22 - Siren

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    –Alec...

    A escuridão permeava sobre o seu ser, como se nada mais importasse... Além do grande, escorregadio e pesado vazio.

   –Alec, está me ouvindo?

   Os lamentos da noite fria começavam a terminar, aquecidos pelo clarão amável de mil dourados raios de sol, emergindo no horizonte. Entrando pelas pálpebras e acordando os sentidos... Um por um.

   –Alec acorde!

   E o ar finalmente adentrou seus pulmões, o trazendo de volta para a superfície. O garoto sentia cada músculo, tecido ou célula do seu corpo gritar de dor, enquanto lutava para despertar completamente. A sua volta, rostos assustados o encaravam, com um certo brilho chamuscado na pele e olhos tristes. Alec tentava respirar, sufocado pela fumaça e pela fuligem, caindo lentamente, como uma desolada tempestade de neve.

   –Você está vivo. – Disse Eva, aliviada. – Pensei que... Aí meu Deus Alec... O que é isso na sua perna?

   Alec reconheceu os contornos dos Anjos Noturnos se desenhando diante dele. Todos  se escondendo por baixo de grandes cortes, arranhões, hematomas e cinzas. Mas, para a mais pura felicidade de Alec, aqueles três estavam mais do que vivos, e isso já era uma tremenda sorte. Com dificuldade, e sob uma chuva de protestos de Kat, ele se sentou, ouvindo dezenas de ossos estalar. 

   –O que aconteceu? – Perguntou, segurando o crânio com ambas as mãos, pois, sua cabeça estava prestes a se partir diante de tanta dor.

   –Ganhamos Alec... – Ryan sorriu tristemente. – Cold Ocean caiu...

   –Mas e agora? – Kat interrompeu. – Vamos continuar?

   –Eu não sei... – Eva respondeu, suspirando profundamente. – Temos que cuidar do ferimento do Alec, ele não vai conseguir andar se não dermos um jeito.

   Desajeitadamente, o Anjo Noturno em pior estado foi içado por Ryan e Kat, que ofereceram o seu ombro amigo para que Alec pudesse se por de pé. Os dois pareciam estar tão arrebentados como ele, ignorando as próprias feridas para tentar impor um pouco de coragem, num lugar onde só o medo reinava.

   Os olhos do garoto encararam o esqueleto de um monumento imponente, ruindo sob a fome das chamas e o túmulo de fuligem. Sob o chão, centenas de corpos se amontoavam, misturados numa grotesca confusão de sangue e ossos perdidos, contendo um mesmo traço, não importa se fosse humano, Vespa ou Snyker. Cada cadáver possuía a mesma expressão corroída pelo horror, eternizada através do verniz incorpóreo da morte, eternizando aquela fúnebre sinfonia. Alec se cobriu de náusea, e vomitou alí mesmo, no chão, amargando a reclamação constante do estômago, até então vazio.

   –Você está perdendo muito sangue... – Ryan sussurrou para si mesmo.

   –Não precisa se preocupar comigo. – Respondeu, fracamente. – Eu vou ficar bem...

   A multidão de sobreviventes se entregava ao silêncio, encarando os amigos mortos e os altos custos pagos para que a vitória visse a luz do dia. Éric Cruz se apoiava sobre o chão, sem um pingo de tranquilidade no olhar. Seus Spiders não passavam de duas dezenas, assim como nenhum Andarilho escapara vivo. O rio vermelho lhe manchava as roupas, as mãos e o rosto, congelado pela perplexidade e pelo desespero.

   Mais uma vez, o mundo do lorde das aranhas desmoronou completamente...

   Ryan e Kat conduziram Alec até onde Amy Carson e Many Desmond conversavam. Em parte pela curiosidade, mas também porque os dois líderes se reuniam num local afastado do campo dos mortos. Alec não aguentava mais olhar para tanta desolação reunida sem sentir o estômago vazio revirar. Seu caminhar vacilante se perdia entre pedras e galhos, tentando acompanhar os passos pesados de Ryan, que pressionava uma das mãos contra um grande rasgo horizontal, aberto nas suas costelas.

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