Capítulo 33

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Transtornado, sim, essa era a palavra — Sasuke estava completamente transtornado. Totalmente alheio a si, desequilibrado. Seus olhos tão desiguais tinham a mesma expressão de surpresa, e seu corpo... bem, seu corpo não parecia nem existir, porque ele não o sentia.

Sasuke teve uma amostra de como seria se ele sequer fosse real. Era parecido com o que ele tinha sentido enquanto esteve na prisão em Konoha, mas aquelas sensações foram construídas aos poucos, na época — essa só o atingiu como um soco no estômago e uma pancada forte na cabeça que separou sua mente por completo.

E não era nem como se tivesse controle sobre o que foi desencadeado, porque só... aconteceu. Aquilo veio. Ele sentiu. Ponto. Sem possibilidade de qualquer análise ou racionalização, ele só congelou e implodiu em silêncio enquanto assimilava, porque sequer conseguia pensar em alguma coisa tamanho o choque.

Mas não podia ser verdade, é claro que não. Ele estava imaginando coisas, ele só estava enlouquecido. Suas mãos trêmulas e frias, apesar do aquecedor ligado, perderam a força do aperto no livro, que só rolou para o chão em câmera lenta, caindo com um baque surdo no carpete. Ele nem percebeu.

Sua respiração parecia presa, mas não assimilou isso tampouco. Houve outro gemido. E outro. E mais outro, agora um pouco mais alto. E então o nome de Neji, que foi dito estremecidamente e sem controle algum, de forma quase animalesca, crua. O barulho abafado da cama protestando fez seu estômago torcer.

Não, aquele não era Naruto, não tinha como dizer, a voz estava distorcida. Sasuke tinha certeza que não era. Não podia ser. Não era ele que estava no quarto ao lado, fodendo com aquele Hyuuga desgraçado, era algum garoto de programa ou coisa parecida. Era Shikamaru. Era qualquer um, menos ele. Então novamente os sons ficaram um pouco mais altos — se Sasuke estivesse dormindo depois de algumas noites de insônia, talvez não notaria, mas ele estava muito bem acordado, obrigado.

E totalmente estarrecido. Mas não era Naruto, não tinha como ser. O nome dele não foi dito, então não era ele. Outro gemido rouco, agora mais claro do que os anteriores, se infiltraram pelas paredes e se enfiaram em seus ouvidos em uma voz ligeiramente familiar, rouca e profunda. Cheia de desejo, quente, necessitada, mas ainda familiar.

Sasuke só conseguiu correr e cair de joelhos no chão ladrilhado de frente para a privada quando seu corpo reagiu e a bile escalou por seu esôfago. E ele vomitou. E vomitou um pouco mais, como se todos os seus órgãos estivessem sendo cuspidos. Ele arquejou sem ar sufocado pelo vômito e colocou mais bile para fora, seus dedos apertando a louça fria como se dependesse daquilo para se manter no plano terreno.

Suas mãos tremiam enquanto ele colocava para fora tudo que tinha no estômago, e continuou tendo reflexos de vômito mesmo quando não tinha mais nada para sair. Pouco mais de meia hora se passou até seu estômago se acalmar, mas pelo menos seu colapso o impedia de ouvir mais gemidos de quem quer que fosse naquele quarto — e não era Naruto.

Sua garganta começou a arder pelo ácido e sua cabeça rodou mais um pouco. Sasuke se deixou rolar para o chão e tremeu com o frio dos ladrilhos cor de creme sob seus pés descalços e suas costas.

"Que porra tem de errado com você?", ele sussurrou para si enquanto engatinhava até a pia e se levantava com dificuldade, escorando nela.

Seu reflexo o encarou e ele nunca tinha visto aquela expressão em seu rosto — não conseguia sequer nomeá-la. A torneira abriu com um rangido e suas mãos se ergueram para jogar a água congelante na cara algumas vezes. Ele lavou a boca ainda meio entorpecido e puxou a toalha de rosto branca, mas a deixou cair assim que ouviu o barulho da porta do quarto abrindo.

Faded Winter SunOnde histórias criam vida. Descubra agora