Entre mundos e destinos

Capítulo 10

Azriel:

Os olhos de Lilian brilhavam conforme ela andava por Velaris, cada novo lugar que eu lhe mostrava ela observava com entusiasmo e fazendo o máximo de perguntas possíveis. E eu não me surpreendia com a sua animação, na verdade eu gostava, Velaris era especial e ver uma pessoa de fora do nosso mundo se impressionando com esse lugar é ótimo.

-Você gosta de música ? -Pergunto enquanto observamos a cidade em cima de uma das pontes.

-Claro, quem não gosta? - Era um bom ponto, Lilian era uma pessoa fácil de lidar e agradar, havia notado isso em nossos primeiros minutos de conversa, ela gostava de falar e tinha assunto sobre tudo e eu gostava de escutar, sempre fui um melhor ouvinte.

Cassian após o treino me encontrou, disse que tiveram um bom dia juntos e ela pegavas as coisas rápido, ele parecia mais leve e animado com a presença da jovem e após o comentário que ela tinha feito sobre Nestha ele havia já a colocado no posto de melhor amiga, elogiar sua parceira era deixá-lo ainda mais bobo.

-Tem um lugar, que talvez você vá gostar...se chama Rita's. -Rhyssand e Cassian iriam pegar no meu pé por isso, mas que se dane os dois, ela claramente estava precisando de distração e bom, eu gostei da sua companhia e precisava de uma também, ficar muito tempo na presença de Elain me deixava cansado e perturbado. -Claro que se você estiver cansada podemos ir outra noite.

-Posso ser sincera ? -Me pergunta sorrindo de um jeito levado, e eu concordo com a cabeça me escorando no muro e curvando um pouco meu rosto, para observá-la melhor. -Eu estava exausta, porém a ideia de sair e esquecer um pouco todos os meus pensamentos foi maior que qualquer cansaço. 

-Isso quer dizer que você aceita?

-É claro que sim. -Estendo minha mão e ela segura, Lilian era toda pequena, quer dizer não totalmente, possuía lindas curvas, as quais meus olhos gostavam mais do que o certo de observar, e elas eram um contraste interessante com a sua altura e suas pequenas mãos, que agora apertam as minhas. -Você não gosta de falar muito sobre si mesmo, né ?

-Acho que não tenho nada de interessante para dizer sobre mim. -É uma verdade, sou um encantador de sombras, mestre-espião da corte, com um passado ferrado e com um presente solitário.

-Todos nós temos algo interessante, eu mesma achava que não. -Sua mão aperta de leve a minha. -Passei anos vivendo em uma casa onde as pessoas não se importavam com nada além delas mesmas, minha mãe morreu no meu nascimento, minha avó me deixou quando eu tinha oito anos, a floresta e minhas invenções foram as únicas companhias que eu tive, posso te contar algo ? - O que vejo em seus olhos é algo que tive que encarar por longos séculos ao ver meu próprio reflexo, dor e solidão.

-Pode me contar tudo Lilian. -Ela estica suas mãos, que ainda estavam com alguns curativos, então os abre, mostrando os machucados, estavam muito melhores do que quando eu havia lhe encontrado, mas ainda estavam ali.

-Meu irmão me deu como moeda de troca. -Minhas sombras se agitam se aproximando dela, eu me agito. -Eu antes de vir parar aqui, tive que me proteger pois ninguém ia. -Sua expressão fica sombria e fria, nunca achei que naquele rosto delicado e meigo veria aquela expressão. -Eu o matei, peguei a primeira coisa que encontrei no chão, foi um pedra e bati, várias e várias vezes em seu rosto. -Um fina lágrima escapa de seus olhos a qual ela limpa rapidamente. -E sabe o que me deixa mais perdida, eu não me arrependo, não me arrependo de ter feito isso para me salvar e faria novamente.

-Você não tem que se arrepender, olhe minhas mãos. -Digo pois sabia que ela não havia observado atentamente as cicatrizes ou não havia dado atenção a elas, o que não acreditava pois elas eram visíveis e horríveis. -Está vendo? Meus irmãos que fizeram, sou filho bastardo, me tiraram da minha mãe e me deixaram em uma cela por anos, como se eu fosse um animal, só tinha permissão de ver minha mãe uma vez por dia e por poucas horas, não me deixavam treinar e nem voar. -Me machucava ainda as lembranças, me doía guardar aquilo para mim, mas eu sabia que Lilian precisava saber que não está sozinha, ela precisava de um gesto de confiança. -Um dia eles decidiram testar meus poderes de cura, tocaram óleo e atearam fogo logo em seguida, alguns homens me resgataram pois eu gritava alto demais mas não foi o suficiente para evitar isso, eu me vinguei Lilian, depois de anos mais me vinguei e não foi bonito. -Ela pega minhas duas mãos observando as cicatrizes, seus dedos traçam caminhos por elas e então ela enroscou seus dedos aos meus, dobrando nossas mãos e as puxando em direção ao seu coração.

-Obrigada por dividir isso comigo Azriel.

-Você não está sozinha aqui Lilian, se precisar de um amigo poderá sempre contar comigo.

-E eu fico imensamente feliz por isso. -Prendo levemente a respiração quando ela se envolve em mim, num abraço minhas sombras são as primeiras a retribuir o gesto, ela é tão pequena que consigo apoiar meu queixo em sua cabeça. -Nunca tive muitos amigos.

-Agora você tem, vamos Rita's no aguarda.