Capítulo 23 parte 1

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HELOÍSA

Voltei para o salão principal do restaurante atordoada. Assim que dei as costas para Judah, minha firmeza foi se esmorecendo a cada passo.

Não dava para lidar com esse imbróglio sozinha. Mesmo que ainda faltasse muito para compreender, eu chegaria ao pleno conhecimento de toda a história na companhia e no apoio daqueles que me amavam.

A poucos metros da mesa, Hans e eu trocamos olhares. Ele percebeu que havia algo errado, principalmente quando parei bastante próxima a ele e Helena.

– Me leva daqui. – Sussurrei, sentido a sequidão arranhar minha garganta. A bravura diante do inimigo tinha dado espaço a temores e incertezas. – Quero ir embora, Hans.

Quase pedi para que nos levasse ao seu apartamento, pois foi onde desejei que nossa bebê e eu estivéssemos; debaixo da sua superproteção. Não que eu fosse uma acomodada às dependências que me ofereciam desde o dia em que acordei sem memória. Mas uma mãe é capaz de se submeter a muitas coisas pelo filho. Naquela altura, me submeter a Hans era o certo a se fazer. Estávamos na melhor fase do nosso relacionamento, éramos parceiros, logo, seria para ele que eu contaria o que tinha acabado de acontecer.

– Judah, meu querido! – pela visão periférica, vi Mônica se levantar. Dei uma breve mirada em sua direção a tempo de notar seu sorriso entusiasmado. Voltei-me a Hans, que já se encontrava de pé, com punhos cerrados, respiração alta e olhar por cima da minha cabeça. – Que bom que conseguiu chegar aqui a tempo!

– O ensaio com as cordas terminou cedo. – A voz do verme maldito soou tranquila. Um hipócrita profissional. – Não tive dificuldades; safra boa de músicos.

– Oh sim, notei isso hoje mais cedo no ensaio geral. Bem, nós já almoçamos, mas pediremos a sobremesa...

– Não quero estar aqui – cochichei em súplica.

– O que ele te fez? – os olhos de Hans desceram para meus braços que, provavelmente, estavam marcados pelos dedos de Judah.

Enquanto isso, a conversa ao lado sobressaía.

– Não se constranja. Você, meu amigo, é mais do que bem-vindo para se juntar a nós. – Minha mãe agia com gentiliza verdadeira. – Mas antes de sentar, conheça a minha neta...

– Não! – gritei, virando de frente para eles. – Quero a minha filha longe deste homem!

– Heloísa! – Mônica, boquiaberta, elevou uma mão na altura do peito.

Pouco me importei com seu assombro. Subitamente, voltei a ficar perante Hans, me encurvando para tirar Helena do carrinho.

– Ele disse coisas ruins... depreciações... – falei rápido e acomodei a bebê em pé, apoiando-a em meu peito e na altura do estômago, com meus braços envoltos em suas costas – ... fez ameaças sem sentido...

– Judah, desculpa. – Ouvi a voz perplexa da minha mãe. – A Heloísa não anda muito...

– Cala a boca! – gritei ainda mais alto e Helena começou a choramingar. – Não diga nada sobre mim, Mônica! – rugi como um leão sem me incomodar com a hierarquia familiar. – Nunca mais diga nada da minha vida a este nefasto!

Nesse meio-tempo, Hans já estava segurando Judah pela gola da camisa polo e atirando-o com força ao chão.

– Meu Deus, o que está acontecendo? – escutei minha mãe perguntar.

– Uma surra bem-merecida, Mônica. – Só então percebi Jeanine ao nosso lado a apreciar Hans partindo para cima do infeliz sem um pingo de piedade.

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