Capítulo 33 parte 1

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HELOÍSA

Formar antes do tempo não teve graça. A colação de grau foi informal; nada de discursos, becas e paraninfos. Mas, com minha urgência devidamente justificada, meu mestrado no exterior estava mais do que garantido.

Viktor não queria que minha conquista do diploma passasse em branco. Por isso, insistiu que comemorássemos de algum jeito. Bastava eu dizer como gostaria de me divertir e Vik correria atrás. O problema era que eu não sabia o que queria. Talvez a maioria dos jovens urbanos optariam por libertar o restante de energia depois de tanta peleja. Uma noite dançando, bebendo, falando com estranhos e saindo um pouco fora do mundinho cotidiano aliviaria as tensões da mente, mas tudo isso soava tão ultrapassado... Andar a esmo no Baixo Augusta? Encontrar uma baladinha furreca e terminar a noite num barzinho copo sujo? Não, eu não estava a fim de ir à um espaço tão democrático. Essa coisa de curtição, suor e fumaça de cigarro não me atraía nem um pouco.

Eu era rica, acostumada com alto padrão de conforto e limpeza. Além disso, eu tinha enfrentado um semestre tumultuado! Por Deus, eu estava cansada! Eu merecia um bom restaurante, uma boa comida e estar rodeada de pessoas agradáveis (e bonitas)!

Concordei que ir a um rooftop* seria o ideal para a noite de comemoração. Vik escolheu um lugar com excelente gastronomia franco-italiana, onde a vista em trezentos e sessenta graus de um dos pontos mais altos da cidade era incrível. No mais, quem quisesse estender a noite depois do jantar, era só descer um andar e curtir a boate.

Quanto a mim, eu queria só relaxar e finalmente beber vinho, já que doutor Armando tinha liberado uma taça.

– Vem logo, Helô! – Viktor gritou do andar de baixo. – A reserva só tem quinze minutos de tolerância.

– Já vai, já vai. – Ajeitei meu vestido cor de gelo enquanto andava até o topo da escada. Desci o primeiro degrau e logo avistei meu primo no hall, que sorria e sustentava um bigode ridículo. – Prince? Você ficou loiro?

Sorrindo, ele balançou a cabeça de um lado para o outro e disse:

– Que isso! Estou a cara do Vito Corleone!

– Ahhh. – Expressei-me com sarcasmo. – Até que ficou parecido.

Quando eu estava nos últimos degraus, ele estendeu sua mão e eu a segurei. Assim que alcancei o piso do hall, ele ergueu nossos braços para alto e me fez dar uma voltinha em meu próprio eixo.

– Uau! gatona! – o vestido de cintura marcada tinha uma saia meio godê, que batia na metade das minhas coxas, mas, como o tecido era pesado, Vik teve que me girar uma segunda vez para causar o efeito esvoaçante desejado. Em seguida, ele nos posicionou frente a frente e, dando um passo para trás, conferiu meu visual da cabeça aos pés. Depois dos pés até meus olhos e dizer. – Caramba! Vou ter que te olhar apenas do pescoço para cima a noite inteira!

Dei um tapa no seu braço já tendo noção do que ele se referia; o decote quadrado com alças grossas estufava meus seios de forma generosa.

– É. Sei que tenho peitões e, ao invés de ficar reclamando do tamanho, uso eles em meu favor. Puta ma non tanto, hai capito?* – gesticulei para dar ênfase ao meu italiano.

Ele gargalhou alto e me abraçou de lado.

– Amo andar com gente bonita e inteligente! Sair com você dá muito orgulho, baixinha! – falou, nos conduzindo a saída.

– Ok, seu taradão bigodudo. Mas mantenha seu olhar focado só no meu rosto, per favore, Don Viktor Corleone.

Enquanto andávamos, peguei meu sobretudo de alfaiataria que estava sobre um aparador de flores. Meu primo me deu passagem e saí para fora vestindo o casaco, porém, ao levantar a cabeça, vi o carro de Hans estacionado.

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