30-Concordância?

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Ierra, Iduna e as outras duas estavam reunidas diante do escritório particular da rainha de Sportarend.

Ninguém proferiu uma só palavra enquanto observavam ela analisar com muita atenção um mapa feito um papiro claro diante da mesa de madeira extensa.

— Estou começando a ficar entediada. — Reclamou Nerfa, fazendo leve biquinho, colocando a bochecha sob o punho fechado apoiado no cotovelo acima da mesa.

A mente de Tito rodopiava, rodopiava até que não aguentasse mais e caísse.

Iduna e Ierra inexpressivas, pareciam tensas.

O ambiente mais frio que o próprio inverno rigoroso das montanhas.

Tito impaciente demais, ansioso por uma letra nem sequer quebrar aquele silêncio.

— Devemos fortalecer as tropas, do sul e do norte... É provável que eles possam atacar por um lado cego, aliás... não temos tropas. Nad se auto-corrigiu, tensa.

— Como quer se defender se não tem tropas? Qual o sentido da coisa? — Implicou Nerfa mal-humorada inclinando o corpo para frente.

Aquele assunto simplesmente não entrava na cabeça devagar de Tito. Não fazia ideia do porquê da tão falada guerra.

— Espera, uma pergunta; por que haverá guerra? — Interferiu o humano irritado.

Neste momento todos os olhares exceto o de Nerfa voltaram-se para ele como se fosse um tirano falando algo estupidamente absurdo para ser escutado.

— Porque, doce Tito, Tirso quer derramar sangue, quer vingança e terras para dominar e junto dele estão Baltazar e Cayena, os maiores sanguinários porcos de toda Sportarend. — Explicou suavemente Nerfa, tendo paciência com o humano confuso retirado do assunto.

Tito quase vomitou naquela frase, ouvindo o nome do general cruel que o torturou, lembrando de Kevera —, da morte de Velancia, da sua família humana frágil do outro lado da muralha... quem os protegeria? A não ser ele próprio? Quem poderia assegurar que não iriam dilacerar a carcaça humana dos seus irmãos e o velho pai? Se realmente viesse a guerra —, Tito já não tinha confiança suficiente em Amenada para acreditar que protegeria eles, os manteria longe da guerra.

O fio de sombras projetou atrás da estrutura de Nerfa — ela sentiu a angústia, a aflição e a saudades do ressuscitado — ficou cabisbaixa por ver tanta dor acumulada dentro dele. Derrapando mais profundamente nas memórias do rapaz abatido, conseguiu ver o rosto do pai dele, como estava mal por tantos dias sem notícias do caçula.

As outras apenas ignoraram ele.

— Posso me retirar? Não estou me sentindo bem. — Disse baixinho, mexendo nos cachos escuros, muito incomodado.

— Sua presença aqui não faz diferença, não tem poderes e muito menos sabe empunhar uma espada... inútil. — Desdenhou a arrogante guerreira.

Nerfa reprovou a atitude dela, colocando a mão sob a de Tito ainda acima da madeira.

— Eu posso ensiná-lo a lutar. — Ofereceu gentilmente, mantendo o vislumbre nele.

Todas ficaram pasmas ouvindo tal coisa.

— Isto é ridículo em um nível imensurável Nerfa. — Protestou a morena dos olhos cor de oliva.

— Por quê? Não tenho nada melhor para fazer com meu tempo... aposto que Tito é sagaz e dedicado suficiente, caso queira minha ajuda. — Nerfa não tirou os olhos vermelhos dele enquanto falava.

Aquelas sombras sussurrantes cochicharam na mente dele: aceite, prometo ser honesta contigo coelhinho.

A carícia sombria fez Tito pensar estar enlouquecendo, por mais que soubesse que vinham da mulher etérea que mantinha a delicada mão de tamanho normal acima da dele que suava frio.

Amenade afastou as íris cinzentas daquela demonstração de afeto.

— Eu ensinei legiões de guerreiros, Tito, posso muito bem ensiná-lo, o levarei para a cidade dos tormentos, para que seja preparado, quando a guerra vier... — Tito não mastigou muito a ideia para responder aquela voz envolvente e rouca.

A punição por ser tão teimoso, foi ter sido morto —, foi ter metido o nariz onde não deveria... mas, aquilo, era necessário.

Necessário intrometer-se — estava em jogo sua família, o lado mortal atrás da muralha.

Entre alfaiates, padeiros, marceneiros... todos dependiam dele. Pois, não tinham noção do que viria a seguir.

— Eu aceito. — Respondeu firme apertando em concordância a mão quente dela.

Repetidas vezes, com pesar, Nad piscou.

Iduna e Ierra se entre-olharam achando aquilo um grande equívoco — a mensagem subliminar estampando os olhos coloridos.

Tito não tinha muitas escolhas, ou confiava naquela belíssima mulher do tamanho de uma humana — ou morreria sendo orgulhoso e covarde... Preferiu confiar naqueles olhos que pareciam dois morangos recém-colhidos.

Amenade ignorou, analisando novamente o mapa, a luva de couro que cobria o dorso das mãos delas arrastou sob o papiro marcado. Tito sentiu um presságio estranho esmagando o coração, porém ignorou.

Procrastinou a pergunta: o que havia sido feito para que voltasse a vida; para outra ocasião.

— Maravilha! Partimos ao amanhecer limãozinho, irei mastigar algo na dispensa e já retorno, estou faminta. — Anunciou Nerfa com entusiasmo até demais, levantando da cadeira de madeira e saindo do escritório iluminado por lamparinas a óleo sem cheiro.

Tito cansou de ser impotente, ser o protegido inútil, queria lutar pelas próprias mãos — lutar com honra e coragem —, desbravar novas oportunidades.

Do lado humano, pessoas morrendo de fome e sendo agredidas, torturadas por titãs que invadiam aquela terra — destruindo os meios de ganhar os cruzeiros de cada dia, tanto barracas quanto mercearias maiores — saqueando, desrespeitando e até tirando sangue dos pobres humanos escravizados, deixados na miséria feroz que lhes restou.

Crianças correndo junto dos pais aterrorizados, temendo pela vida a mercê daqueles bárbaros — quem tinha sabedoria e sensatez permanecia em casa. Não ousando lutar contra, enfrentar os brutos.

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Nerfa na mídia.

𝗔 𝗧𝗶𝘁𝗮̃. [Finalizada] Onde histórias criam vida. Descubra agora