Sin Esperanza

Dos.

Aquele era apenas seu segundo dia de aula no colégio de riquinhos branquelos - como Nicha, uma de suas melhores amigas, o nomeou - e Soojin estava muito mais do que atrasada. Ela poderia culpar Yuqi por tê-la monopolizado por grande parte da noite de ontem, falando sobre seu relacionamento com Soyeon e bebendo até tarde da noite.

Mas a verdade é que Soojin reconhecia a responsabilidade por seus atos. Havia aceitado - mesmo que escondido de seus pais - sentar-se no parapeito de sua janela juntamente de Yuqi, enquanto ambas bebiam mojito, pois era a bebida favorita de Soojin, e falavam sobre o relacionamento perfeito que sua amiga chinesa possuía com Soyeon, sua outra amiga.

Eram um grupo interessante de cinco garotas, sendo todas elas de descendência asiática. Em sua antiga escola, costumavam dizer que ninguém era aceito em seu grupo e que as cinco eram quase que inseparáveis, o quê na verdade não era nenhuma mentira.

Soojin sofreu um preconceito e tanto enquanto morava em Cuba com seus pais, justamente por sempre ser a única garotinha asiática de sua classe. Ao vir para os Estados Unidos, o preconceito não diminuiu, muito pelo contrário. Mas quando as cinco se encontraram, era quase como se tivessem um pouco mais de voz. Elas juntavam forças e não deixavam-se abater pelos comentários de preconceitos, embora fossem muitos.

Seu grupo era composto por Miyeon, Minnie, Soyeon e por Yuqi. Todas em um relacionamento, para a grande infelicidade de Soojin. Era difícil ter de lidar com o romance brega que era ter de assistir suas amigas juntas todos os dias, mas bem no fundo, gostava e aproveitava o fato de ser a única solteira do grupo.

Embora Soojin não fosse muito sociável com outras pessoas, ainda existiam suas grandes excessões como Dandara e Carlos.

Dandara era sua amiga com alguns benefícios a mais. Estudaram juntas na antiga escola e por mais que a garota de castanhos brilhantes fosse completamente apaixonada por Soojin, a coreana apenas tinha um sentimento forte de amizade para com a mesma. Dandara é mexicana americana e por isso conseguiram se entender tão bem desde o começo, sendo assim sua primeira e única experiência com garotas.

Soojin sempre soube que gostava de garotas, isso nunca foi um segredo, nem mesmo de sua família. Então, quando, na primeira oportunidade em que sentiu uma conexão a mais com uma garota, não hesitou em investir.

Já Carlos era um colombiano alto, robusto e muito gentil. Era um dos únicos homens - com a excessão de seu pai, irmão mais novo e avô - que não odiava completamente. Se conheceram quando, em uma de suas idas na oficina de seu pai, se deparou com o garoto de sorriso brincalhão enquanto esperava pelo conserto de seu carro. De ínicio, ao descobrir que Carlos faz parte de uma das gangues da zona norte, sua mãe fez de tudo para que não ficassem perto um do outro pois temia que Soojin se juntasse à eles. Mas fora completamente falho.

Em pouco tempo, começaram a sair juntos, Carlos frequentava sua casa e ela a dele. A amizade dos dois surgiu de forma tão inesperada, que por algum curto tempo, seu pai até mesmo imaginou que ambos estivessem se apaixonando. O quê não era, de maneira alguma, verdade.

Carlos via Soojin como uma irmã mais nova e Soojin o amava como melhor amigo, nada mais.

- Bom dia! - ela saudou com um sorriso fechado ao chegar na recepção da diretoria. - Cheguei atrasada e gostaria de meu visto para entrar na sala.

A mulher com os fios vermelhos levantou o olhar por cima do óculos e encarou Soojin com uma carranca no rosto.

- Sente-se e espere. - ela disse, a voz saindo um pouco mais rude do que o esperado. - As coisas estão um pouco agitadas por aqui hoje.

Soojin apenas suspirou e balançou a cabeça. Não disse uma só palavra e fez seu caminho para as cadeiras de madeira que ficavam na recepção da diretoria. Encostou a cabeça na parede e fechou os olhos com calma.