Capítulo 19

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Morar com Naruto estava se tornando cada vez mais difícil — ao invés do silêncio entre eles facilitar as coisas, na verdade estava irritando Sasuke. E não só isso, porque o idiota também lhe lançava olhares de esguelha de puro rancor, como se nada do que ele estivesse fazendo fosse o suficiente. Quatro dias tinham se passado desde a conversa com Kakashi, Tsunade e Sakura, e Naruto estava se tornando cada vez mais taciturno, o que combinava bem mais com Sasuke, não com ele.

Pelo menos a raposa estava melhorando — parecia menos fraca e menos magra, o que era um pequeno alívio, apesar de ainda não ter acordado. Naruto também estava menos fraco e o apetite dele estava melhor.

Mas Sasuke não compreendia porque o homem estava tão irritado. Não tinha como ser apenas porque ele ia embora, aquilo era... mesquinho demais. Ele perguntou mais cedo se Naruto precisava de alguma coisa e ele secamente disse que queria usar as próprias roupas ao invés da bata de hospital. Potencialmente problemático, mas nada que não pudessem contornar, então agora estava no apartamento do idiota.

Ele cruzou a soleira da porta e tudo estava como ele se lembrava — a casa pequena e simples, as coisas meio puídas, o de sempre. Estava até razoavelmente arrumado e não cheirava estranho, o que já era alguma coisa. Sasuke caminhou pelo corredor e lançou um olhar para dentro do cesto de roupa que Naruto tinha citado, pescando tudo que tinha ali e colocando em uma sacola — um short preto, uma camiseta branca sem mangas, uma cueca que ele não se atreveu a tocar demais e uma blusa verde musgo.

Então entrou no quarto e olhou ao redor. As paredes eram meio manchadas, mas a cama estava feita e parecia limpa, e o guarda-roupa ao lado dela estava entreaberto. Foi até lá e viu fileiras de camisas coloridas de botão, as quais não deu importância, mas embaixo delas tinham mais camisetas de algodão dobradas. Ele selecionou todas as que não tinham mangas, portanto seriam mais fáceis de vestir em Naruto, e estava fechando o guarda-roupa quando pensou ter visto seu nome em algum lugar.

Sasuke parou no meio do ato e abriu a porta novamente, checando. Dentro de uma caixa de sapatos muito velha tinha uma quantidade enorme de envelopes de cartas sem lacre, e todas elas tinham seu nome rabiscado na frente. Ele hesitou por um momento e franziu o cenho, confuso, mas então sua curiosidade falou mais alto — as cartas estavam endereçadas a ele e obviamente nunca foram enviadas, mas ainda assim eram para ele. Sasuke juntou os lábios por um segundo e pescou a que estava em cima da pilha sem tirar a caixa do lugar.

Tirou o grande papel dobrado de dentro do envelope e o abriu, vendo uma profusão de garranchos que ele conhecia bem dos relatórios antigos que entregavam quando faziam parte do time 7. A letra era caótica, como se Naruto tivesse escrito com pressa, e tinha algumas manchas, como se algumas gotas de água tivessem caído ali. Talvez o idiota tivesse com algum copo por perto — o que não seria novidade, porque ele sempre tinha sido descuidado.

Teme, dizia a enorme carta, hoje é seu aniversário, então parabéns, apesar de você nunca ter se lembrado do meu. Espero que sua viagem esteja valendo a pena e você esteja encontrando a merda da redenção que você buscava.

Eu vou muito bem, obrigado por perguntar. Sakura me chamou para sair hoje, mas decidi ficar em casa em comemoração ao seu dia. Poderia ser um dia que você está aqui com a gente, comemorando do seu jeito introspectivo e irritante, mas você decidiu ir embora e fingir que não deixou nada para trás.

Talvez eu devesse te mandar um presente de aniversário, mas com certeza você não daria a menor importância, não é? Acho que o melhor presente que eu te dei, foi te deixar em paz como você queria.

Eu nunca vou entender porque você nunca teve a capacidade de olhar para o lado e me ver como um amigo. Nunca vou entender o pouco caso que você tem comigo, com Sakura, com Kakashi e com a vila, que bem ou mal, foi sua casa.

Faded Winter SunOnde histórias criam vida. Descubra agora