Eu tinha cinco anos quando fui obrigada a participar do meu primeiro concurso de beleza. O quê posso dizer da experiência? Nada mais do que o óbvio, foi traumatizante para mim. No começo, quando minha mãe me levou, eu até me animava e gostava de estar lá, mas quando as competições começaram a se tomar algo relativamente pesado, se tornou um pesadelo para mim.
Os concursos de beleza, principalmente os infantis, são um mancho na autoestima de qualquer pessoa. E, juntando o fato de que minha mãe era sempre muito rígida, acho que isso apenas ajudou com que eu me afundasse em meu próprio caos. Coisas assim não deveriam existir quando se é criança.
Eu me lembro, na época, que tudo o quê eu mais queria era ser uma garotinha normal. Não podia sair para brincar com as outras crianças, não podia comer coisas gordurosas ou doces. Minha única amiga era Alyssa, porquê todas as outras crianças me achavam esnobe e estranha.
Beirando meus sete anos de idade, desenvolvi fantosmia, que consiste em uma condição que faz com você sinta odores que não estão realmente lá. Foi bem nessa época que comecei a diminuir minhas refeições. Era coisa de tomar café da manhã e não almoçar por isso, ou então cortar o café da tarde e a janta por ter comido a mais no almoço. Até conseguir ficar dois, três, cinco dias sem ingerir nada. Nada além de água.
Quando meu médico me diagnosticou com fantosmia, me lembro de finalmente entender o porquê de sentir cheiro de comida em outras pessoas, mesmo que não estivesse lá. Lupe disse que aquilo acontecia porquê eu não comia nada, nunca, e tentava substituir o gosto da comida em meu paladar pelo cheiro nas outras pessoas. Era insano pensar assim. Mas, se você presta um pouco de atenção na situação que me envolve, não parece assim tão insano. Nem mesmo por um minuto.
Ah, sim. Fora Lupe que tomara o partido de me levar ao hospital. Meus pais não se importavam muito. Se eu estivesse com boas notas e participando dos concursos de beleza, honrando o nome da família, então tudo estava muito bem para eles.
Eu não tenho um disturbio alimentar! Não gosto que encarem meu... pequeno problema, dessa forma. Eu só... só tenho uma dificuldade maior para me alimentar do que as outras pessoas. Gosto de comer, eu realmente gosto! Mas me afeta. Me deixa doente e magoada comigo mesma quando faço isso.
Não foi nenhuma surpresa para mim quando cheguei em casa depois de voltar dos estudos na casa de Soojin e comi tudo o quê achei pela frente. Era sempre assim, na verdade. Quando eu conseguia comer, vinha a euforia, a intensidade e o desejo. Depois de comer tudo o quê eu aguentava, a culpa. E então, tirei tudo de mim como se não houvesse amanhã.
Meu corpo está sendo sustentado apenas por água e as vezes sinto que posso cair a qualquer momento. Mas quem liga? Com certeza não eu. É a verdade. Nua e crua.
- Ele é tão lindo!
- Sim, um fofo!
- Totalmente! Acho que Shuhua tem muita sorte de tê-lo como namorado.
Girei meu rosto, despertando-me de meus pensamentos ao ouvir as vozes do meu lado. Olho para frente novamente encontrando os garotos do time de futebol correndo sem camisa de um lado para o outro.
Quando escuto os suspiros das garotas do time ao meu lado, tenho vontade de enfiar minha cabeça no buraco. Em minha defesa, eu já tentei me interessar por garotos, bem assim. Mas, eu não sei, apenas nao parece.... certo?
É um inferno ter que ver esses caras correndo para lá e para cá completamente suados enquanto mostram seus tanquinhos e escuto as garotas suspirando como se fossem algum tipo de deus. Não é legal, não é confortável e definitivamente, não me atraí. Mas tenho que estar aqui. Treinador havia marcado um treino com as garotas bem na quarta feira e, muito infelizmente, tínhamos que esperar os garotos para podermos usar a quadra.
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Sin Esperanza
FanfictionA Skyline Highschool é um conceituado colégio que apenas aceita alunos de altas condições financeiras, dispensando qualquer tipo de estudante baixa renda. Shuhua está entre eles, cursando seu último ano do ensino médio, sua vida vai muito bem, obrig...