Naruto infelizmente estava acostumado a dor — física, mental e emocional —, e ela chegou ao seu ápice de aflição há dois anos. A verdade é que parecia que não ia passar e, principalmente, não poderia piorar, porque para ele, não ter a chance de ter seu melhor amigo ao seu lado era uma das piores coisas que podiam acontecer depois de tudo que passou para recuperá-lo.
Mas e quando você descobre que a pessoa pela qual você lutou durante anos já não existe mais? E quando uma das pessoas que você mais quer por perto te quebra por dentro, de novo e de novo, porque na verdade você nunca teve tanta importância assim para ela?
Se em algum momento alguém dissesse para Naruto que Sasuke poderia o machucar ainda mais, muito pior do que antes, ele nunca teria acreditado, porque jamais imaginou que poderia se sentir tão mal, tão desolado, tão miserável. Ele tentava respirar devagar e em silêncio, porque a última coisa que queria era que Sasuke soubesse o quão mal ele estava, mas o ar nunca pareceu ser tão insuficiente. Sua vontade era se encolher em uma bola e simplesmente desaparecer, mas seu corpo ferido o impossibilitava de sequer levantar.
Naruto sentiu a ânsia de vômito começar a se formar enquanto abafava seus soluços, e olhou para cima, tentando respirar fundo mais uma vez. Ele já nem sabia nomear as coisas que sentia, porque era uma profusão de dor e solidão que o fazia querer berrar, gritar e soluçar — a pessoa por quem ele lutou durante anos, por quem ele esperou, por quem chorou e sofreu, não existia mais.
Seu melhor amigo, o garoto de cabelos espetados e olhar mal humorado que se jogou na frente de agulhas mortais para protegê-lo tinha se perdido em algum ponto e dado lugar a uma pessoa que Naruto tinha visto em Sasuke há uns anos, mas preferiu atribuir aquilo tudo ao mau momento que o amigo vivia. Entretanto, em meio à sua jornada com Orochimaru, à morte do irmão e à descoberta da história de seu clã, Sasuke tinha deixado o resto de seu lado inocente sucumbir, destruindo qualquer resquício de leveza ali.
Realmente parecia tarde demais, e o que mais doía, era ver o rosto de quem poderia ser seu melhor amigo em uma pessoa tão fria e egoísta como aquele Sasuke, com quem ele convivia agora. Não era justo, e Naruto sentiu raiva, como se o homem que dormisse no quarto ao lado tivesse assassinado uma das pessoas mais importantes de sua vida.
Passou a mão trêmula pelos olhos com dificuldade apesar das fisgadas no braço e acalmou a mente, tentando adormecer em meio à confusão mental de dor e tristeza. Seu Sasuke, seu melhor amigo, talvez nunca tivesse existido. Talvez tudo tivesse sido criado por sua mente de criança solitária que, por estar abandonada e sozinha, se agarrou ao primeiro que teve oportunidade, enxergando coisas onde não havia. Ele era apenas um órfão, e Sasuke, seu Sasuke tinha sido apenas uma projeção, onde ele enxergava o que queria e jamais seria o suficiente, porque seu melhor amigo não existia.
Naruto, no fim, nunca tinha sido compreendido por alguém cuja dor era similar, porque eles, na verdade, não tinham nada em comum — Sasuke só o aturou por todos esses anos, e agora estava ali porque Naruto o obrigou a devê-lo a vida quando o salvou.
Ele não era seu amigo, era seu prisioneiro, uma pessoa que nunca teve o mínimo interesse nele e, na verdade, o odiava e só queria poder ir embora. Sasuke nunca existiu, e Naruto era só um idiota com problemas de abandono tentando se encontrar em outra pessoa, uma pessoa que facilmente o deixaria para morrer se pudesse, só para se ver livre.
De fato, se dependesse de Sasuke, Naruto teria ficado naquela câmara de tortura e o outro poderia ter até mesmo assisti-lo ser torturado; até talvez ajudado um pouco, pegando o chicote da mão daquela mulher e feito Naruto se transformar em uma massa de dor e sangue no chão, um corpo sem vida apunhalado pela pessoa que mais importava, por quem ele lutou e a quem protegeu sempre que podia...
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Faded Winter Sun
FanfictionJá fazia seis meses que Sasuke tinha saído para sua viagem de "expiação de pecados". Naruto entendia. Sério, ele entendia. E apoiava. Mas seria mentira se dissesse que não estava decepcionado - tinha uma grande diferença entre o que ele imaginou que...