Olá,
hoje é dia de tia Cris, bebê...
Boa leitura
-------------------------------------
TIA CRIS
Tive três gestações, uma delas gemelar.
Quatro filhos e alguns anos de muitas trocas de fraldas, noites mal dormidas, idas ao pediatra, brinquedos espalhados pela casa. A pia da cozinha vivia cheia de mamadeiras, copos, pratos e talheres de plásticos coloridos, sempre com o logotipo de super-heróis, princesas ou outro personagem infantil do momento.
Eu andava com os quatro para cima e para baixo. Eles eram a minha turminha, companheirinhos que não me davam um minuto sequer de descanso. Foi exaustivo, nunca poderei negar isso, mas eu seria capaz de reviver tudo de novo. Tudo mesmo! Pois foi uma época muito feliz.
E verdade seja dita: eu morria de saudades de ter um bebê em casa!
Por essa razão que eu contava os minutos de ver Helena. Com todas as coisas em ordem para recebê-la, comecei a andar de um lado para o outro abanando minha camisa devido a onda de calor que subitamente tomou conta do meu corpo. Os sintomas da pós-menopausa resolveram fazer companhia a minha inquietação. Mas eu não era a única a vivenciar tal sentimento de ansiedade. Karen não via a hora de conhecer pessoalmente a caçula da família.
Um pouco mais silenciosa que o normal, Anelise nos acompanhava na espera. Ela se encontrava sentada numa das poltronas da sala e enrolada num roupão felpudo. Apesar de estar maquiada, tinha dúvidas se compareceria ou não a festa de André.
Quando a campainha tocou, vi minhas filhas sorrirem. Imediatamente avancei em direção a porta. Entretanto, antes que eu pudesse abri-la, Hans já a destrancava com sua própria chave.
Na companhia de Helena bem acomodada em seu colo, ele deu passagem para que Heloísa pudesse entrar primeiro com o carrinho.
– Ai meu Deus! Olha quem veio ficar comigo! – fui ao encontro deles. Assim que tomei a bebê em meus braços, pude sentir seu cheirinho gostoso. Tinha apenas três dias que eu não a via, mas ela parecia maior. – Como você cresceu, minha princesinha! O leitinho dessa mamãe é dos bons, hein?
– Pois é, tia. Acredito que sim. – A voz de troça de Helô me chamou a atenção. – Meu leite anda bastante requisitado nos últimos dias.
Terminou de falar e sorriu para Hans que, de bate-pronto, piscou para ela enquanto colocava a bolsa da bebê dentro do moisés.
Foi difícil não arregalar os olhos e impedir que minha mente pensasse demais sobre o que eu tinha acabado de ouvir.
– Bem... – pigarreei sem jeito. – ...leite é rico em cálcio... – conduzindo-os ao ambiente onde ficavam os sofás, achei melhor mudar o assunto: – Mas veja só como minha sobrinha está linda! Uau! Você está um arraso, Heloísa!
– Obrigada, tia. Tô começando a acreditar que eu realmente caprichei no visual. Seu filho me elogiou seis vezes! Acredita numa coisa dessa?
– Mas não é possível! – fingi surpresa. – Conseguir um elogio dele já é uma raridade, imagina receber seis!
Hans tentou se manter sério, até franziu a testa, mas seus lábios ameaçaram um sorriso. A verdade era que meu filho estava visivelmente mais leve depois de assumir e viver sem culpa seu amor por Heloísa.
Foi então que, subitamente, nossa conversa foi interrompida. Karen veio em nossa direção abraçando o irmão e a prima ao mesmo tempo.
Ficamos todos em silêncio por alguns segundos. Foi uma imagem linda de assistir. Nos últimos anos, antes de Leandro falecer, Karen e Helô se aproximaram bastante. Eu nunca soube detalhadamente como foi que aconteceu, mas, numa certa época de suas vidas, as duas pareciam ter engrenado num tipo de parceria saudável, ou seja, uma amizade verdadeira e madura.