20 - Player One

90 19 124
                                    

   Alec começou a acordar, lentamente...

   Segundo após segundo, ele sentia o vazio da inconsciência desaparecer completamente, assim como o despertar, depois de uma noite de sono. O ar ia e vinha dos pulmões, numa constância fraca e frágil, suficiente apenas para lhe manter vivo. Nas costas, o grande rasgo aberto pelo Ceifeiro se escondia embaixo das bandagens, dos curativos e da sutura, feita meio às pressas. A dor, antes insuportável, agora havia sido substituída por uma leve dormência, que nascia no ombro e terminava na base das costelas.

   E, por fim, abriu os olhos...

   Alec estava deitado, num lugar desconhecido por ele, bem arrumado e limpo, decentemente, ao contrário da maioria dos becos de Hack. Um amontoado de objetos e comprimidos se espalhavam por uma mesa, ao seu lado, iluminada pela luz ofuscante de uma vidraça.

   –Até que enfim você acordou... – Uma voz familiar soou aos seus ouvidos, dando fim a  confusão mental em que estava metido. – Quase deixamos você para trás.

   Alec encarou os olhos esmeralda de Eva, sentada ao lado de sua cama. Marcas de leves escoriações se desenhavam no seu rosto, cicatrizando, a medida que o tempo passava. Ela parecia ser a mesma de sempre, embora parecesse um tanto quanto cansada. Sustentando o mesmo olhar superior e o sorrisinho maldoso, comum de seu uso. Mas, hoje, Alec não podia deixar de notar uma pequena quantidade de tristeza oculta dentro das íris luminosas de sua líder.

   –Faz quanto tempo que estou aqui? – Perguntou, se sentindo muito estranho em ter seu corpo de volta novamente.

   –Três dias... – Respondeu.

   –Mas e o Ryan? O Ceifeiro... O que foi que... – Alec se levantou, sentindo toda a preocupação despertar os seus nervos dormentes.

   –Calma aí Alec... – Eva riu, o forçando a voltar para o seu descanso. – Números cinco se recuperam mais rápido, mas não tão rápido assim!

   Ela suspirou.

   –Ryan está bem... – Disse, para o alívio de Alec. – Queimou as mãos tentando descer aquela corda e está todo quebrado, depois de arruinar a catedral inteira, mas bem... Ele está bem.

   Alec riria junto com Eva, mas estava assustado demais para ter outra reação a não ser espanto.

   –E onde ele está? – Perguntou, depois de alguns segundos em silêncio.

   Eva se virou para a direita, permitindo que Alec visse o que estivesse oculto pelo seu corpo. E, apoiado tranquilamente sobre uma acolchoada poltrona, jazia o corpo adormecido de um esfolado Ryan. Suas mãos se escondiam embaixo de bandagens, assim como o braço direito e parte da coxa esquerda. O rosto também acumulava escoriações leves e provavelmente uma das suas costelas estaria quebrada. No entanto, Alec mal podia conter a felicidade de vê-lo vivo.

   –Ele disse que não sairia daqui, enquanto você não acordasse. – Eva voltou a sua posição original.

   Silêncio...

   –Ryan salvou a minha vida... Nunca vou conseguir retribuir.

   –Não se preocupe, – Eva o tranquilizou. – Conheço você... Sei que faria a mesma coisa por todos nós.

   Embora estivesse preocupado com a saúde de Ryan, Alec ficou feliz em saber que alguém zelava pelo seu sono, no período em que esteve ausente.

   –Mas... – Eva trocou o semblante tranquilo por um mais sério. – Nem tudo saiu como o planejado.

   Os alertas internos de Alec começaram a soar desesperadamente...

   –O que aconteceu? – Perguntou, esquecendo-se até da dor que estava sentindo.

ARBÍTRIOOnde histórias criam vida. Descubra agora