Capítulo 10 parte 2

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Olá,
O vídeo acima são sons de água descendo em um riacho. Uma dica é ler ouvindo esses sons para vocês se sentirem dentro da cena. ;)

Boa leitura
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(Ainda dentro das memórias de Helô)

HELOÍSA

– Acho que sou careta. – falei reflexiva.

Assim que cheguei no riacho, não me intimidei com as águas geladas e mergulhei de uma vez. Voltei a superfície arrepiada de frio, contudo, mais calma.

Agora eu me encontrava semideitada e com os cotovelos apoiados para trás no chão de pedras. A corrente de água passava pelo meu corpo enquanto eu avistava os raios solares que se arriscavam a atravessar aquela mata fechada.

– Por quê? – Karen, que estava em posição semelhante à minha, perguntou.

Pra começar não acredito em horóscopo. Simplesmente não consigo.

– E isso faz alguém ser careta?

– Parece que sim. E pra complicar, não basta saber só o nosso signo, tem que saber também o ascendente, a casa, lua, planeta, galáxia, descendente... – suspirei. – E tem mais! Meus colegas de faculdade se não são veganos, cultivam temperos em pequenos vasos nas varandas de seus apartamentos. A galera curte fazer ioga e beber cerveja artesanal. Eu não faço nada dessas coisas.

– Se você tá se achando careta, faça uma tatuagem bacana.

– Aí que . – Endireitei a coluna para me sentar em pose de índio. – Se eu enjoo de ver o mesmo quadro na parede, como posso fazer um desenho em meu corpo que vai ficar para sempre?

– Ué? Remoção a laser.

– Deve doer pra caramba, né?

– Acredito que sim. Ainda bem que não me arrependi das tatuagens que fiz.

A gêmea de Viktor levava um visual rebelde; havia passado a tesoura nas madeixas platinadas se desfazendo do chanel assimétrico. Ao chegar na fazenda, exibiu um pixie, ou seja, o famoso corte Joãozinho com um franjão caído na testa. Ela dizia ser mais prático manter os fios curtos devido a sua rotina agitada como médica intensivista. Mas era muito mais do que isso. Os coturnos, as jaquetas e as pulseiras de couro faziam parte do seu estilo. Assim como a cruz tatuada no tornozelo direito e a pequena margarida na região lombar.

– Você é naturalmente descolada, Karensita. Quando decidiu se casar com Leo, eu pensei: E agora? Ela vai virar mulher de pastor e vai abandonar a calça couro para vestir saia de tafetá nude!

Ela riu e falou:

– Deus me livre!

– Não vou negar quevocê mudou depois do casamento, mas mudou para melhor.

– Obrigada.

Apesar de minha prima ser oito anos mais velha do que eu, a diferença de idade se tornou irrelevante nos últimos anos. Naquela altura, já não existia atritos de gerações em nossa convivência. Estávamos cada vez mais amigas.

– O amor te faz muito bem, Karen. Eu queria viver algo semelhante. Por mais que eu sinta esse sentimento, eu não o compartilho com a naturalidade que deveria ser. Sempre tenho que lutar, o que torna tudo muito cansativo.

– Está falando de Hans, não é?

– Sim. – Suspirei e peguei uma pedrinha. – Ele... seu irmão... digo, eu insisti muito em nós e quando pensei ter conquistado algo conciso, tudo desandou.

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