Capítulo 7

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HELOÍSA


Estávamos no chão do meu closet.

Eu por cima, cavalgando sobre seu corpo. Meu vestido se resumia a um filete de pano embolado em minha cintura. Nosso ritmo era tão frenético que nem mesmo o sutiã impedia o chacoalhar violento dos meus seios.

Isso estava totalmente fora dos nossos planos para aquela sexta-feira. O combinado foi ir ao salão de beleza, depois dar uma rápida passada na minha casa, escolher uma roupa para o aniversário do André e voltar para o apartamento.

Mas as coisas desandaram. 

Tudo começou quando Hans me buscou na porta do estabelecimento. Dentro do carro, ele elogiou minhas unhas vermelhas e agiu indiferente às minhas madeixas alisadas por uma potente chapinha.

– E meu cabelo? Não vai falar nada?

– Está bonito, mas prefiro os cachos.

Não tive reação com sua resposta. É certo que eu deveria me arrumar para sentir bem comigo mesma e coisa e tal. Eu já conhecia esse discurso feminino de empoderamento. Inclusive, até achava bacana. Mas o ego, a indignação e o querer ser sempre aprovada mexiam com o meu emocional.

Eu tinha ficado mais de uma hora debaixo de um secador. Por vezes o vapor chegou a queimar meu couro cabeludo. Depois veio a maldita chapa, ou prancha, seja lá o nome correto dessa ferramenta que esquentou tudo de vez.

Eu não merecia ouvir "prefiro os cachos", era só ter parado no "Está bonito" e pronto! 

Meu visual não ficaria alisado para sempre. Fiz só para quebrar a mesmice e deixar mais prático para as próximas horas que teríamos pela frente: no aniversário e no hotel.

Contudo, não dava para levar tudo a ferro e fogo, pois, por outro lado, Hans expressou sua opinião. Além do mais, ele gostava do meu cabelo natural. Isso deveria ser contado como algo positivo, não é mesmo?

Que grande conflito! Eu queria pender para o lado lógico, ser equilibrada e elegantemente racional. Portando resolvi me calar. O melhor para se fazer era focar em outras coisas. 

Ao chegar em casa, me enfurnei no closet em busca de algo que coubesse em meu corpo. Hans não subiu para o meu quarto, preferiu ficar no jardim com Helena.

Eu tinha muitas roupas, mas a gestação inutilizou metade delas. A primeira tentativa foi algo básico; vestido preto com zíper nas costas. Resultado: meus peitos pulando para fora do decote, quadris espremidos e um caminhar robótico idêntico ao do C3PO.

À medida que os minutos passavam, a ansiedade aumentava ao ver a pilha de peças excluídas se amontoando no chão.

Até que encontrei um tubinho com estampa de oncinha. Estranhei. Meu guarda-roupa era composto por muitas peças, todas de altíssima qualidade. Havia diversos tipos de jeans, couros, tricôs, casacos, roupas esportivas, blazers, camisas de botões, t-shirts, inúmeras calças pretas, vestidos classudos, florais, ciganos, bufantes e fofinhos. Sendo assim, aquela peça de tecido fuleiro parecia tão perdida em meu armário quanto a Glória Pires comentando o Oscar.

Resolvi vesti-la. Por que não?

O resultado não foi tão desastroso como imaginei. Eu tinha atributos que favoreciam a vestimenta: pernas bonitas, bumbum durinho e cintura fina. Para arrematar o visual, coloquei a sandália mais alta que encontrei. Dei uma voltinha diante do espelho e ri com vontade. Obviamente não era o traje para aquela noite. A solução mais prática seria comprar uma roupa adequada ao meu novo corpo. Contudo seria divertido aparecer na casa de André e, posteriormente no hotel luxuoso, toda trabalhada em animal print e salto dez centímetros.

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