38-Plenitude

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— O que traz vocês nobres, a minha residência? — Falou a voz intensa e calma.

As garras pretas da mulher arranharam Iduna quando ela cruzou o segundo portão de ferro menos resistente, pintado de branco sob os paralelepípedos de cimento acinzentado debaixo delas.

Iduna deu um saltinho para o lado, cheia de raiva, lançando um olhar feroz à mulher.

— Minha casa não é para se perder tempo fofocando, digam logo o que querem. — Adiantou sendo direta, ao cruzar os braços e parar a frente da pilastra de gesso branco.

O nariz remetente a um felino se enrugou.

— Viemos porque precisamos que proteja o lado dos humanos para que não sejam massacrados por Baltazar e seu exército. — Respondeu Nad tão fria quando gelo.

A mulher da pele negra escura gargalhou com escárnio. As duas outras se encararam.

— Então quer dizer que depois do seu puta erro, eu tenho que me colocar como escudo para evitar a carnificina dos humanos? — Ela moveu as sobrancelhas pretas com incredulidade, tratando como uma ofensa debochada da própria irmã mais velha.

Iduna suspirou preguiçosamente, já sabendo que aquilo levaria horas cansativas e não estava a fim de escutar.

A titã avançou dois passos e encarou a irmã por quase um milênio.

— Duas cortes inteiras já foram dizimadas, devastadas por eles, irmã... por favor. — A dos olhos cinzentos pediu, de modo passivo.

A mulher que vestia uma camisa sem mangas de gola alta, suspirou pensativa.

— É só até que consiga raptar Baltazar e matá-lo de uma vez. — Amenade ponderou, tirando o punhal banhado em ouro do largo quadril, fazendo os olhos dourados da irmã se fixarem no objeto belo e perigoso.

Iduna apenas chutava uma pedrinha qualquer com tédio, sentada em uma pedra maior no canto do jardim de entrada.

— Eu não vou me arriscar por um preço baixo querida irmã. — Proferiu gesticulando com o indicador ao vazio.

Dando as costas a Amenade, ela pretendia sair rumo a parte interna da sua casa.

— Denala, por favor... eles têm uma legião vindo nos atacar. — Insistiu a rainha.

Disposta a ter frutos bons daquele diálogo.

O olhar de hiena dela atingiu a irmã, virou-se lentamente e pensou sobre algo.

— Posso te dar o que me pede...com a condição de que; me dê o cargo de espiã noturna da sua corte. — Pediu a mulher das pálpebras esfumadas em um tom de preto.

Iduna reagiu, levantando-se da pedra com hostilidade, a guerreira reprovou isto.

— De maneira nenhuma! Tire seu jumento da chuva! Considere-se nulo teu pedido. — Protestou a sentinela, irritada demais.

Amenade emitiu estalo com a língua e Denala ronronou de modo felino.

— Sei que não gostaria que te pegasse aos beijos e preliminares com Ierra, mas isto não significa que não possa ter um posto e vigiar Sportarend com precisão, Nad... — Pediu a irmã, sem terminar a frase.

Amenade mordia o lábio inferior, tensa.

Iduna revirou os olhos achando Denala ainda mais detestável naquele momento.

A plenitude de Nad irritou as duas que dirigiram os olhares impacientes a ela, fazendo poses diferentes perto uma da outra. Amenade se sentiu encurralada.

— Não hajam como crianças birrentas! Me deixem pensar. — Pediu já estressada.

Havia tantos problemas a serem resolvidos e o fato das duas quererem discutir sobre que ocuparia tal cargo, lhe dava dores de cabeça —, as duas se encaravam com repulsa e desprezo, como duas crianças emburradas e chatas, fazendo birra.

Não importava o que Nad decidisse, elas não iriam simpatizar uma com a outra, não importava o que Nad dissesse como veredito final, pois ela sabia que independente disto... alguém morreria... aliás... alguns. Humanos. Titãs. Ambos os lados.

— Quando decidir, diga para mim, irmã. —Enfatizou de modo azedo, empinando o nariz e movendo as curvas nada avantajadas dali, Iduna mostrou o dedo novamente, aborrecida por aquele pedido.

O punhal no quadril de Amenade pareceu chacoalhar, como um sinal de que o alvo da lâmina estivesse bem perto delas —, aquele punhal era o único com destreza e eficiência suficiente para matar Baltazar, mesmo que estivesse muito ferido ou atingido pelos poderes das titãs, somente aquela lâmina, manuseada por uma rainha féerica, enfiada direito no coração dele, poderia matá-lo com um movimento.

Amenade sabia que não poderia errar.

— Vou voltar ao palácio, envie uma carta ou vá até à cidade dos tormentos dizer a Nerfa que traga Tito de volta, Iduna. —Comandou a rainha, com preguiça já.

Antes mesmo de Iduna bater o pé e se negar a fazer o tamanho sacrifício que era puro drama e orgulho, Denala sumiu em um lampejo de magia azulada, surpreendendo as duas féericas.

As quatro irmãs raramente se reuniam, entre elas, Denala era a mais antissocial, reservada a sua própria moradia, fechada em sua casa, de modo rabugento e silencioso —, só saía em questão de vida ou morte, evitando contato com o mundo afora. Seu lema era simplório e coerente; quanto menos contato eu tiver com alguém, menos vontade terei de matar alguém, simples assim.

Ela não gostava de derramar sangue a toa, tampouco de ser usada como arma em luta —, passava as tardes tocando gaita e viola, a noite cantarolava e cuidava dos seus pássaros de estimação que não ficavam trancados, mas ainda sim, permaneciam em sua residência por amor e apego à dona.

E quando não, estava a preparar chás e eliminar aromas florais pela casa, coisa vinda de seus poderes pouco usados.

Havia conflitos mal resolvidos entre Amenade, Ierra, Denala e Nerfa, e as irmãs não queriam gastar tempo conversando sobre isto para tentar entender uma a outra, pois tinham outros assuntos que necessitavam de mais atenção posteriormente. Enquanto isto, Baltazar marchava rumo à outra corte para destruí-la junto de Tirso e seus aliados.

O tempo estava correndo, os dias passando, e era difícil pegar o general de exército.

Baltazar não tinha poderes consideráveis no quesito magia, porém tinha um poder persuasivo e um corpo preparado para lutar em qualquer situação —, por isto era um guerreiro muito temido e elogiado.

Enfrentar Amenade não seria fácil, todavia também não era impossível vencê-la.

Denala na mídia

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Denala na mídia.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora