2 - Contra si Mesmo

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   Um sinal soou por toda parte.

   Algo que não preocupou ninguém, pois todo mundo alí já estava acostumado a ouvir o som histérico de uma sirene. Os Vespas continuaram imóveis, guardando a entrada, enquanto uma enlouquecida Mary Sarkovith falava ao celular. Alec ainda fitava o documento que daria à Omnigon todo o direito sobre o seu corpo, e ele tinha a mais nítida certeza de que aquilo não poderia acabar bem. Numa breve olhadela para os outros colegas, Alec observava as canetas entregarem, de bom grado, o corpo e a alma daquele bando de jovens sem sonhos ou mesmo o controle das suas próprias vidas.

   Suspirou, relendo aquela pergunta inúmeras vezes...

   De cabeça baixa e sem perceber, ele levantou os olhos para as câmeras de segurança, fixadas nos quatro cantos da sala. Instantaneamente, como se houvesse percebido o olhar recaindo sobre ela, o aparelho voltou sua lente para Alec, o encarando com o seu único, e intimidador, olho robótico.

   Alec, seu idiota, assine logo essa coisa!

   Mais do que depressa, o rapaz desviou sua atenção do objeto e inseriu o seu único nome no papel, obedecendo a ordem da sua própria consciência. Agora não há nada que possa ser feito, apenas rezar para que os ideais daquela grande corporação sejam os melhores possíveis.

   E é óbvio que isso não poderia ser verdade...

   As sirenes pararam de ecoar.

   –Atenção todos. – Mary retomara a sua usual pose de boa anfitriã, depois de demitir meia dúzia de estagiários ao telefone. – Vocês serão chamados um de cada vez, para a realização dos exames individuais...

   Seu celular voltou a tocar, mas ela apenas ignorou quem quer que fosse.

   –Peço que fiquem calmos e atentos ao chamado. – Ela fez uma breve pausa para avaliar os possíveis candidatos para o seu misterioso projeto. Do qual, ninguém faz a mínima ideia do que se trata. –  Agora, devo me retirar, pois o dever chama!

   Dizendo isso, ela tomou o elevador e sumiu por entre as duas portas de aço inoxidável, deixando para trás quarenta recrutas e dez Vespas armados até os dentes.

   Alec suspirou de alívio...

   Ele sabia que por trás daquela máscara de boa senhora existia uma mulher fria e perigosa. Que não mediria esforços para conseguir aquilo que quer e passaria por cima de qualquer um dentro daquele prédio. Alec conhecia muito bem aquele tipo de pessoa, pois, vivendo sua vida, primeiro num lar provisório, depois num CTM, ele sempre reconheceu um olhar de ódio por baixo de um sorrisinho. Nós olhos de um recruta ambicioso, nos de um comandante hostil e até mesmo em senhorinhas diplomáticas, aparentemente confiáveis.

   –C-121, favor comparecer ao setor S3 no subsolo imediatamente. – Uma voz sem vida soou nos auto-falantes.

   A garota, a qual o código pertencia, se levantou, no meio dos outros. Surpresa e um tanto quanto nervosa, pois ela dera o azar de ser a primeira a ser chamada. Três Vespas, entre os dez que guardavam a entrada, se separaram do grupo e cercaram a jovem, que por força do hábito, lhes fez uma continência. O restante, encarava a cena com o máximo de atenção possível, para evitar eventuais erros e saber como proceder, quando for a vez deles.

   O elevador se abriu e as quatro pessoas sumiram dentro dele.

   Os Vespas retornariam, mas ninguém nunca mais vai ver aquela garota novamente...

   Naqueles tempos, resultados costumam ser automáticos e as medidas a serem tomadas a partir deles também. Ninguém se importa muito com algumas centenas de adolescentes que nunca mais eram vistos ou se alguns deles morriam em mesas de laboratório. Até porque, a Omnigon trabalha com todos os tipos de armas, sendo elas de fogo, ideológicas, nucleares ou biológicas. Testar faz parte do processo e caso alguma coisa saísse fora do planejado, pagar uma indenização milionária não era nada de mais.

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