26-A Guerra

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Amenade cruzou as portas do salão batendo os pés contido nas botas de metal, após abrir violentamente as portas da entrada com uma faísca do seu poder que corria pelas violentamente fervendo como em um caldeirão.

O estrondo fez Ierra tomar um susto e derrubar o chá que pretendia levar a garganta sob a mesa.

Iduna manteve-se em silêncio, como se nada daquilo tivesse acontecido, uma tranquilidade até um pouco debochada.

A rainha de Sportarend estava tão furiosa que poderia arrancar uma cabeça.

A guerreira vigilante do amanhecer ao anoitecer das portas do palácio e arredores, permaneceu sentada e levou lentamente um pedaço de pão fresco a boca. Sua petulância enfureceu ainda mais a titã dos cabelos agora espalhados devido à ventania e rapidez com que voará de volta para o palácio.

— Sua cadela asquerosa! Como ousa me desrespeitar desta forma! — Vociferou Amenade espalmando a mesa com selvageria, as estruturas do lugar estremecerem e faltou pouco para caírem acima das cabeças féericas ali presentes, Ierra xingou a irmã e fez um gesto obsceno para as duas, por terem atrapalhado seu café da manhã e a feito derrubar, desperdiçando comida e continuando faminta naquela sala.

Iduna sobressaltou da cadeira, lançando um olhar mortífero e desafiador para sua amiga de infância.

Cuidado Amenade, muito cuidado. — Alertou perigosamente corajosa, mantendo o rosto a centímetros da titã em sua frente, como se fossem morder uma a outra, feito dois animais selvagens brigando.

— Não tinha direito, tampouco a razão para matar ele. — Protestou a rainha sob a face da mulher bronzeada que cheirava a cidra e baunilha apesar do suor pelo esforço físico em treinamentos.

Ierra tentou impedir aquela discussão de perseguir, porém, Iduna virou-se devagar e assoprou contra ela uma fumaça preta envolvente contendo mínimas faíscas brilhosas que imediatamente fizeram Ierra estatelar sob o piso frio do castelo, adormecida, mal teve tempo de se defender contra o sussurro empoeirado da magia. Iduna fechou a mão por onde a fumaça deslizou como uma rampa e mordeu a língua quase arrependida da medida drástica tomada.

Iduna não queria que ela interrompesse a discussão necessária com Amenade.

A mente dela era tão forte e maligna, e determinada quanto sua astúcia petulante, indomável feito as águas agitadas do mar ocupada por Leviatã.

— Baixa, suja, indigna de receber qualquer respeito da minha parte depois desta pachorra que fez! Como pode? É no mínimo covardia, Tito mal podia se defender! — Amenade falou enraivecida, como se falasse pelo próprio amigo morto deixado próximo à lareira.

Iduna torceu o lábio inferior com repulsa, focando aqueles olhos oliva no pivor da discussão.

— Argh! Leve este corpo fétido para longe daqui! Estou em pleno desjejum, que absurdo nojento! — Desdenhou sem o mínimo de empatia por alguém que ela mesma matou. Amenade soltou um início de risada desacreditada, desviando o olhar feroz daquele rosto com cicatriz diante dela.

— Sabe o quanto é difícil fazer o sacrifício equivalente para trazê-lo de volta! Não pensou em nenhum momento na família do coitado? O quanto aquele homem irá sofrer! Ele veio aqui POR MIM, IDUNA, ENTENDE ISTO? — Amenade suavizou pouco o timbre, sentia-se culpada, porém não suficiente para tomar toda culpa para si e deixar apenas poeira para Iduna.

— Veio porque quis, porque foi estúpido o bastante para acreditar... — Amenade ergueu o indicador impedindo a sentinela atrevida de continuar, como se aquilo fosse um erro gravíssimo em ser falado.

Garras invisíveis arranharam a mente da titã e ultrapassaram o escudo potente a qual nenhum outro conseguiria passar.

— Saia da minha cabeça! Pare com seus malditos truques imundos! — Ordenou quase gritando de tanto incômodo que fervia dentro de seu crânio.

Iduna também era uma telepata excelente, mais que isto... Podia sugar toda força de uma mente inabalável, apenas se concentrando, sendo cruel e imparcial suficiente — a energia roubada era como sangue sendo drenado, bastava apenas foco da sua parte.

— Acredito que virá uma guerra pela frente, e você sabe o que deve fazer... seja inteligente Amenade, não deixa o burro coração falar mais alto... é o coração que costuma nos fazer fracassar. — A repulsa tomou conta do estômago vazio da titã que ergueu a coluna e preencheu os pulmões de ar, ainda trincando os dentes, furiosa —, recuperando-se dos arranhões mentais que Iduna causará segundos antes, sem nenhum pudor, ardilosa e imparcial.

— Sua... vil, que audácia a sua me afrontar deste modo... não me diga o que fazer. — Amenade sibilou rouca, apoiando-se na mesa ainda recuperando as forças.

Iduna sorriu com escárnio.

Por hora preferia manter alguns dos seus poderes de força imensurável como armas ocultas, para serem usadas em casos de extrema necessidade — pois tais poderes eram raros, principalmente entre as maiores cortes de Sportarend —, fora o fato de não precisar usá-los nunca —, pois o arsenal contido a seu boldrié e o próprio corpo em luta eram letais suficientes. Poderia facilmente lutar as cegas e derrubar um exército, ela por si só era uma arma de guerra, preparada para combate.

Então usava-os raramente para ver se continuavam fortes como eram, ou para de divertir torturando uma mísera criatura que encontrasse por aí.

Amenade respirou fundo sentindo os joelhos falharem quando a outra aproximou-se a passos viperinos, ameaçadores.

E então, Iduna falou por cima do ombro da rainha titã:

— Medo não te torna inteligente, apenas suscetível a cair em profundezas e nunca mais sair de lá... pense a respeito. — Jogou a carta da vez, aquela voz sussurrante feito abismos entre rochas e pedras, não tornou a féerica abalada ainda mais aborrecida, apenas a fez pensar... pensar muito.

Amenade rosnou movendo a cabeça com brutalidade, desviando os olhos cinzentos do corpo esparramado sob o mármore, próximo à lareira. Aquilo fui somente uma demonstração do poder adormecido da guerreira, o coração acelerado, as mãos trêmulas gélidas... Bem longe de ser o pior efeito que eles causariam em alguém. Imune aos poderes da amiga, com certeza não era, porém, pensava ser mais resistente depois de tantos anos que não via rugir tamanha fonte de magia agressiva.

Era insuportável ver o indefeso Tito ali morto diante dos seus olhos. O fardo que carregava; culpa. O elo que tinham um com outro permitiu que ele fosse ao encontro dela pretendendo ter noção do que ocorria, o quanto Amenade estava em apuros... A aflição do encurralamento de Tirso.

Caos, tragédia, maldições... Viria muito mais a seguir, caso Nad não desce ouvidos a consciência e se preocupasse mais com o humano, do que consigo mesma e o reino.

Iduna disparou para fora da sala feito uma lança rodopiando prestes a atinge o alvo.

Ninguém seria insano ou estúpido o suficiente para desafiar a magia dela, Amenade não tinha tempo para imaginar estar enfrentando a sentinela do crepúsculo caso um dia entrassem em conflito —, na verdade, nunca cogitou a possibilidade, pois, eram amigas desde quando mal sabiam da própria existência, juraram lealdade e companheirismo por sangue — uma a outra, juntas para sempre —, mesmo não sendo espíritos parabatai.

Teria aquele humano rabugento conseguido quebrar aquele laço mais antigo que a formação dos oceanos? Abalado a confiança, o carinho, a amizade delas... tal coisa havia acontecido e pelo proceder... Tito foi o culpado.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora