Doce.

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Soojin encarava a parede de tons pastéis como se fosse a coisa mais interessante para ela naquele momento. Ouvia o digitar soando pelas teclas do notebook de Carlos, mas não ousou levantar a cabeça para saber o quê o melhor amigo fazia. Ao contrário do que deveria ser feito, Soojin se encolheu um pouco mais em cima dos lençóis azuis e agarrou o ursinho de pelúcia que havia dado a Carlos.

O colombiano sabia que algo estava acontecendo com a garota porquê a latina estava muito mais quieta do que o normal e, desde que chegara, não fez questão em perguntar como o garoto estava, o quê era estranho. Virou a cadeira com cuidado e passou o olhar pelo corpo de Soojin todo encolhido em cima da cama enquanto abraçava o pequeno ursinho de pelúcia.

Ficou surpreso ao ver que, pela primeira vez desde que a latina havia finalmente decidido terminar suas tatuagens pelo braço inteiro, estava usando uma blusa de alça, sem jaquetas ou casacos por cima. Carlos levantou a sobrancelha e limpou a garganta, percebendo logo em seguida o estado em que Soojin se encontrava.

Quando observou que a latina nem ao menos havia se dado conta de que ele a olhava, esticou a mão e deu um leve tapa nas coxas grossas da mesma, fazendo-a sobressaltar sobre cama e arregalar os olhos.

- O quê tá pegando? - ele decidiu perguntar. Soojin levantou o rosto e olhou para Carlos, balançando a cabeça em negação e voltando a se deitar novamente.

Carlos respirou fundo antes de fechar o notebook e se levantar da cadeira, deitando-se ao lado de Soojin. Era desconfortável, visto que a cama do garoto era de solteiro, mas não os incomodava o fato de estarem assim tão perto. Ele não a via com outros olhos que não fosse Soojin, sua pequena irmãzinha de outra mãe, e ela sabia disso. Dado a esse fato, sentia-se completamente confortável em estar na presença do mais velho.

Carlos levou a mão calejada para o rosto delicado de Soojin, onde alguns fios grossos de seu cabelo caía sobre seu olho. Se substituísse os olhos castanhos felinos de Soojin, quase cinzas, por um verde escuro e os cabelos completamente pretos mais a jaqueta de couro da mesma gangue que usava, conseguia ver Dandara ali.

Tinham o mesmo jeito despojado de encarar a vida. A mesma forma sarcástica de responder aos outros, e por fim, o mesmo problema em serem tão cabeça duras. Se não fosse pelo fato de Carlos a ver como sua pequena irmãzinha, poderia de fato se apaixonar facilmente por ela. Bem assim como foi com Dandara. Rápido, certeiro e doloroso.

Virou de barriga para cima, acompanhando Soojin no processo. Agora, ambos encaravam a parede em tons pastéis de seu quarto com visível interesse. O silêncio era capaz de encobrir muitas coisas, principalmente quando se tratava de sentimentos recém descobertos.

- Você tem aí? - Soojin não olhou para Carlos quando perguntou. Costumava fumar maconha desde muito antes de conhecer o garoto, então seu pai estava ciente de que Carlos não fora o responsável em levá-la para um mal caminho. Na verdade, por mais que seja doloroso admitir isso, Soojin havia feito por si mesma. Ela não precisava de ninguém para afundá-la em sua própria merda.

- Não. - respondeu baixo.

- Nem cigarro normal? - insistiu.

Carlos colocou os braços acima da cabeça e respirou fundo.

- Nada leve. Mas consegui uma parada nova com Max. - confessou, ainda não olhando para Soojin. - Mas não quero que você use, porquê nem mesmo eu estou nisso.

Soojin assentiu.

- Coca?

Quando Carlos não respondeu, Soojin soube que era alguma droga muito mais forte que aquela. Não se intrometia no trabalho do melhor amigo. Sabia que Carlos fazia venda de drogas ilegais para Alejandro, assim como Dandara, então nunca tentou mudar a cabeça do garoto para isto. Além do mais, Soojin tinha consciência de que Carlos apenas havia se metido nisso pois precisava de dinheiro para pagar o tratamento de sua avó, não o julgava.

Sin EsperanzaOnde histórias criam vida. Descubra agora