(ainda dentro das memória de Helô)
-----------------------------
– Entendi. Vou dar o fora daqui. – Escutei a voz risonha de André. – Quarenta minutos tá bom pra você?
– Uma hora. – A resposta de Hans foi dita com rapidez.
– Cara, até ontem você reclamou que estava muito tempo sem mulher. – André não conteve o deboche. – Agora me aparece todo borrado. Tem batom até na sua barriga! Pode confessar, o desespero bateu e você pegou uma travesti na rua?
Tive que tampar a minha boca para que a risada não escapasse. Na verdade, eu nem deveria estar achando graça da piadinha perigosa de um marmanjo nascido nos anos oitenta.
– Dá o fora daqui logo. – Hans rezingou.
– Ok. Só não demore mais que uma hora. – Escutei ele suspirar. – Preciso vestir um terno e pegar estrada para o Embu-Guaçu. Por que Pamela tinha de inventar de casar num lugar tão longe? – ali me lembrei que a doutora Mocreia se casaria naquele dia. Até onde eu sabia, André e Anelise faziam parte do time de padrinhos. – Tem certeza de que não irá ao casamento?
– Tenho. – Hans respondeu impaciente.
– Entendo. Meio que pega mal, né? Já que vocês já...
– Vai embora, André!
– Já tô indo. Acabei de chegar do plantão e nem posso descansar! O que não faço pelos amigos? Mas aproveita; transar vai te fazer bem. Você tem andado muito mal-humorado. – Resolvi entrar devagar na sala e vi André caminhar em direção a porta social. – Ah, no próximo fim de semana vai rolar festa no sítio. As meninas andaram perguntando por você. A última vez que você foi, ficou mais quieto que o normal e foi embora cedo. – Ouvindo isso, meu sangue começou a ferver, pois eu sabia da fama das festinhas no sítio de André. O cara curtia orgias extravagantes e adorava arrastar os amigos para essa merda. – Vê se dessa vez pegue alguém, melhor ainda, pegue duas ou três de uma vez. Quem sabe você melhora essa sua cara de bunda.
– Que festa é essa? – dei mais um passo e me fiz ser vista.
– Helô? – André me olhou de cima a baixo, surpreso ao me ver descabelada e enrolada num lençol.
– Que tipo de festa é essa, André? – perguntei de novo, pendendo a cabeça para o lado e com as sobrancelhas levantadas. – Quem são essas MENINAS? Enfermeiras? Recepcionistas? Ou Prostitutas?
– De tudo um pouco. – Respondeu sincero e ainda abalado com minha aparição.
– E jornalistas? Tem alguma jornalista?
– Não.
Então, provoquei:
– Hum, serei bem-vinda se aparecer no seu sítio? – sorri com uma máscara de confiança. Eu tinha plena noção de que estava pisando num território perigoso, mas eu queria alfinetar aqueles dois.
André lançou uma olhada assustada para Hans, como se buscasse o consentimento do amigo.
– Que lance é esse entre vocês, Schmeichel? Isso é recente?
– Não venha com uma pergunta pra abafar a minha. – Falei um pouco mais firme.
Mas, mesmo assim, André continuou boquiaberto, encarando o amigo em busca de alguma explicação. Depois de um segundo de reflexão, sua face se iluminou como se finalmente entendesse que minha paixão por Hans tinha deixado de ser platônica há muito tempo.
É, André, seu amigo caiu nas minhas graças...
– Agora entendi tudo. Vocês dois...
– Não entendeu nada! – interrompi séria, porém dei um meio sorriso sínico e reformulei o que tinha falado com Hans no dia anterior. — Relaxa, André, isso é só uma ficada de primos. Com licença.
![](https://img.wattpad.com/cover/233729424-288-k709131.jpg)