Alec e Eli corriam o máximo que podiam, vencendo o terreno irregular segundo após segundo, metro após metro, até se depararem com os muros maciços de Hack, impossíveis de serem escalados ou transpostos...
–O que vamos fazer? – Eli sussurrou, mirando a retaguarda.
Alec tateou as paredes, buscando por fissuras ou algo que pudesse lhes dar alguma vantagem contra os Snykers, se aproximando cada vez mais. Os dois garotos escutavam os silvos agudos, o bater de dentes e o som de passos sobre a areia, transpondo dunas com suas pernas compridas e esqueléticas. Na escuridão da noite, as suas formas macabras ficavam mais visíveis, proporcionando uma visão clara da bocarra escancarada, a pele e as roupas rasgadas sujas de sangue, o corpanzil esguio, a cabeça alongada e o tamanho da fúria contida na fome daquelas coisas.
–O que vamos fazer? – Eli perguntou mais uma vez, totalmente desesperado.
Alec não conseguia pensar em nada...
–O Vespa falou que estávamos perto do portão oeste... – Disse, de súbito. – Podemos tentar entrar por lá.
–Será que podemos confiar nele? – A pergunta era meio descabida, mas fazia sentido.
–Não temos escolha... Se não damos um jeito de entrar, estamos mortos em um minuto ou menos. – O argumento de Alec esmagou a dúvida de Eli.
Ele assentiu, concordando em não duvidar mais.
Juntos, os dois começaram a correr como loucos, pois, num muro com quilômetros de extensão, achar o portão pode ser uma tarefa muito árdua. Os Snykers se aproximavam, mas não passavam de uma dezena de indivíduos que faziam parte de um bando de desgarrados.
–Acha que vamos escapar dessa inteiros?– Eli confessou, rindo de nervoso.
–É pouco provável... – Alec não pôde deixar de ser um tanto quanto pessimista. – Mas enquanto estivermos vivos, temos que tentar, não é mesmo?
Eli não teve tempo de responder, porque toda aquela gritaria tinha atraído a atenção imediata dos moradores da cidade em ruínas. E para a sorte daqueles infelizes garotos, os moradores estavam armados até os dentes...
Uma chuva de tiros despencou do alto daqueles paredões, como uma sinfonia de fogos de artifício, iluminando a noite. Alec soltou um suspiro alto, pois finalmente o perigo já não podia mais o alcançar e ele enfim descansará um pouco, depois dos dois dias mais intensos da sua vida.
–Engulam essa seus escrotos de merda! – Alguém gritou, depois que os tiros cessaram.
Sobre o deserto, os corpos fuzilados dos Snykers jaziam destroçados, sem silvos ou estalar de dentes, não haviam mais emboscadas ou o elemento surpresa. Agora, não passavam de uma mancha de sangue gosmento, escuro e nojento, correndo pela areia. O restante do bando fugiu, assim que o ataque começou, possivelmente, buscariam o apoio de outros bandos, maiores e mais perigosos, para que, um dia, pudessem encontrar aqueles dois pirralhos novamente.
Para se vingar...
–Tragam os garotos para dentro... – A mesma voz voltou a se pronunciar. – E não esqueçam daqueles dois Vespas insanos que estão se arrastando até aqui.
Alec ouviu risadas.
Cerca de um minuto depois, três pessoas surgiram sabe se lá de onde, vestidas em trapos esfarrapados. Já pareciam bem adultos, embora fossem jovens... Todos eles carregavam armas e facas por todo o corpo, como se houvessem saído de algum filme pós apocalíptico ou alguma coisa do tipo. Alec sentiu um frio na barriga, relutando em acreditar que o perigo já havia passado e deveria acreditar cegamente naquele grupinho peculiar.
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ARBÍTRIO
FantasíaO mundo já não é mais o mesmo... os anos passaram, o planeta mudou e as pessoas se tornaram menos ativas e livres. Uma realidade de silêncio e censura controla a humanidade agora, não pela elite ou pelo governo, mas sim pelas grandes corporações. Co...