A fêmea mirava o horizonte, de pé, sob as pernas compridas. Ao contrário dos machos, ela tinha um crânio mais alongado para trás, narinas menores e dentes serrilhados, maiores e menos numerosos. O corpo esquelético se impunha em uma pose monumental, esbranquiçado como mármore e tão letal quanto uma arma. Três garras se fundiam aos ossos inferiores dos braços, afiadas como facas, prontas para fatiar a carne das suas presas.
Mas, como os demais membros da espécie, ela era cega e contava apenas com o faro para detectar a caça.
–Estamos perdidos! – Trent, um dos Vespas sobreviventes sussurrou.
–Ainda não... – Cruz respondeu.
Ele tirou um rádio comunicador de dentro do sobretudo. Feito artesanalmente, um pouco surrado e estranho, mas útil...
Amy, na escuta?
Nada, só se podia ouvir a estática...
Amy, na escuta? Responda!
Mais uma vez, silêncio...
Amy...
Matthew na escuta... Cruz, é você?
Enfim, alguém dignou-se a responder. Permitindo que todos soltassem um suspiro de alívio, escondidos, atrás de um sobrado caindo aos pedaços.
Cruz falando... Estamos com a encomenda do seu bando!
Como conseguiram se aproximar? A 4971 está infestada de Snykers.
Pegamos um desvio pela 4974, mas tem uma filha da mãe no caminho!
Ela ainda não detectou vocês?
Não... Mas não vai demorar muito tempo até detectar.
Ok, chegamos aí em um minuto ou dois.
Rápido, ou então estamos ferrados!
Cruz enfiou o pequeno aparelho de volta no sobretudo, sentindo o coração um pouco mais leve. Agora, só restava rezar para que o vento não denunciasse a sua posição e o plano obtivesse êxito. A batedora Snyker já não estava mais sozinha, ao lado dela, outras cinco figuras bizarras jaziam empoleiradas sobre o telhado, se preparando para um iminente combate. Elas eram todas muito parecidas, embora algumas fossem mais fortes do que as outras. Estava claro que a inteligência fazia parte do lado feminino da espécie, pois, de um jeito meio torto, elas estavam se comunicando, através de sons ritmados e gestos rápidos.
Imperceptíveis, mas não menos importantes...
–Não podemos ficar escondidos por muito tempo, elas podem nos achar e nos matar em segundos... – Trent voltou a falar.
Éric franziu a testa.
–Logo vocês estarão a salvo... – Ele se voltou para os novatos. – Vamos.
Sem fazer barulho, o grupo se esgueirou pela fachada do sobrado, aproveitando as sombras como um esconderijo provisório. Tudo ia muito bem, até Alec sentir uma suave brisa se infiltrando no seu couro cabeludo, arrepiando o pelos da nuca e se perdendo pela atmosfera. Muito sútil para um ser humano notar, mas não para as narinas aguçadas de um Snyker faminto.
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ARBÍTRIO
FantasyO mundo já não é mais o mesmo... os anos passaram, o planeta mudou e as pessoas se tornaram menos ativas e livres. Uma realidade de silêncio e censura controla a humanidade agora, não pela elite ou pelo governo, mas sim pelas grandes corporações. Co...