4 - Vespeiro

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    Sons esparsos vinham não se sabe de onde. Poderiam ser tiros, berros, explosões, ou somente alucinações de uma mente perturbada... Pensando bem, pode ser tudo isso e até mais. A princípio, toda esta confusão sonora não era muito clara e oscilava conforme a mente sonolenta alternava, entre consciente e não consciente. Mas agora, depois de alguns minutos, o som se tornou mais real, mais nítido e até palpável, pois a clareza aumentava o volume a cada segundo passado.

   Alec acordou, de súbito...

  O ar invadiu seus pulmões com violência, causando um engasgo doloroso. A cabeça rodopiava, de modo que não conseguia se focar em mais nada além da confusão instalada dentro dela. Ele não sabia onde estava, como viera parar alí, ou se poderia sair. O estômago se revirava em contrações bruscas, provocando enjoos e um certo tipo de fome desmedida. Alec não conseguia controlar seu próprio corpo, não pensava com clareza e temia estar morrendo lentamente, envenenado por alguma arma biológica que a Omnigon estava testando.

   Mas, depois de alguns penosos minutos, a tontura começou a diminuir, o enjoo a se abrandar e os pensamentos a se reorganizar em suas devidas posições. Alec checou o próprio rosto, tateando a face com muito cuidado. Seus olhos miravam uma laje de gesso, imaculada e bem feita, sustentando pequenas luzes, alinhadas numa distância de um metro para cada uma. Alec deu um longo suspiro, percebeu-se deitado sobre uma superfície lisa e fria, como aço.

   Nada confortável, se quer saber...

   Receoso, ele virou a cabeça para o lado, na clara intenção de obter mais informações sobre o local onde se encontra. Mas pouco podia ver, além de que a sala se estendia para além da sua perspectiva, sustentada por colunas de concreto espalhadas em duas fileiras. Aparentemente, tudo parecia limpo, livre de guardas ou Vespas, mas não menos vazio.

   Aquele salão estava cheio de outras pessoas...

   Deitadas em uma subespécie de mesa cirúrgica, metálica, uniforme e estéril.  Dezenas de exemplares do mesmo anteparo que separava o corpo de Alec do chão. Todas aquelas pessoas pareciam tão confusas e perdidas como ele mesmo esteve há segundos atrás. Murmurando constantemente, enquanto os disparos e a gritaria ainda imperavam. Parecia que o mundo estava caindo do lado de fora, mas ninguém tinha noção disso.

   Que lugar é esse?

   Alec se desdobrava em mil perguntas internas. Há quanto tempo estaria dormindo? Como fora trazido até alí? Quem são estas pessoas? Será que são conhecidos? Vieram de outras Repúblicas? É bem provável...

   Os tiros pararam...

   Do nada, tudo ficou quieto, foi tão repentino que Alec demorou alguns segundos para assimilar o que estava havendo. Não era o tipo de silêncio que sucede uma vitória, mas um silêncio que advém de uma trégua temporária, como o fôlego antes de submersão, o silêncio entre um disparo e outro ou o intervalo entre um raio e um trovão.

   Ouviu-se o escancarar de portas...

   –Cambada de filhos da puta! – Alguém praguejou. – Já é a segunda vez só este mês!

   Alec fechou os olhos, por mais que a curiosidade o tentasse a descobrir quem estava xingando naquele tom.

   –Não sei o porquê dessa sua preocupação... – Outra voz respondeu, num tom muito mais calmo. – Eles nunca conseguem passar nem dos portões.

   Um breve silêncio...

   –Tem ideia do quanto isso é irritante? – A enfurecida voz feminina voltou a se manifestar. – Eles nunca desistem, nunca param de tentar, mesmo com as represálias...

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