícia por conta das empresas Sevilla que vão querer colocar alguém no comando.
- Sim...
- Acreditamos que se trate de um sequestro querendo derrubar as empresas e vão fazer de tudo para que ninguém assuma o comando, titio vinha recebendo ameaças.
- Desculpe, não quero ser insensível mas ainda não entendo onde entro.
- Precisamos de você, da sua experiência.
- Desculpem não sei como minha experiência possa ajudar.
- É simples Ruggero, precisamos que proteja a garotinha do Roberto.
- Querem o que?
- Minha prima ninguém sabe da existência dela, meu tio a deixou longe de tudo isso, temos seguranças mas quando a bomba explodir ela vai virar o alvo e nenhum dos nossos é treinado para isso, por isso recebemos instruções sobre você Major. - Ela me chama novamente de...
- Não estou aqui para isso, sinto muito não posso ajudar, contratarem um guarda costa, baba talvez, eu não posso.
- Babá? O tal Agustin pergunta.
- Para a criança. - Explico
- Criança... Oh não ela não é.... - A mulher interrompe.
- Major precisamos dos seus serviços, estou desesperada, não confio em mas ninguém. - Ela suspira e então me encara.
- Meus pais falaceram quando eu tinha quatro anos, e quem me acolheu foram meus tios, quando titia se foi eu prometi cuidar da minha prima e estou cumprindo ela só tem a mim por favor me ajude.
- Moça você nem me conhece, como acha que posso proteger sua prima.
- Porque você é o primeiro homem que conheço que não se importa com o que o seu cargo traz, garanto que já conheci muitos oficiais por aí que fazem questão de dizer eu sou o fodão. - Ela imita uma voz grossa e me seguro pra não rir e acabo fazendo uma careta, ela rir e o cara ao lado também.
- Desculpe eu não trabalho protegendo pessoas eu...
- Por favor ao menos pense eu vou deixar meu cartão com você. - Ela estende um cartão para mim e quando vou descer do carro.
- Ruggero. - Ela me chama pelo nome dessa vez, paro.
- Obrigado pelo seu tempo.
Ela diz com um olhar de quem está realmente apavorada, mas eu não posso ajudá-la eu não posso me responsabilizar por mais uma vida, eu já tenho Carolina e Lete, e Ana e Yan, não posso desampara-los eu devia isso ao Jorge, eu prometi a ele que iria cuidar deles e peguei esse trabalho aqui não só para recomeçar minha vida, mas é o único jeito para ajudá-los sem mexer na conta dos Pasquarelli meu pai ficaria sabendo onde estou e eu não quero nada dele.
Sento na cabine e meu celular toca, vejo uma mensagem de Lina.
Rugge, estou com a Lete no hospital ela estava vomitando e corri pra cá, assim que ela for medicada te aviso.
Meu corpo estremece ao pensar na pequena doente.

EntrelinhasOnde histórias criam vida. Descubra agora