O portão norte se desenhava para um bando de pessoas à beira de um ataque de nervos, mal se aguentando sobre as suas dúvidas. Um novo dia se erguia nos céus de Hack, e a coalizão firmada nos salões de Many Desmond já começava a se mobilizar para os confrontos futuros.
–Quer andar logo com isso e abrir o portão de uma vez? – Eva gritou, agredindo a carroceria com barulhentos tapas.
Ela, Alec, Ryan e Kat se apertavam dentro da cabine de um caminhão militar, arranjado durante um roubo, no mês passado. De um lado, as facções e grupos se dividiriam em duas grandes equipes, cada uma delas se ocupando com uma missão diferente. Athena e seus andarilhos, iriam para o deserto, junto com os Libélulas e os Anjos Noturnos. Éric, os Spiders e parte de Dead Man iriam saquear bases no interior da cidade, mapeadas e apontadas por Eva.
A outra parte ficaria na base, protegendo o Dente do Javali.
Emanuelle, habituada a vida no mar, torcia o nariz para ter que enfiar seu povo em veículos de quatro rodas e se lançar num deserto estático, frio e sem vida. O perigo sempre existia nas águas, mas, quando a situação apertava, bastava apenas um comando seu para que os navios escapassem ondas adentro. No entanto, até mesmo ela tinha de seguir ordens agora.
Alec, até então apertado entre Ryan e Kat, deu um jeito de escapar, usando de uma desculpa fajuta e se dirigiu até onde os Libélulas estavam reunindo armas ou se demorando em dar nós complicados.
Um velho hábito de marinheiros.
–Alguém aqui viu a Emanuelle? – Perguntou, para uma multidão de garotas fardadas.
A maioria delas continuou calada.
–Ela está no último caminhão, checando as amarras. – Respondeu a primeira imediata do grupo.
Alec agradeceu, com um aceno. Depois, se preocupou em seguir a direção apontada pela garota e chegar até Emanuelle Bumont.
O colar congelava dentro da camiseta.
–Oi Alec... – Disse a líder dos Libélulas, antes mesmo que Alec pudesse tocar o seu ombro.
Como as pessoas conseguem fazer isso?
–Você é bem barulhento para um soldado. – Disse, se virando para um perplexo Alec.
–Me desculpe... Eu só... Tem um minuto? – Por mais que tentasse, ele só conseguia se atropelar nas próprias palavras.
Emanuelle sorriu em resposta, entregando uma caixa cheia de explosivos para que ele carregasse.
–Então Alec... – Recomeçou. – O que tem para me dizer?
Ele hesitou por um instante.
–Eu era um Flag... – Disse, o mais corajosamente que pôde. – Antes... Antes daqui.
Emanuelle pareceu surpresa.
–Olha, isso é muito interessante... Tenho um irmão que era um Flag. Talvez você o tenha conhecido. O nome dele é Claude... Acho que ele foi capturado junto com os outros.
Droga...
–É sobre isso que eu vim falar. – Alec largou a caixa que estava carregando.
Como se já soubesse o que aquele garoto tinha a dizer, Emanuelle Bumont perdeu o brilho do olhar, assim como o sorriso, que murchou na face, pouco a pouco, até só restar uma linha inexpressiva.
–Seu... Seu... Seu irmão morreu... Naquela noite. – Alec deixou escapar, sentindo-se o pior dos seres, por ter que fazer isso.
A face de Emanuelle congelou, depois tornou-se espanto e perplexidade. Naquele momento, Alec pôde ver as marcas que a vida havia feito nela, escondidas debaixo dos olhos brilhantes e do sorriso de dentes separados. O mesmo olhar lívido do irmão surgiu nas feições dela, assim como uma única rosa solitária, desabrochando no frio do inverno.
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ARBÍTRIO
FantasyO mundo já não é mais o mesmo... os anos passaram, o planeta mudou e as pessoas se tornaram menos ativas e livres. Uma realidade de silêncio e censura controla a humanidade agora, não pela elite ou pelo governo, mas sim pelas grandes corporações. Co...