O Libélula do Mar deslizava pelas águas turvas, silenciosamente, como o lampejo de um relâmpago cortando os céus. Sob a orientação de Emanuelle, sua tripulação navegava por entre as ilhotas, usando a escuridão do crepúsculo para lhes servir de camuflagem, o que, por certo, não duraria muito tempo. Aos poucos, os canhões eram ajustados, carregados e prontos para dar início ao caos, sob uma confusão de vozes e passos turbulentos.
–Só vamos ter uma chance... – A líder dos Libélulas corria de um lado para o outro. – Martinez, ajuste o curso, se alguma coisa der errado, vamos acabar caindo na barreira de pedras pontiagudas lá embaixo.
O garoto referido escapuliu por entre a massa, com intenção de assumir a cabine de comando.
–Atenção todo mundo, – Continuou. – Peguem o que precisarem e subam para o convés... Depois do primeiro tiro, os Vespas vão vir com tudo!
A multidão se misturava ainda mais.
–Se a coisa ficar feia, se escondam o melhor que puderem... Provavelmente, vão soltar um exército de Snykers para cima da gente. Aconteça o que acontecer, não deixem eles subir a bordo okay?
Uma barulhenta correria se instalou debaixo do convés, onde muitos gritavam e poucos pensavam com calma. Many Desmond e seus Dead Mans subiam por uma grande plataforma, exibindo suas macabras tatuagens e seus olhares obscuros. Andrew e Connor se metiam entre eles, inseparáveis, como já demonstravam ser. Junto da confusão de casacos grossos, o forte laço dos seus dedos entrelaçados reafirmava o valor do compromisso que tinham um com o outro. De se amparar, nos momentos de maior terror.
Como agora...
Alec sorriu ao receber o cumprimento deles, enquanto enchia os seus bolsos com pentes e mais pentes de balas.
–Alec... Alec... Alec, acorde! – A voz de Ryan o despertou da tarefa monótona em que se distraía.
–O que houve? – Respondeu, com uma certa urgência.
–Nada... – Ele riu. – Você está meio estranho, desde que a Eva disse aquela bobagem.
E mais uma vez, Alec sentiu o seu rosto queimar.
–Não... – Disse, encabulado. – Só estou um pouco tenso.
–Você e todo mundo! – Ambos soltaram uma risada seca, se entregando ao silêncio, por longos segundos. – Se nós sairmos dessa inteiros... O que acha que vai acontecer depois?
–Eu não sei... – Alec respondeu, com toda a sua sinceridade. – Talvez voltemos para nossas vidas normais.
Ryan, que até então parecia estar muito tranquilo, deixou uma pequena ruga de preocupação enrugar a sua testa.
–Não sei se vou conseguir me acostumar de novo. – Disse, imerso em tristeza. – Sabe... Nunca imaginei que fosse sair vivo de Hack.
Alec concordou.
–Eu também. – Disse. – Mas nunca tive uma vida de verdade, antes de vir parar nesse lugar. O Alec de antes, não era muito diferente de um Vespa... A mesma coisa acontece com você.
O sorriso de Ryan se alargou ainda mais na face. Em parte pelo que Alec havia dito, mas também porque Eva e Kat haviam surgido do nada, carregando armas e caras amarradas.
–Ryan, fique quieto! – Eva disse, se recuperando da embriaguez.
–Eu não falei nada... ainda. – Ryan piscou para Eva, arrancando o olhar mais astuto que ela tinha.
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ARBÍTRIO
FantasyO mundo já não é mais o mesmo... os anos passaram, o planeta mudou e as pessoas se tornaram menos ativas e livres. Uma realidade de silêncio e censura controla a humanidade agora, não pela elite ou pelo governo, mas sim pelas grandes corporações. Co...