17 - Coalizão

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    O Dente do Javali se elevava, imperando entre as construções mais altas. Ele continuava intacto, o que evidencia a ressalva dos Vespas em atacar a fortaleza de Dead Man. Alec caminhava entre os Anjos Noturnos, de cabeça baixa, pois o sono lhe estava castigando. Athena e Éric acharam que podia ser muito perigoso parar para dormir, então todos os Andarilhos, Spiders e Anjos Noturnos tiveram de caminhar por horas, até a alvorada começar a nascer no horizonte.

   Acho que vou dormir por uma semana inteira...

   –Alec... Quanto tempo. – Uma voz familiar soou aos ouvidos do garoto. – Achei que nunca mais voltaria a ver você.

   Alec se virou, apertando um pouco os olhos, por causa do cansaço. Eli se desenhou diante dele, mais alto e magricela do que da última vez em que se viram. A tatuagem de aranha se agarrava à pele do pescoço, fazendo dele um dos soldados de Éric Cruz. Era muito bom vê-lo novamente, saber que uma parte da sua vida anterior ainda resistiu às catástrofes que a nova tinha proporcionado.

   –Eli? Wow, você cresceu. – Alec se admirou, avaliando o porte físico do amigo.

   Ele deu um enorme sorriso.

   –Está com os Dead Mans agora?

   Alec mordeu o lábio inferior, imaginando que seus outros amigos estivessem ouvindo aquela conversa.

   Mas até eles estavam sofrendo com os efeitos do sono.

   –Acho que sim... – Respondeu, coçando o topo da cabeça. – E como é a vida com os Spiders?

   –Complicada... – Ele suspirou. – Nós nos mudamos muito... E cada vez que chegamos num lugar novo, temos que lutar por ele.

   Alec concordou, sendo solidário.

  –Cara, – Eli voltou a falar, depois de alguns segundos em silêncio. – Aquilo sobre os Vespas terem capturado Red Flag é verdade mesmo?

   –Infelizmente... – Alec deixou as memórias daquele fatídico dia inundar a sua mente. – A coisa vai ficar feia se a gente não tomar uma atitude.

   Eli concordou, envolto em espanto.

   Os Andarilhos se espantavam com a magnitude dos arranha-céus, se projetando para o alto, como agulhas negras. Ao que parece, nenhum deles já havia pisado do lado de dentro dos muros antes. Com a exceção de Athena, que caminhava em silêncio, remoendo velhas lembranças. Ethelwin se equilibrava nos seus ombros, adormecida profundamente, com a cabeça enfiada entre as asas. Ela parecia não se importar com a marcha de Athena ou o barulho das pessoas conversando... Nada que garras bem firmes e uma boa dose de sono não resolva.

   Kat mirava a plumagem amarelada de Ethelwin, exibindo o enorme rasgo aberto na sua bochecha esquerda.

   Provavelmente estaria pensando em desossar aquela maldita ave.

   Marcas de explosões se espalhavam por toda parte, assim como cápsulas vazias e buracos de tiros. Alec temia que Dead Man já havia sucumbido ao poder dos Vespas e que agora só poderá contar com uma centena de soldados. Aos poucos, a sonolência deu lugar ao medo, que logo se tornou apreensão. O cheiro de pólvora fluía pelo ar, embalado pelo silêncio e todos os tipos de preocupação concebíveis.

   No entanto, a tensão logo se transformou em um suspiro alto, carregado de alívio.

   Na curva fechada de uma esquina, Many Desmond surgiu, montado em uma imponente égua escura como carvão. Junto dele, centenas de pessoas armadas marchavam à pé, à cavalo ou empoleiradas sobre carros detonados, prontas para lutar contra qualquer inimigo. Por um breve instante, Alec achou que Dead Man estava maior do que de costume.

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