31. Sentirei falta daqui

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Observo o prédio feito de tijolos laranjas e levemente descascados a minha frente.

Participar do grupo de apoio que Eliza indicou não era tão ruim assim.

Pelo menos espero que não seja.

Estava parada a quase cinco minutos na calçada, apenas analisando poucas pessoas adentrar o prédio.

Para ser sincera, não queria está aqui. No entanto, sabia que precisava participar de um círculo onde pessoas tinha os mesmos, ou até piores problemas do que o meu e sabia que de alguma forma eles me entenderiam.

Obrigo-me a subir os três degraus até a chegar à entrada e empurro a porta de vidro pesada.

Atento-me ao pequeno salão ao redor.

Grandes vidraças se estendiam aos dois lados da parede, iluminando o ambiente com a luz natural que vem lá de fora e um círculo de cadeiras de ferro já dava para ser visto dali.

A maior parte dos assentos já estavam ocupados e uma mulher negra de cabelos crespos, amarrados em um laço florido, conversa com os que estão próximos.

Mordo os lábios com força, constrangida por chegar supostamente atrasada, já que a reunião já havia começado. Dou alguns passos para trás e me viro, prestes a sair.

Talvez eu volte outro dia, mais cedo.

— Não precisa ir embora. — Uma voz feminina me faz parar bruscamente e olhar para trás. Era a mesma mulher que falava com o grupo antes. Ela sorri docemente para mim. — Começamos quase agora, pode se juntar a nós. — Aponta para uma cadeira vazia.

Acanho-me um pouco, devido aos diversos pares de olhos estarem voltados apenas a mim.

Apesar de ser sempre o centro das atenções na escola por ser uma líder de torcida e eu já ter me acostumado com isso, agora era diferente. Todos ali sabiam que eu havia ido até lá porque estava com problemas.

O que não era o caso quando estava em um campo de beisebol com pessoas me admirando e me achando a garota perfeita.

Passo mais alguns segundos imóvel próximo à porta, antes de caminhar calmamente até o grupo de pessoas que continuam a me olhar.

— Sente-se. — Indica a cadeira e assim faço, espremendo os lábios para o garoto loiro ao meu lado. — Como se chama?

— Audrey.

— Seja muito bem-vinda, Audrey.

Sorrio minimamente.

— Obrigada.

Olho para todos e me espanto ao me deparar com a garota de cabelos ruivos como o fogo que reconheço de longe, do outro lado da roda.

Candice usava calças de couro e coturnos lustrados, junto a uma blusa escura e uma jaqueta vermelha. Ela olha para mim, mas desvia a atenção rapidamente, como se estivesse constrangida ao me ver.

O que ela está fazendo aqui, em um grupo de apoio?

— Bom, quem é o próximo? — Olha para os mais variados rostos e para no garoto próximo a mim. — Henry? Quer falar alguma coisa? — O menino assente e começa.

Ele conta ser viciado em heroína há três anos, desde quando sua irmã faleceu e está participando do grupo há quase quatro meses e fazia exato um mês em que havia conseguido ficar complemente limpo.

— Parabéns, Henry. Estamos orgulhosos de você. — Sorri para ele, que retribui timidamente e se encolhe sobre a cadeira.

Mais pessoas contam sobre seus vícios em drogas, roubos pequenos e até em compras, gastando dinheiro compulsivamente em coisas desnecessárias e eu apenas as ouço, olhando distraidamente para minhas unhas pintadas em preto e branco.

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