Capítulo 1

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Já fazia seis meses que Sasuke tinha saído para sua viagem de "expiação de pecados". Naruto entendia. Sério, ele entendia. E apoiava. Mas seria mentira se dissesse que não estava decepcionado — tinha uma grande diferença entre o que ele imaginou que aconteceria e o que aconteceu de fato depois da 4ª Guerra Ninja. Nenhum dos cinquenta cenários que ele tinha elaborado em seu cérebro era compatível com o que aconteceu na realidade.

Naruto esperava que Sasuke voltasse de vez para Konoha depois da última batalha deles. Depois de Naruto vencer Sasuke. Mas a ausência do melhor amigo ali tornava impossível dizer que tinha sido uma vitória de fato. Parecia mais uma derrota. Na cabeça dele, o amigo iria voltar, por mais que, talvez, houvesse algumas dificuldades de adaptação — afinal, era Sasuke e, além disso, a vila merecia sua raiva. Talvez ele brigasse com o Conselho, ou acontecesse de fato um julgamento sobre seus crimes apesar de Tsunade ter o perdoado. Mas não foi o que aconteceu depois da luta.

Aliás, se Naruto não tivesse sua prótese no braço direito para servir como prova, ele poderia muito bem pensar que aquela batalha tinha sido um sonho, porque nada havia mudado. Sasuke ainda não estava ali e ele ainda sentia um incômodo no peito — o mesmo que esteve ali desde que Sasuke tinha ido embora com Orochimaru, há anos atrás.

A verdade é que, por mais que nada tivesse mudado e Naruto pudesse fingir que a luta tinha sido um delírio de sua mente danificada por perdas, a viagem atual de Sasuke o fez reviver emocionalmente aqueles dias de horror. De quando seu melhor amigo, colega de time e rival tinha deixado Konoha em busca de poder, sem sequer se importar com as consequências. De quando uma das primeiras pessoas que o aceitou e reconheceu tinha partido com o inimigo, depois de tudo que fizeram para protegê-lo.

E ele tinha feito aquilo conscientemente e de boa vontade, por mais que Naruto fingisse que não, na época. Sim, Sasuke tinha vários problemas e traumas que influenciaram diretamente nesta decisão, mas ainda assim ele era umas das pessoas mais conscientes que Naruto conhecia. Ele tinha capacidade de discernimento, mesmo que tivesse apenas 13 anos na época.

E agora Sasuke tinha deixado a vila novamente. Naruto sabia que não era nem de longe a mesma coisa, que era por um motivo totalmente válido que o faria crescer como pessoa, mas isso não mudava o fato de que ele tinha ido embora de novo. Os primeiros meses foram os piores, e era como se seu peito tivesse sido rasgado e exposto como da primeira vez. Mas com o tempo, a dor voltou a ser um pequeno incômodo na boca do estômago. Era até fácil lidar com isso — afinal, este sentimento pertenceu a ele por anos e já tinha sua morada em seu peito; era sutil, mas esteve ali diariamente.

Às vezes este incômodo aparecia com mais força, cutucava violentamente suas entranhas como se espancasse uma piñata e depois voltava ao seu lugar latente. Mas Naruto já tinha se acostumado, então ele apenas deixava este incômodo existir — não que ele pudesse simplesmente fazê-lo desaparecer, mas aceitá-lo tornava sua existência um pouco mais suportável.

Naruto sabia que era imaturo manter a esperança de que Sasuke iria voltar, mas este desejo sempre existiria enquanto ele não sentisse que tinha seu melhor amigo de volta de verdade. De volta ali, em Konoha, onde ele poderia voltar a conviver com Sasuke, poderia vê-lo diariamente como sempre, fazer missões com ele e treinar com ele no tempo livre. Como quando eram crianças.

Mas eles não eram mais crianças, e Naruto sabia disso. Ele tinha passado por todo o treinamento Sennin, lidado com o reflexo do seu eu verdadeiro na Cachoeira da Verdade, lutado na Guerra, vencido Kaguya e perdido pessoas. Ele era um dos Shinobis mais valiosos de Konoha e não tinha mais 13 anos, tinha 17. E ele era maduro o suficiente para entender e apoiar a viagem de Sasuke — que finalmente tinha se livrado da Maldição do Ódio e sido salvo. Ele estava livre, mesmo que não estivesse curado. E esse provavelmente era um dos motivos de sua jornada atual.

Faded Winter SunOnde histórias criam vida. Descubra agora