23 - Estamos Desmoronando

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   –NÃO! – Ryan gritou, amargando o peso doloroso da traição.

   Leonard voltou a gargalhar, sob a guarda de Kat, a traidora que conseguiu enganar todo mundo por anos e anos, sem ninguém ao menos perceber. Alec fitava o corpo de Eva, à distância, estilhaçado por um tiro à queima roupa. Sua garganta se fechava num apertado nó, que só não era pior do que a incapacidade de acreditar nos fatos.

   Eva estava morta... E Kat era a assassina.

   –Bom trabalho agente White. – O líder dos Vespas voltou a falar calmamente. – Você conseguiu mais sucesso do que qualquer outro infiltrado já o teve.

   Ela agradeceu com um aceno de cabeça.

   –POR QUE KAT? – Ryan gritou, sentindo o peito comprimido pela tensão dos músculos.

   –Isso não é uma retaliação... Pessoas morrem, infelizmente. – Leonard McCollen enlaçou a garota pelos ombros. – Mas, eu quero que me respondam uma coisa... Sabem porque eu dei o nome de Siren a essa base?

   A multidão estava atônita demais até para manifestar qualquer expressão, que não fosse pânico.

   Embora Alec soubesse que a resposta para aquela pergunta não seria nada agradável.

   –Acho melhor tapar os ouvidos... – O mais desprezível dos Vespas recomendou, sorrindo debilmente.

   Certo de que algo terrível estava prestes a surgir...

   O som agudo de um grito emergiu por entre auto falantes, intenso o suficiente para fazer qualquer um se dobrar de dor e implorar por clemência. Até mesmo o tronco rígido das árvores, indiferentes ao confronto, tremeram perante a presença devastadora daquele lamento maldito, espalhando medo pelas terras obscuras de Player One, até encontrar o leito sereno do mar.

   –Mas que porra é essa! – Éric Cruz disse, sob o esforço de tapar seus ouvidos e entender o que estava acontecendo.

   Então é isso? Vamos morrer assim?

   Alec se jogou contra o chão, ao lado de Ryan, que, como ele, tentava suportar a pressão que se alastrava para dentro do crânio. O choque de perder Eva não havia passado, mas, à cada novo acontecimento, ele já não sabia mais como processar tantas mudanças drásticas em tão pouco tempo. Alec confiava em Kat, assim como o restante dos seus companheiros, que a conheciam por anos. De que forma ela pôde manter o disfarce sem levantar nenhuma suspeita?

   E alí, cedendo sob o elo dos seus dentes cerrados, Alec tentava sobreviver e pensar, ao mesmo tempo...

   Por fim, quando achava que iria desmaiar de agonia, o grito agudo finalmente cessou. Deixando um zunido surdo dentro de ouvidos exaustos. O suplício surgiu e sumiu da mesma forma catastrófica com a qual semeou o caos, sem precisar de armas para tal. Leonard ainda continuava rindo, enquanto se deleitava em ver o seu punho de ferro reprimindo qualquer ousadia. O ódio ardia dentro das suas pupilas, incandescentes como o coração triunfante de um vulcão em erupção.

   Alec se levantou, sob tremores e vertigens, mas disposto a permanecer lutando, enquanto houvesse vida no seu corpo. Junto dele, Ryan, Many Desmond, Éric Cruz, Amy Carson e todos os rebeldes se elevaram, impondo as mesmas feições duras para o exército de Vespas e Snykers paralisados.

   Eva não vai morrer em vão!

   Assim, mesmo feridos e atordoados, centenas de pessoas empunharam suas armas, prontos para deixar esse mundo com honra. Gotas pesadas da chuva voltavam a cair, transformando a terra ensopada em lama. Lama esta que escorregava por entre as pedras, se misturava ao sangue fresco, servia de sepultura aos mortos ou sujava as roupas dos vivos. Parte de um cenário confuso, imundo, friamente melancólico. Emoldurado pela escuridão da noite e pesadas nuvens de tempestade.

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