21. Por que está me pedindo isso?

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Me levanto da mesa, deixando um pouco da minha torta de maçã que Nora implorou para que eu comesse para eu não subir para o quarto e fazer desfeita a nossa visita, no prato. 

Durante a refeição, soube que Anthony era um paciente que minha mãe cuidou no hospital por diversos dias após ele ter sido espancado e desde então os dois se tornaram amigos. 

Ambos passaram a maior parte do jantar conversando agradavelmente sobre qualquer coisa que eu não estava prestando atenção, por estar concentrada demais no rosto do homem que tem semelhanças com alguém que não consigo me recordar. 

Às vezes ele perguntava algo para mim sobre como ia a escola ou revelava que minha mãe havia dito que eu era uma ótima líder de torcida e que iria adorar ir a um jogo no colégio para ver minha apresentação, e em resposta eu apenas sorria e confirmava com a cabeça, brincando com minha torta e evitando contato visual.

Já fazia quase sete anos que não se tinha um homem dentro da nossa casa. Era apenas eu e Nora.

E ela aparecendo com Anthony sem ao menos me avisar que o traria, foi um tanto que desconfortável para mim. Apesar de ambos dizerem serem apenas amigos. 

— Não vai mais comer? — aponta para a torta de maçã que estava pela metade. 

— Não eu... estou satisfeita. Vou para o meu quarto. — Pego o prato, colocando em cima da pia e guardando a cadeira em baixo da mesa. 

— Mas ainda são oito horas. — Suas sobrancelhas loiras se juntam em confusão. 

— Eu sei, mas estou cansada. Preciso dormir um pouco. — Minto, revezando o olhar entre ela e Anthony, que também me fita enquanto perfura sua torta. — Boa noite. — Forço um sorriso e me retiro da cozinha.

Pego minha bolsa sobre o sofá da sala e subo rapidamente para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim. 

Suspiro, apoiando as costas sobre a madeira e fechando os olhos por alguns instantes. 

Retiro meus tênis e jogo minha mochila sobre a cama, me guiando para o banheiro enquanto junto meus cabelos loiros em minhas mãos, fazendo um coque alto e desajeitado no topo da cabeça. 

Tranco a porta e retiro minha blusa, arremessando-a no cesto branco e pequeno ao lado do lavatório. 

Me olho no grande espelho acima da pia de mármore claro, observando meu sutiã preto de renda que tem um decote em V entre meus seios. Analiso minha cintura e me viro de lado, notando que minha barriga estava inflada. 

Passo as mãos no rosto e uma pontada de arrependimento surge em mim.

Não devia ter comido aquela pizza na casa do Preston, Audrey.

É caloria demais. Você é uma líder de torcida, precisa ser perfeita. 

Meu subconsciente pesa em minha cabeça com essas palavras. 

Fecho os olhos, cravando as unhas sobre as mechas amarradas do meu cabelo. 

Kenny ficará muito brava se você engordar.

Você é uma garota padrão, não pode ter defeitos. 

Droga. — Giro ao redor, coçando a testa nervosamente. 

Paro por alguns instantes, olhando para a tampa fechada do vaso sanitário e sentindo meus olhos pesarem devido ao pensamento que estala na minha cabeça de repente.

Eu preciso fazer isso. Comi calorias demais hoje. 

Ando até a privada, me ajoelhando a sua frente e levantando a tampa. Solto o ar, sentindo-o sair trêmulo da minha boca. 

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