Veintiseis.

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Soojin batia os dedos indicadores no volante da caminhonete com certa apreensão ao que encarava a estrada completamente escura e vazia. Havia saído na calada da noite, juntou suas coisas e deixou um mero bilhete explicando para seus pais que a partir daquele ponto ela não seria mais um problema para ambos, iria viver ao lado de sua garota sem mais preocupações.

Sabia que fora uma decisão ingrata escolher despedir de seus pais por uma carta, algo tão pouco visto que ambos mereciam grandes coisas. Mas não podia arriscar. Soojin sabia que, caso contasse sua decisão, nenhum dos dois aprovaria aquilo, mesmo que gostassem de Shuhua de uma forma especial. Não havia como voltar atrás nem mesmo se quisesse, já estava feito.

Em relação a suas amigas e Carlos... Bem, Soojin pensou que poderia muito bem mandar uma mensagem, ou uma ligação, avisando sobre tudo muito rapidamente. Ela só precisava se estabelecer com Shuhua, primeiramente. E então, só depois disto iria dar satisfações para terceiros.

Não queria que fosse necessário chegar em um ponto tão precário como aquele, lamentava-se profundamente por ter de deixar sua família e amigos, mas reconhecia que não haveria outro jeito. Poderiam voltar mais tarde.... Quando estivessem com idade suficiente para não serem controladas pelos pais de Shuhua, quando conseguissem um emprego que lhes servisse uma boa condição financeira.

Tudo vai dar certo, tem que dar certo. Era o que repetia a si mesma desde que estacionara a caminhonete velha no final da cidade, esperando por Alyssa com Shuhua.

Quando o farol do carro do pai de Alyssa iluminou completamente a rua escura e os pensamentos confusos de Soojin, a garota inflou as bochechas e tomou uma longa respiração antes de sair da caminhonete.

Caminhou cuidadosamente até o carro recém estacionado e sorriu abertamente ao ver Shuhua saindo do mesmo com um leve vestido branco, correndo para seus braços como se ela fosse seu mais novo porto seguro.

E realmente era, não havia porquê tentar esconder um fato já aceitando por ambas.

- Eu estou aqui agora, estou aqui. - sussurrou baixinho para que apenas Soojin escutasse.

A latina soltou um suspiro aliviado, estava o segurando a noite toda a espera de sua amada. As coisas ficariam bem agora, contanto que estivessem juntas.

- Ninguém as viu saindo? - perguntou após se separar do abraço.

Shuhua negou rapidamente e Soojin sorriu, levando seu olhar para a figura de Alyssa um pouco atrás. Sentiu compaixão pela garota de mechas rosas ao ver sua expressão de sofrimento no rosto. Ela sabia dos sentimentos da americana por sua namorada e, mesmo assim, a garota não hesitou um só momento em ajudá-las naquela fuga irresponsável, nem mesmo sabendo que aquilo significava que nunca mais veria Shuhua.

- Ninguém nos viu, estavam todos dormindo quando saí. - disse Shuhua, fechando os olhos ao sentir a palma suave de Soojin acariciando seu rosto.

- Não fiz barulho, é impossível que tenham visto. - Alyssa resolveu se pronunciar finalmente, cruzando os braços para se proteger do frio.

Soojin assentiu, não querendo dizer mais nada, e segurou a cintura de Shuhua com as mãos firmes.

- Precisamos ir agora, antes que comecem a sentir nossa falta. Não podemos arriscar, meu amor. - disse com certo pesar.

Shuhua engoliu a saliva com dificuldade, concordando com Soojin no mesmo instante.

- Eu preciso.... - sua voz falhou. Soojin fez que sim, entendendo o que a garota queria dizer com aquele aceno de cabeça.

- Vou deixar vocês duas sozinhas para que possam se despedir. - disse suavemente. - Alyssa...

- Soojin... - a menina sorriu fraco.

Sin EsperanzaOnde histórias criam vida. Descubra agora