Capítulo 5

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Um grunhido baixo se perdeu entre as paredes brancas manchadas do aposento e uma cabeça loira subiu no ar, um fio de baba conectando a fronha amarela e os lábios de Naruto, cujas pernas estavam metade para fora da cama.

Os movimentos espirais que o mundo inteiro bailava o fez tombar de novo em cima da poça de saliva no travesseiro, molhando a bochecha morena. Outro grunhido, dessa vez de nojo, escapou dele antes de rolar na cama para se afastar da baba e cair com um baque seco no chão de madeira clara.

Sua cabeça, que já estava infinitamente mais pesada do que o normal, deu uma fisgada dolorosa quando se chocou com o móvel de cabeceira e seu estômago revirou violentamente. Naruto tentou se levantar, mas como o chão parecia se mover sob seu corpo, ele se viu obrigado a engatinhar sem dignidade alguma para o banheiro, segurando a ânsia que chacoalhava as paredes de seu estômago.

Foi preciso parar alguns momentos e respirar fundo para não derramar pela casa tudo que tinha ingerido antes, mas a cabeça tombada para a frente ao tentar engatinhar vergonhosamente até a privada, dificultou. Conforme deslizava com as mãos nas tábuas de madeira, a ânsia o obrigou a escorar o ombro no batente da porta pintado de verde, arfando para o chão, e ele fez os últimos movimentos cambaleantes. Entretanto, o vômito veio sem aviso e se derramou em frente à privada.

Soltando uma exclamação indignada, o jovem deu a volta na poça nojenta e enfiou a cara no vaso para despejar o resto lá dentro. Seus dedos agarravam as bordas de louça como um bote salva-vidas. Maldita "amarela extra forte" ou o que quer que fosse o nome daquela merda; maldito Inuzuka, dog-boy dos infernos. Se Kiba desse as caras ali hoje, ele ia se ver do avesso.

Enquanto amaldiçoava o mundo mentalmente e praguejava por sequer cogitar confiar em qualquer coisa que viesse do amigo relacionado a festas e bebidas, Naruto ficou ali, colocando para fora tudo que tinha bebido ou comido na noite anterior. Não que ele se lembrasse de muita coisa — depois da conversa com Sakura e de uma troca de ideias amigável com Neji e Sai, a noite tinha sido um borrão caótico, principalmente porque Kiba não deixou seu copo esvaziar além da metade.

Ele sequer sabia quando a festa tinha acabado, se comeu bolo, cantou parabéns ou como tinha chegado em casa. Aliás, ele não sabia nem que horas eram agora, nem se sobreviveria à tontura em que se encontrava — era como se seu corpo estivesse realmente rodopiando no espaço desgovernadamente.

Naruto se perguntou se Kurama não deveria curar essas coisas também. A risada irônica da Raposa ecoou em sua cabeça, indicando que a Kyuubi estava ciente da situação.

"Bola de pêlos imprestável." resmungou ele para a porcelana, voltando a se inclinar sobre ela.

Naruto ficou pelo menos mais duas horas ali até conseguir acalmar seu estômago e parar de rodar o suficiente para firmar os dois pés no chão. Ele percebeu que sequer tinha tirado os sapatos quando foi dormir, muito menos trocado de roupa.

Um suspiro longo foi dado antes dele se escorar na pia, se endireitar e cambalear até a pequena lavanderia ao lado do banheiro para pegar um pano de chão. Arquejando pelo esforço de se agachar novamente, Naruto limpou a sujeira em frente à privada com dificuldade, enxaguou o pano, torceu e o pendurou.

Despindo-se de qualquer jeito, ele enfiou as roupas dentro do cesto, seu corpo se apoiando nas paredes azulejadas frias. Naruto entrou no chuveiro e se enfiou embaixo de um jato de água geladíssimo.

Ele ainda se sentia completamente fora de órbita, mas pelo menos agora conseguia ficar sobre os dois pés como um ser humano e um ninja decente, mesmo que precisasse do apoio da parede para tal proeza fantástica. Se Tsunade o visse daquele jeito, ela lhe daria um soco que com certeza faria Naruto ficar inconsciente no chão pelos próximos dois dias.

Faded Winter SunOnde histórias criam vida. Descubra agora