Capítulo 21

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Eles ficaram em silêncio por todo o tempo que levaram para voltar para o Complexo Uchiha. Sakura parecia mais perdida em pensamentos que o normal, nem reparando quando Naruto olhava por cima do ombro para checar o porquê do silêncio. Conforme chegavam mais perto da única casa acesa no fim do Distrito escuro, o estômago de Naruto foi ficando mais e mais apertado.

Ele não queria voltar para lá e ser confundido novamente por seu ex-companheiro de time, ainda mais depois do que Sakura tinha dito. Ele nunca se sentiu tão perdido antes. Quando pararam diante da porta, Sakura tocou a campainha — algo estranho, porque provavelmente a casa estava aberta — e esperou uns momentos.

Houve alguma movimentação e era provavelmente Sasuke descendo para colocá-los pra dentro, mas isso demorou mais do que o necessário. A porta então foi deslizada e Naruto teve o cuidado de não olhar na direção do outro enquanto Sakura entrava com ele, mas tudo tinha mudado por causa da conversa anterior. Mais uma vez ele sentia a presença de Sasuke pesando sobre si novamente.

Assim que adentrou o hall, sentiu um cheiro delicioso de comida no ar, e não o tipo que ele podia comer, provavelmente. Sakura, então, se dirigiu com ele para a sala, cuja luz estava apagada. Isso era estranho, porque Naruto não costumava ir ali. De fato, a única vez que tinha visto a parte de baixo da antiga casa dos Uchiha tinha sido naquele mesmo dia, porque ele nem saia do quarto. A mulher colocou a cadeira de frente para a entrada da sala e acendeu a luz.

Era um lugar muito bonito — tinha dois sofás fofos na cor mostarda, uma mesa de centro, uma televisão em cima de um móvel e um grande tapete todo desenhado, além de uma cristaleira e o que pareceu ser um aparador, mas os olhos de Naruto não chegavam ali. Entretanto, o que o surpreendeu é que, além do lugar estar impecavelmente limpo, havia uma enorme árvore de natal montada no canto da sala, cheia de presentes embaixo, e uma decoração na mesa de centro e em cada uma das enormes janelas, todas emolduradas com coisinhas de natal e guirlandas.

No momento em que Naruto abriu a boca para perguntar, houve uma explosão e pessoas surgiram de todos os lados gritando "Feliz Natal!". Ali estavam todos os seus amigos e, inclusive, Kakashi.

Ele encarou as pessoas que riam e então sorriu, pasmo. Sasuke aparentemente tinha aceitado fazer uma ceia de natal com todos os seus amigos, e isso era muito, muito, muito fora do leque de coisas que ele diria que o outro faria, ainda mais ali, na antiga casa de seus pais, o santuário da morte de seu clã.

Algo gelado caiu em seu estômago, uma mistura de felicidade com uma pontada de culpa, porque sabia que aquilo não estaria acontecendo se Sasuke não tivesse realmente concordado com a situação. E isso era impensável, porque o ex-colega de time não gostava de nenhum dos amigos de Naruto, odiava qualquer festa no mundo e, acima de tudo, odiava se sentir invadido.

Sakura o levou para perto do sofá enquanto as pessoas começavam a conversar e Sasuke surgiu diante dele vestindo sua capa preta de viagem, o que significava que ele tinha saído ou ia sair. Ele se inclinou sobre Naruto e o levantou no colo. Imediatamente, sentiu o cheiro impregnado em Sasuke — de mato com neve e de um leve almíscar de suor, bem parecido com o cheiro em suas lembranças, e isso trouxe antigas memórias felizes que aqueceram seu peito dolorosamente.

Virou o rosto para o lado e encarou Sasuke pela primeira vez em dias, mas o outro não olhava em seus olhos, então não percebeu. No momento em que o homem se virou para o sofá e ia se abaixando, Naruto passou a mão delicadamente pelos ombros dele, que por um segundo parou no meio do caminho e hesitou minimamente.

Sentiu Sasuke o apertar um pouco mais contra ele naquele ínfimo segundo antes de delicadamente colocá-lo no sofá fofo e extremamente confortável. Naruto demorou um pouco mais do que o necessário para soltá-lo, e enquanto o homem se colocava de pé, seus olhares se travaram, o azul no negro, intensos e carregados de várias coisas não ditas.

Faded Winter SunOnde histórias criam vida. Descubra agora