8-Negócio Fechado?

59 20 43
                                    

Amenade encontrara Tito dormindo com o rosto amassado e todo desajeitado na mesa do seu escritório particular e ficou com um pouquinho de dó, o pegando nos braços, feito uma criança e levando-o até o quarto dele que já era iluminado por fios lunares belíssimos, assim como todo aquele lugar cheio de riqueza era.

Tito não acordou, o sono pesado só o fez resmungar e logo se perdeu em meio a tanto sono que lhe envolveu.

Dia seguinte.

Acordou tão calmo que pensou ter morrido e estar no próprio céu onde sua alma seria julgada.

O dia estava brilhante, porém aparentava vir chuva em breve, o cinzento que foi tomando o céu não era igual aos olhos dela.

Foi o primeiro pensamento que veio a sua cabeça confusa e mal adaptada quando saiu da cama... Se considerou até egoísta por só pensar nela quando sua família estava lá a mercê da dúvida e provavelmente correndo perigo. Não sabia nem se estavam vivos.

Cogitou perguntar à Nad depois. Até porquê sentia que seria a única a lhe responder —, e os comportamentos das outras sempre confirmavam isto.

E então ele se lembrou da tarde anterior até o anoitecer e que provavelmente adormeceu sob aquela mesa.... Quem o trouxe para o quarto?

Suas pernas doíam e seu estômago roncava, e um mau cheiro súbito o incomodou... Não tomava banho desde que tinha saído de sua casa —, ficou enjoado só de pensar.

Banho.

Não citaram nenhum meio para que Tito pudesse tomar banho, deviam ter esquecido... Até mesmo a doce titã que lhe tratava tão bem.

Tito saiu do quarto calçando os sapatos de couro e carniça com um pequeno saltinho que tinham sido colocados à beira da cama misteriosamente e se dirigiu a sala.

Ierra estava em pé parecendo vigiar algo além dos limites da janela longa. Não notou sua presença.

— Onde ela está. — Quis saber usando o único fio de voz que tinha.

Ierra tirou os dedos da cortina e virou a cabeça para encarar o humano.

— Você está fedendo. — Não foi um insulto, mas sim uma percepção —, retorceu o nariz reprovando o cheiro que se instalou.

— Não foi isto que perguntei. — Murmurou tentando manter a calma e buscando no fundo, bem  no fundo, sua sanidade.

— Minha irmã está no banho, e você também precisa de um. — Ierra respondeu se aproximando do mortal e lhe estendendo a mão amigavelmente.

Tito hesitou confiar naquela criatura de olhar tão indecifrável vestindo uma toga laranja e por baixo a outra parte branca com um cinto dourado na cintura.

— Relaxa coisinha, eu não curto humanos. — A voz soou algo subliminar e malicioso.

Tito não se sentiu ofendido, até porquê quem era ele comparado a Tirso, e a outros titãs incrivelmente lindos e poderosos.

Dando à mão para ela — Tito e a mesma caminharam até um corredor totalmente vazio que só continua o lustre, e as paredes num tom areia claro. Havia uma porta a qual se abriu quando Ierra pronunciou alguma palavra nunca ouvida antes (provavelmente da sua língua original) e então foi revelado aquele cômodo.

Banheira, não qualquer banheira... Era tão grande que mais parecia uma piscina — equivalente a sua sala de estar inteira na aldeia. A água cristalina pura fazia leves ondulações devido ao vento que vinha da sacada feita de vidro e madeira que estava aberta pouco à frente.

— Ali tem sabonetes e navalha caso queira aparar... Bem, fique o tempo que precisar. -
— Não usou das palavras íntimas demais para se expressar, apontando os armários curtos brancos que ocupavam os cantos daquele banheiro.

— Não posso fechar as portas? É constrangedor... — Não que alguém quisesse vê-lo nu pela extensão da sacada onde tinha um gramado que era beijado pelo horizonte do alvorecer.

Ierra deu risada.

— É claro monte de ossos. — Cedeu ao pedido do rapaz e saiu fechando aquela porta perolado sem detalhes atrás dele.

O piso era num branco normal e parecia material menos rico do que os outros cômodos, feito o dos humanos em suas casas na aldeia. Tito retirou peça por peça e notou que tinha um espelho ali, espelho este que o fez sentir repulsa da sua própria imagem refletida.

Não tivera concentração suficiente para ver a si próprio nos olhos coloridos daquelas titãs iguais e diferentes ao mesmo tempo.

Monte de ossos.

Era isto que ele era, estava nítido, muito nítido.

Ficou até impressionado por não ter se quebrado quando Iduna, o atingira com a machadinha tão pesada... Como conseguia se manter em pé?

Pensou seriamente nisto. No quanto estava magro e abatido, descuidado.

Como se permitiu chegar naquelas condições...

Tito juntou as portas de vidro da sacada as fechando e deixando um curto espaço além delas e entrou na água cristalina deixando sua mente vagar e tudo escapar, afogando o corpo magro naquele local.

Pensou nas diversas coisas que poderia ter sugerido anteriormente naquela reunião entre ele e Nad —, sobre Tirso e o porquê o fato de Amenade ter um humano na sua casa o enfurecia tanto... Mas, será que Nad o rejeitava em outras questões também?

Sentiu ciúmes do miserável humano?

Ridículo, pensou Tito.

Tantas possibilidades de firmar um acordo entre eles, tantas coisas as quais sua família e aqueles aldeões precisavam e ansiavam — será que estavam contando com ele? Com sua capacidade limitada de persuadir ou dialogar... As titãs.

Não era qualquer mercador ou vendedor da região separada pela fortaleza, Sportarend significava infinitamente mais.

Juntando-se à mesa do café da manhã, Tito se sentia estranho —, frustrado e entediado, só fizera dormir, comer e acompanhar elas aos campos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Juntando-se à mesa do café da manhã, Tito se sentia estranho —, frustrado e entediado, só fizera dormir, comer e acompanhar elas aos campos.

O perfume sensacional, uma mistura de menta com cacau e levemente um toque apimentado invadiu as narinas dele.

Ela.

— Está muito bem. — A titã o analisou de cima a baixo e elogiou sincera. Tito não esperava que reparasse e nem foi sua intenção quando fez a barba e se limpou.

— Está apresentável. — Corrigiu Ierra, ainda mastigando e lançou um olhar serio à irmã na outra ponta da mesa escura.

Iduna comia despreocupada — nem sequer deu atenção para ele.

— Deveria ter lhe dito sobre o banho... Não lembrei, desculpa. — Nad tentava encontrar as palavras em meio aquela sala tão silenciosa e grande que parecia espremer os ossos fracos dele.

Nenhum insulto, nenhuma humilhação ou questionamento. Apenas silêncio.

Algo havia acontecido entre elas e deixado aquela tensão horrenda no ambiente.

Foi por minha causa? Pensou Tito.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora