Ela caminhava tranquilamente pela floresta, em sua mão estava sua inseparável cesta, repleta de folhas e tudo aquilo que ela achava de interessante no percurso, sempre atrás de novas ervas, plantas e flores, era sua caminhada matinal, não sentia medo da escuridão que aquela floresta possuía, ou dos animais que ali vagavam, pelo contrário ela se sentia conectada com todo aquele espaço e acreditava que não existia ninguém naquela pequena cidade que conhecesse tão bem a floresta como ela, ela aprendeu a reconhecer e respeitar cada espaço daquele lugar.
Cresceu ali, a casa da sua família dava atrás da mata por longos anos, passou sua infância brincando naquele lugar, ou fugindo para alguma daquelas árvores.
Nem seus irmãos, dois deles que haviam servido o país na guerra, sempre mostravam receio com aquele lugar, mas ela sempre estava ali, em qualquer horário do dia, acreditava que havia puxado isso de sua avó, que foi curandeira por longos anos, cuidou de todos naquela pequena cidade e fez o parto de todas as crianças, suas ervas e plantas eram retiradas daquela floresta, ela tinha o dom da cura através das plantas, não era bruxa, apesar dos mais antigos acreditarem que sim, era uma simples mulher mas muito sábia, que sabia usar cada planta em benefício da saúde.
Ela se afasta da mata em passos lentos, já estava começando a escurecer e precisava de um banho, os sapatos sujos de barro marcavam seus passos em direção a residência, as mãos levemente sujas de conforme cavava em busca de algo, esfregaram no tecido claro das calças que já estava desgastada e com leves rasgos remendados, muitos feitos foram feitos por se enroscar entre os galhos.
-Você é estranha Lilian. -A mulher do seu irmão mais velho se pronuncia assim que ela pisa na casa, seus cabelos loiros estavam arrumados em um penteado muito bem feito, seu pescoço possuía joias e o vestido justo no corpo na cor azul a deixava parecendo uma boneca.
Ou uma dondoca.
-Não me importo. -Responde tirando os sapatos e batendo todo o barro que ali tinha, após tirar suas meias enquanto subia os degraus.
-Mas devia, nenhum jovem vai se interessar por você, ainda mais um jovem com dinheiro. - O olhar de Elizabeth desce por todo o seu corpo. -Se usasse roupas mais femininas, algumas joias ao invés desse medalhão sujo. -Ela tenta tocar em seu cordão, mas Lilian bate de leve na sua mão. -E prendesse esse cabelo volumoso e claro comesse menos, teríamos meio caminho andando, como seu irmão irá continuar fazendo propaganda de você?.
-Não vou deixar de comer, eu gosto. -Diz já se irritando, odiava conversar com Elizabeth, sempre sai com sua autoestima em ruínas. -Gosto do volume dos meus cabelos e das minhas roupas e eu não sou um produto para ser feita uma propaganda.
-Uma selvagem é isso que você é.
-Pois bem que seja. -Dizendo isso ela se vira deixando a mulher sozinha, perfeita isso que ela era, ela era perfeita para o seu irmão, dois coitados de alma, pensando apenas em luxos e status, seu irmão cresceu em uma família de baixa renda mas sem nunca passarem por necessidades, mas queria mais, cada vez mais e fazia de tudo por isso. Ela sobe as escadas rapidamente para o seu quarto, precisava de um banho, comer algo e quem sabe tentar ver seu pai esta noite.
Assim que fecha a porta, começa a se despir, segue em direção ao banheiro preparando a água, morna e relaxante, caminha em direção a sua estante onde havia inúmeros frascos, separados por funções e sessões, pega o de lavanda especialmente para o banho, derramando pela banheira, seu olhar vai para o reflexo no espelho, seus cabelos ondulados negros e volumosos estavam pela sua cintura, e seu corpo sem dúvidas era voluposo perto das outras moças, mas ela não ligava, não se comparava, sempre foi diferente e não tinha intenção nehuma em ser igual a elas.
Seu corpo relaxa assim que a água entra em contato com a sua pele, ela suspirou fechando seus olhos. Ela era a única menina entre três homens, dois deles estavam servindo o país no momento e o mais velho trabalhava no governo, voltava para casa apenas nos finais de semana, deixando sua infernal esposa tomando conta de tudo, e toda vez trazia uma acompanhante, um homem para ela, só de lembrar um calafrio subiu pela sua pele, odiava todos, odiava as conversas, a forma que toda vez que ela pronunciava algo eles a ignoravam ou mudavam de assunto, os olhares em sua direção como se fosse um simples pedaço de carne, ela nunca iria se sujeitar a um homem daqueles, nunca.
Sua mãe havia morrido quando ela nasceu e seu pai havia se isolado do mundo, passava dias e noites dentro da biblioteca tentando produzir algo, era escritor ou pelo menos algum dia tinha sido, ela havia se acostumado com a solidão, já havia terminado seus estudos, e então se dedicou apenas as flores e plantas, produzindo perfumes, remédios e muito mais, ela era sozinha e estava tudo bem, pelo menos era o que ela tentava acreditar.

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Entre mundos e destinos
FantasíaDois mundos ligados através de um cordão. Um portal será aberto e por ele uma jovem iniciará a sua mais nova jornada, uma humana que viajou através dos mundos e precisava estar em Prythian, sem poderes, sem nenhuma direção, o que lhe guiava era ape...