Entre mundos e destinos

Capítulo 37

Corália/Lilian:

O vinho era muito bom.

Na verdade era maravilhoso, uma das minhas bebidas favoritas, a forma que ele aquecia o meu corpo, o leve gosto doce, a cor. Tudo era uma ótima combinação. O jantar estava ótimo, Helion havia se desculpado por não se juntar a nós, mas tinha compensado com o lindo buffet.

Não sabia que estava com tanta fome, até me sentar naquela mesa, olho de canto para Cateline e pelo visto a fome é algo de família, mas rapidamente  me lembro por tudo o que ela passou e meu peito aperta, céus quando foi que tinha sido a sua última refeição decente?

 O passado dela me doía, e eu nem tinha o conhecimento de tudo, ela não me contou e eu não a forcei, isso tinha que acontecer no tempo dela. E apesar de tudo o que eu passei no outro mundo, eu tinha um teto com uma cama quente, comida em qualquer horário do dia, e passei bons anos segura, já ela não. Após o sequestro da nossa mãe, ela não teve nada, perdeu tudo, viveu sozinha e passou por coisas inimagináveis. 

Estamos cada vez mais próximas, nossa ligação é muito forte, e eu sinto o seu amor como nunca havia sentido de ninguém. E eu a amo, muito. Nunca havia me sentido assim a respeito do meu irmão, o que é provável que nem seja, na verdade o amor que eu tenho pro Cateline não é igual a nada.

Minha vida tinha se transformado, rapidamente, tudo o que eu havia vivido, era de certa forma uma mentira. Eu não era o que eu achava, minha casa não era onde eu morei por todos esses anos e minha família não era aquela. Corália, esse era meu nome, meu verdadeiro nome. E eu o aceitei sem nem hesitar, ele seria meu recomeço, tudo o que pertence a Lilian ficaria no passado, eu estava tendo uma nova chance, um novo recomeço, uma forma de esquecer tudo o que me machucou, e eu estava me agarrando a isso.

Observo o rosto das três pessoas ali em minha volta, minha irmã suspirando a cada nova garfada, Lucien bebendo o seu vinho descontraído na sua cadeira, enquanto conversava com Az, e o encantador de sombras interagindo também, o adorava ver assim, adorava escutar sua voz e o vê-lo confortável. Meus amigos, finalmente eu poderia dizer isso, e não era apenas eles, logo o círculo íntimo estaria com nós e eu me sentiria ainda mais completa.

Havia gostado da Primaveril, mas a corte Diurna havia me encantado, o sol, às milhares de bibliotecas, as roupas e o ouro em cada detalhe, era tudo de uma forma familiar e confortável, poderia passar anos aqui ou em Velaris, qualquer um desses lugares eu sei que estaria  e seria feliz. Quando uma das ajudantes me entregou as roupas para a minha estadia, me senti eufórica com os tecidos, e quando me vi no espelho senti rapidamente senti meu rosto corar, era muita pele amostra, minhas curvas que não era poucas estavam moldadas pelo fino tecido, tenho certeza que se eu aparecer no sol, poderia se ver levemente os meus seios, mas eu não era mais a Lilian, não queria ser refém de inseguranças. Eu estava abraçando uma nova parte minha, a parte das náiades, estava abraçando minha sensualidade, tudo de novo que surgir.

Nunca havia me sentido tão bem, ou tão bonita.

-Pela mãe, que comida deliciosa. -Minha irmã murmura bebendo seu vinho. -Fazia anos que eu não comia algo de verdade. -Sinto Azriel e Lucien ficarem tensos parando de conversar, eu também fiquei seu passado não trazia desconforto apenas para ela, mas para todos nós, ainda mais da maneira que a encontramos, porém Cateline logo sorri erguendo sua taça. -Vamos brindar?

-O que estaremos brindando ? -Az é o primeiro a perguntar mas com a taça em mãos, eu realmente não me importava o motivo, ela estava leve e feliz e seja o que for eu quero brindar com ela. Para sempre.

-Os recomeços, as novas histórias que serão construídas, as novas chances... - Uma pequena lágrima escorre do mar azul que a mesma carrega nos olhos. -A vida, apenas a ela. -Então todos sorrindo batemos os copos.