22-A Verdade

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Basta! Já chega!

Gritava a voz mental dele, enquanto suas narinas puxavam ar tentando preencher o pulmão exausto por ter andado tanto até ficar ofegante e mal conseguir ver um palmo em sua frente.

Apoiando as mãos no cimento daquela cobertura redonda com colunas finas feitas de gesso.

Podia ser considerado um adulto fazendo birra e sendo imaturo... Todavia, estava certo em não querer que o protegessem o tempo todo, e sim que pudesse dizer por suas próprias palavras que era forte, que podia se proteger sozinho —, que não era vulnerável e nem fraco.

— INFERNO. — Vociferou para as águas calmas debaixo da estrutura que davam até o horizonte e não dava para deduzir onde terminavam.

— QUE IDIOTICE. — Espalmou a mão no muro, explodindo em fúria.

Por que, por que ela não entendia.

O que Ierra disse naquela frase incompleta devido à saída dele do local.

Por obséquio, o destino estava o favorecendo ao ser tão protegido por Amenade ou lhe amaldiçoando por ser incapaz de peitar aquela criatura e todas iguais a ela que o matariam facilmente com um pisão?

Estranhamente, a féerica ainda não havia ido ao encontro dele... Será que estava tudo bem? Ou aquele aperto dolorido no peito era só mais uma estupidez constante que seus sentimentos traziam?

Tito detestava o fardo de ser frágil, pelo menos ali... De não ser ninguém.

Dizer grosserias e ser mal-agradecido com certeza não era inevitável quando fosse ter tal prosa com a sua amiga, após tanto que ela fez... A forma como o recebeu e moveu a ventania conforme a própria música para que o tratado fosse feito o mais breve possível... Seria injusto e cruel.

Entretanto... Também tinha o lado dele da história... Lado estes que rugia e já estava exausto.

Toda aquela música, aqueles titãs, tudo em relação a eles... Não lhe cabia.

Sentindo os ventos frios beijarem sua pele em parte descoberto, Tito arrancou a grinalda de galhos e folhas silvestres da cabeça e jogou nas águas com toda ira.

Um fantoche, um imbecil fantoche que elas usavam toda vez que lhes fosse convincente.

— Se vai dizer que eu não devo ligar, por favor, não diga. — Expressou ao sentir a presença gloriosa dela.

— Eu não ia dizer isto. — Balbuciou a titã enquanto avançava a passos lentos até a ele.

Ainda de costas, encarando o lago que não saia do lugar, Tito suspirou pesado, tentando afastar a ira.

Cada pedaço do corpo entrando em colapso.

— Por que está aqui. — Murmurou para sua amiga que agora havia parado ao seu lado e apoiado os cotovelos no cimento do muro.

— Queria tomar um pouco de ar, e vi o jeito que saiu de lá. — Respondeu Nad, tranquila.

— Eu não preciso que me defenda. — Aquela conversa iria chegar uma hora ou outra... E Tito teria que ser pelo menos um pouco rude ao desabafar o descontentamento.

— Você não pode sozinho... Compreenda por favor. — Pediu Amenade cabisbaixa.

— Quer parar de falar comigo como se eu tivesse seis anos? — Virou-se para encará-la.

O humano estava magoado demais, exaurido por tanta incompreensão.

— Desculpa, eu não fazia ideia de que...

— Nenhuma de vocês faz, nenhum de vocês faz... Sabe por quê? — Amenade negou ainda com a expressão gélida no rosto.

— Porquê vocês nunca vão ser como eu, e muito menos entender o quão inútil e dispensável, eu sou. — Tito apontou o chão com o indicador enquanto dizia.

— É como as coisas são queri... Tito, e você deveria ser grato por ter nascido humano...

— GRATO? Sabe como a minha vida é miserável e quanta desgraça já me acorrentou? Não, porque enquanto você bebia vinho e comia dos melhores grãos, eu tinha que caçar e cortar lenha, e ainda quando chegar em casa ouvir reclamações e ver meus irmãos sentados à toa. — O peso estava saindo do seu peito.

Amenade ficou perplexa ouvindo aquelas palavras.

— E foi o seu povo que escravizou o meu! — Elevou o tom de voz, revoltado.

— Não dependia só de mim, acredita que se dependesse, eu teria deixado você passar por esta situação? — Amenade rebateu incrédula.

— Eu não sei, não me conhecia antes e parece que não me conhece agora. — Tito não percebeu a veracidade daquelas letras ditas... Nad ficou chateada e omitiu isto.

— O que eles pensam quando olham para mim? Ali do seu lado naquele salão... Eu vou te dizer: aquela criatura patética tem tamanha ousadia idiota de achar-se digno, é isto que eles pensam no mínimo.

Tito arrancou os sapatos e jogou degrau abaixo, o chão frio deu choque em sua pele.

Amenade silenciosa, feito uma pedra, observando a atitude hostil.

— Se quiser ir embora... Eu o levo de volta. — Tito ouviu aquilo como um martelo quebrando sua caixa torácica.

Nad desviou o olhar para o lago agraciado por brilho celeste.

— Não precisa de mim, não é mesmo... Entendo, entendo perfeitamente. — Opinou Tito ainda ferido emocionalmente.

— Para se proteger precisa de poder... e devo alertar que isto não é um mar de rosas como pensa. — A frieza das frases nunca tinha o atingido com tanta força.

— Para você que nasceu em berço féerico, para mim, seria uma dádiva benéfica... Você nunca vai entender. — Sussurrou Tito, deixando a voz misturar com os ventos uivantes.

— Teimoso que nem uma mula, é isto que você é. — Disse a rainha, revirando os olhos cinzas fora do alcance dele.

Tito voltou para trás e se aproximou dela.

— E você é irracional. — Contra atacou o humano.

Amenade ficou brava por tal insulto.

— Eu nunca deveria ter deixado você voltar, deveria ter levado de volta para casa... — Agora sim, a féerica havia perdido a paciência.

— Claro, me dispensar como um objeto velho não é... Saiba que eu só voltei por preocupação contigo... Voltei por você, Amenade. — Devolveu tentando não transparecer ferocidade.

Encontrando as íris castanhas dele, a Titã ficou abismada com tal confissão... Por mais que já soubesse o motivo do retorno.

— Nem Iduna, nem Ierra ou Azaya... Nenhuma delas tem o coração que você carrega. — Apontou o coração da titã enquanto penetrava profundamente os nevoeiros dela.

A distância entre os dois tinha diminuído e a eternidade melodiosa lhes contornava.

— Jamais seremos iguais... É verdade, contudo..., ainda temos algo em comum.

Tito ergueu a mão dela para entrelaçar na sua e aquele toque fez Amenade suspirar.

— Não temos intenção de diminuir ou desprezar ninguém, estou certo? — Tito perguntou e ela permaneceu enigmática e lívida.

— Totalmente certo. — Nad deu a resposta que Tito imaginava.

Poderia tocá-la de forma menos formal e limitada, porém não era o momento certo... Ainda não.

— Vou voltar para lá, depois continuamos esta conversa. — Tito informou soltando lentamente a mão dela que era bem maior que a sua.

Amenade apenas assentiu e dispersou o olhar enquanto Tito seguia rumo ao salão novamente.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora