O Ceifeiro arrastava suas garras no chão liso. Produzindo uma sinfonia horripilante, à medida que dava os seus lentos passos. Alec se perguntava onde ele estaria esse tempo todo em que os Andarilhos adentraram aquela catedral. Alí, abaixado atrás de Ryan, ele tapava a boca e o nariz, tentando não ser denunciado pelo ruído constante da sua respiração.
Assim como todos os outros...
Alertas de perigo inundavam o seu cérebro, insistindo na ideia de sair correndo dali, e deixar tudo para trás. Mas, mesmo que quisesse, Alec só podia observar, horrorizado, o manso arrastar de garras, arranhando o chão. No salão superior, o barulho de tiros e gritos se perdiam, abafado por inúmeras camadas de solo e concreto.
Ryan mirava Eva, abaixada, do outro lado do corredor. Ela também estava atormentada pelo efeito do medo, encarando a silhueta do ceifeiro. Kat e Ártemis se espremiam ao seu lado, prontas para seguir qualquer ordem que Eva desse.
"Como vamos sair daqui?" – Ryan disse, sem palavras.
"Eu não sei!" – Ela respondeu, igualmente muda.
"Ele vai achar a gente." – Kat se meteu na conversa, gesticulando loucamente.
"Disso eu já sei!" – Ryan respondeu, enfurecido.
Se Alec não estivesse tão assustado, estaria rindo daquela conversa.
"Esperamos ele seguir caminho, depois damos o fora..." – Eva se decidiu, no calor da tensão. – "Não sabemos do que essa coisa é capaz."
Todos se deram por satisfeitos, esperando o momento certo para sair e ir ao encontro dos Andarilhos...
O Ceifeiro interrompeu sua marcha lenta, em direção a lugar nenhum. Ele sabia que alguma coisa tentava se esconder dele, e não hesitaria em cumprir o seu instinto natural de matar tudo o que se mexe. Sua cabeça varreu o interior do corredor, procurando por intrusos. Ela se movia constantemente, enchendo de medo o coração daquelas seis pessoas encolhidas em ambas as extremidades da parede.
E então, durante a varredura, o liso orbe oval se deparou com Alec, o encarando em sua cegueira. O garoto viu o próprio rosto refletido na superfície lisa, impotente diante de algo maior do que ele, mais perigoso do que ele e com certeza mais intimidador. Essa era uma sensação da qual Alec já estava familiarizado. Ele sentia isso toda vez que mirava um comandante berrando nos CTMs, um colega sendo espancado até a morte ou quando via a saliva ácida escorrer entre os dentes de um Snyker.
E, por mais que quisesse, Alec nunca reagiu a isso, nunca se meteu em assuntos que não eram seus, e nunca teve coragem o suficiente para fazer alguma coisa. Independente do medo...
Ele só assistia as pessoas morrerem, sem fazer nada diante disso...
A mão direita escorregou até o cinto, onde a Sig Sauer repousava tranquilamente, pronta para liquidar qualquer ameaça. E, mesmo sobre uma chuva de protestos de Ryan, Alec tinha a mais nítida certeza de que iria arrebentar a cabeça daquela aberração. Tudo isso só para não ter que encarar a imagem de si mesmo refletida no rosto indiferente do Ceifeiro.
Eu já me cansei disso...
Alec estava prestes a atirar, envolto em vergonha e fúria, quando um valente Apolo saltou da sua posição submissa, bradando como um guerreiro. Trazia o seu impiedoso arco nas mãos, onde uma reluzente flecha estava engatilhada, pronta para encarar o perigo nos olhos.
–Apolo, não... – Ártemis gritou, sendo contida pela força de Kat, enquanto observava o irmão agir por puro impulso.
A flecha do garoto voou pelo ar, até a cabeça de um confuso Ceifeiro. O brilho modesto da seta venceu a escuridão, como a derradeira chama da esperança. Viva, dentro de um mar de incertezas. Mas, por mais que o esforço de Apolo tenha sido nobre, não foi capaz de vencer a carapaça polida do Ceifeiro.
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ARBÍTRIO
FantasíaO mundo já não é mais o mesmo... os anos passaram, o planeta mudou e as pessoas se tornaram menos ativas e livres. Uma realidade de silêncio e censura controla a humanidade agora, não pela elite ou pelo governo, mas sim pelas grandes corporações. Co...