14-As Vidraeras

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Sendo carregado pela garota ruiva magrinha para os corredores iluminados da caverna — Tito foi ficando melhor, já não estava fraco e a beira do colapso (fisicamente) era como se aquele lugar fizesse toda a energia ruim e sua condição deplorável sumir... Ou talvez Velancia, ou talvez os espíritos que haviam nele... Talvez houvessem, talvez.

Tirso queria bufar, revirar os olhos e fazer coisas ligadas à tais atitudes por ódio e repulsa do humano... Porém, se conteve, sendo intimidado por Velancia mesmo que a própria nem tivesse lhe encarado mais uma vez desde que entraram na caverna.

Somente sua presença já o fazia calar a boca e parar com seus comportamentos ridículos, imaturos e prepotentes.

Aquele corredor se tornou uma sala viva e aconchegante, dando início a receptividade calorosa da criatura gentil que praticamente movia Tito por inteiro —, o cômodo lembrou sua própria casa, mesmo que fosse bem mais refinado. Tinha duas lareiras, uma à esquerda encostada na parede perto da entrada e outra à direita na parede próxima ao tapete peludo (pêlo de ovelha) que havia ali diante das brasas quentes que iluminavam o local escuro — no centro pouco à frente da lareira, à esquerda tinha um sofá que fazia uma leve curva (cor marrom-escuro) em frente, — pequena mesa de madeira e acima dela alguns objetos dando contraste ao escuro das longas cortinas e outro tapete, todavia este tinha um tom arroxeado e não era feito de pêlos, somente tecido normal.

— Sente-se aqui baixinho. — Velancia ajudou o humano a se sentar logo em seguida tirando as mãos do seu ombro esquelético.

Não acredito que vai vesti-lo com suas vestes, alimentá-lo com sua comida... Que blasfêmia, Velancia. — Tirso torceu o nariz em reprovação, dizendo como se aquilo fosse o delito mais imperdoável já cometido contra algo ou alguém... Talvez a si próprio, já que só sabia pensar nele mesmo.

Os guardas sumiram num piscar de olhos diante da escuridão das sombras ali preenchendo a sala.

— Cale esta boca imunda, seu bárbaro desumano. — Tirso soltou um sorrisinho em resposta, parecia que aquilo não ofendeu como deveria... Mas sim foi mais para encher seu ego insuportável.

Velancia suspirou desistindo e voltou-se para Tito novamente, agora voando sobre algo invisível igualmente antes.

— O quê vocês são. — O fio de voz perguntou à garota.

Ela arranhou a garganta internamente.
Não queria responder aquela pergunta... Não naquele momento. Impróprio.

— Somos parabatai, seu boçal. — Respondeu Tirso, soberbo como sempre — tratando Tito feito um analfabeto em relação à todo e qualquer tipo de assunto, como se não fosse digno de ouvir tal palavra simbólica e complexa.

Parabatais são guerreiros unidos por sangue angelical ou juramento... Lutamos juntos a vida toda, nossas almas estão unidas. — Replicou Velancia, dando mais explicações e sendo amigável como sempre.

Tito gostou do modo que lhe foi explicado... Apenas por ela obviamente.

— Uniu sua alma com este ser tão... Desprezível, prepotente, avarento, arrogante... Estupidamente cheio de autoestima? — Tito proferiu, sem pausa e nem papas na língua — nem soubera de onde surgiu tanta força para soltar tais palavras sem falhar uma única vez. Talvez a curiosidade, ou a revolta, ou o horror da informação que o deixou tão incrédulo e se questionando como aquilo era possível... Lhe dera tal força assustadora e inesperada.

Velancia soltou um sorrisinho entre-aberto.

Tirso, nem sempre foi assim. — Continuou dando as costas ao féerico inexpressivo e perdido em sua própria pose mais atrás.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora