20-Karpara

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Tito já havia sido acordado, bem cedo pelo que notou —, porque o sol ainda estava se levantando no horizonte degrade quando as féericas mandadas por Amenade dispuseram roupas, sapatos e acessórios para arruma-lo conforme a compatibilidade da ocasião.

— Opa, opa, tira a mão daí. — Reclamou Tito escondendo com as mãos a sua parte íntima a qual as duas serviçais iam puxar a calça para cima saindo de trás dele.

As duas deram risadinhas folgadas.

— Me lembre de dizer a ela que não é necessário ajuda. — Murmurou a si próprio enquanto arrumavam os cachos escuros do seu cabelo cheio.

Tito estava muito magro, desnutrição tão severa que podia-se notar os ossos das suas costelas.

Mal lembrava da última fez que encheu o estômago.

— Ah! — Reclamou após um puxar nos seus cachos fazer a cabeça balançar para trás, aquelas grossas de mão pesadas feito chumbo não disseram nada, apenas prosseguiram com o que lhes foi ordenado fazer.

Aquela camisa mais justa de cor branca feita de linho, com mangas compridas, os sapatos de couro verdadeiro com um saltinho e detalhes dourados —, as calças pouco acima dos joelhos e os anéis de ouro que preencheram todo o espaço das suas falanges —, não representavam sua humildade... E nem nada do que ele era, se sentiu desconfortável, desencaixado.

A maquiagem escura nas suas linhas d'água e o óleo corporal que fazia sua pele negra clara brilhar mais que o normal —, fazia Tito sentir-se uma criança sendo punida.

— Isso tudo é mesmo necessário? — Reclamou ainda mexendo na grinalda de galhos e folhas na sua cabeça.

— A rainha escolheu estas coisas exclusivamente para você, e se sentará ao lado dela... Não seja mal-agradecido humano. — As palavras da mulher rechonchuda e avermelhada ficaram se repetindo na mente dele.

Exclusivamente, ao lado dela.

Holanda espirrou um perfume enjoado nele diversas vezes até fazê-lo espirrar insistentemente por quase três minutos seguidos.

A outra ajeitava a cama do mais novo habitante do palácio... Provisório ou não.

Holanda terminou de ajeitar os ombros da camisa branca de mangas bufantes dele e de repente surgiu tinta preta em sua mão e ela o marcou com o dedo no dorso delas, deixando apenas um ponto borrado.

— Para que isso? — Perguntou observando aquela atitude peculiar... Tudo lá era daquele modo.

— Porque assim, se perdendo no festival, a rainha poderá te achar mais facilmente. — Explicou friamente a criatura flutuante.

— Me perder? Eu não tenho três anos. — Resmungou ele revirando os olhos.

Finalmente elas terminaram — sendo atraído por uma melodia sutil e rebuscada, Tito foi levado para fora seguindo as duas.

— Não faça nenhuma besteira humano. — Advertiu Holanda e sumiram a voo rápido pelos corredores.

Tito ignorou e continuou andando pelo lugar bem decorado, a procura da rainha.

— Realmente o nível da dignidade de quem visita o palácio ficou decadente e só tende a ir ladeira a baixo hein. — Aquela voz conhecida fez pouco caso se referindo obviamente a ele.

Tito virou-se devagar e sorriu forçado.

— Com certeza Azaya...você está aqui né. — Percorreu o olhar de cima a baixo nela, debochando.

Aqueles olhos cor de oliva ficaram irados imediatamente, antes que Azaya passa-se a correr atrás da sua presa, Amenade magicamente apareceu impedindo-a ao se colocar na frente do humano.

— Cuidado com o que pretende. — A Rainha pronunciou serena e séria.

Azaya fez curvou o corpo pela metade fazendo reverência.

— Ele virou seu protegido ou o que Amenade. — Proferiu contendo a raiva ardente em sua expressão rude.

Nad soltou uma risadinha quando pegou no pulso de Tito que ainda olhava a situação.

— Ele é meu amigo, e na minha casa quem manda e desmanda... Também sou eu Azaya. — Puxou levemente o amigo para frente do seu próprio corpo.

— Compreendi. — Pronunciou Azaya de forma viperina, mas contendo a vontade de agredir o rapaz.

Saindo do campo de visão deles após movimentar a cabeça em despedida, ela sumiu os deixando sozinhos naquele corredor privilegiado pelo sol e com luz viva do amanhecer.

Nad soltou o amigo com sua mão grande e sorriu fraco... Não estava demonstrando felicidade ou empolgação, o que era estranho.

— Aconteceu alguma coisa? — Tito quis saber, vendo o desânimo transparecendo no rosto belíssimo dela.

— Tito, eu tenho que te contar uma coisa. — Balbuciou a rainha como se sua garganta estivesse sendo arranhado por vidro.

Adiou muito aquela confissão e já estava pesando demais em seu peito.

— Então diga... — Replicou admirando a beleza hipnotizante dela.

— Amenade, acredito que você deveria ver isto. — A voz espantada da guerreira interrompeu os dois quando ela surgiu movimentando a armadura pesada que tilintava.

— Agora não. — Respondeu a titã dando mais importância ao que estava prestes a dizer para Tito.

Iduna passou o elmo de uma mão para outra apoiando na lateral do quadril.

Tem que ser agora. — Insistiu mais séria do que nunca, o rosto pálido demais.

Nad suspirou frustrada e revirou os olhos reprovando o chamado da amiga.

— A propósito... Está muito lindo. — Disse já alguns centímetros longe dele, percorrendo o olhar cinzento de cima a baixo pelo corpo dele. Tito corou por inteiro.

Seguindo a mulher de trança que já estava longe batendo os pés pelo corredor de forma barulhenta, Nad sumiu.

Logo uma sombra preencheu o corredor antes que ele pensasse em dar um passo rumo a sala principal.

— Mortal, o que faz aqui? — Perguntou a voz profana e rouca da mulher.

Tito perdendo a paciência já.

— Vim ver se Amenade estava bem... — Respondeu cruzando os braços a frente do peito.

Ierra sorriu subliminar e o analisou de forma maliciosa que fazia o rapaz se sentir nu diante daquelas íris trovejantes.

— Agora que você está arrumado... Até que, é interessante. — Avaliou algo mais profundo em sua própria mente.

Tito engoliu a seco enquanto ela o rondava.

— Seria tão proveitoso se participasse da reunião particular...

— Uma orgia você quer dizer? Não, obrigado... Tenho um pouco de dignidade ainda. — Tito interrompeu já totalmente pressionado por aquele olhar penetrante.

Ierra gargalhou sussurrante.

— Você é virgem... Deveria imaginar. —Proferiu objetiva e gesticulou com a mão apontando o vazio.

A respiração quente dela invadindo o ouvido do humano tenso.

— Acredito que já sei de quem são as mãos que você quer no seu corpo. — Ierra manteve a malícia nas palavras e mexeu num dos cachos escuros dele acima da orelha, quase colada por tanta proximidade, ao corpo dele.

Tito recuou inclinando a cabeça para o lado.

— É uma pena. — Lamentou ironicamente deu um selinho na bochecha corada por incômodo dele.

Tito queria xinga-lá por tamanha ousadia e desrespeito... Porém, não disse nada.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora