Capítulo 10

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ABBY HAWLEY

-Bom dia, Ben!

- Bom dia, Abby. - Me cumprimenta com uma erguida de queixo, típica entre os seguranças.

Normalmente a casa não possui um contingente de seguranças para salvaguardar o ambiente, mas desde as fotos de Lexy e sua barriga muito grávida caíram na mídia graças aos paparazzi somado ao fato de não termos feito um comunicado oficial em nome da banda, há possíveis intrusos e fã malucos por toda parte. Agora há a preocupação iminente sobre a notícia do casamento secreto em Vegas, mesmo que tenhamos tomado todo o cuidado possível sabemos que cairá na mídia em algum momento e as coisas ficarão agitadas.

Gravidez surpresa, casamento secreto, como não pensar que essas grandes estrelas do rock são malucas? Alguns até os acusam de fazerem isso para chamar atenção quando na realidade essas pessoas estão tentando viver suas vidas sem o assédio da mídia e as opiniões - não pedidas - nas redes sociais.

-Como foi?

-Tranquilo, nenhuma visita ou movimentação suspeita. Drew e Gabis saíram daqui tarde noite passada, ele dormiu logo depois.

-Certo, obrigada Ben. Tenha um ótimo dia.

-Você também!

Faço meu caminho para dentro da casa com o tablet na mão. Ainda não o desbloqueei porque estou conscientemente enrolando para isso já que uma vez olhando a agenda, a correria do dia começará e parte de mim só queria estar na cama dormindo até tarde. A outra parte sabe que procrastinar é inútil e que ficar sozinha em casa significa pensar na bagunça que é minha e porra, não estou fazendo isso tão cedo.

Ben, o chefe de segurança da banda e um dos únicos a estar com eles por tempo indeterminado, tem ficado de olho em Vince nos últimos tempos, enquanto não encontramos um acompanhante de recuperação para garantir que ele não faça nenhuma besteira. É claro que ele tem feito isso discretamente, tudo o que não precisamos no momento é que Vince faça mais um dos seus shows de menino rebelde e faça o sexto acompanhante correr para as montanhas. Sim, o sexto, os últimos meses foram um desastre.

Com um suspiro cansado coloco minha bolsa, meu tablet e o café que comprei no caminho para cá em cima da ilha da cozinha. Apesar do estresse envolvido esse trabalho é maravilhoso e me causa riso pensar tudo que abri mão para estar nele. Minha determinação em ficar não foi apenas pelo salário surpreendentemente bom, mas pela convicção de que não voltaria para casa e enfrentaria meu pai. Sim, eu poderia ser melhor que isso.

-Bom dia, Abby!

Pulo na banqueta em que estou sentada antes de me virar para encarar Vince com um olhar mortal. Ele nem deveria estar acordado a essa hora, seus hábitos consistem em dormir até tarde e fingir que o mundo não existe durante isso, mas agora ele está aqui sorrindo para mim com o maldito sorriso brincalhão e seus olhos ostentam um brilho de orgulho próprio por saber que me pegou desprevenida, estar com a guarda baixa não costuma ser um hábito meu, mas quando não há ninguém por perto eu costumo me permitir esse luxo.

-O que faz acordado a essa hora?

-Não é assim que se saúda os outros, boneca. - Cantarola, caminhando até a geladeira para pegar um de seus Gatorade - Estive pensando sobre uma coisa.

-Que seria? - Desbloqueio o tablet, não apenas para evitar contato visual com o homem, mas para fingir indiferença.

-Por que não nos contou que seu aniversário é amanhã?

A contragosto, levanto meu olhar de volta para ele. No geral gosto de pensar que sou uma pessoa prática e nunca estendi as conversas mais que o necessário com esses homens, não porque sejam pessoas ruim - pelo contrário, são maravilhosos a sua maneira - mas porque são meus patrões e em meu desespero para provar profissionalismo nunca quis estender nossa relação para algo além do ramo de "negócios".

-Não é como se eu colocasse em um outdoor no centro de Los Angeles sobre essa data. É só mais um dia do calendário.

-Aniversários são especiais, mesmo que costumamos fingir que não nos importamos.

-Você fala como se fosse um especialista.

-Quase isso. - Dá-me uma piscadela, encostando-se casualmente na bancada - Então, qual o segredo?

-Nenhum, é só uma data que não costumo comemorar, como Natal ou Ano Novo. Nada especial.

-Está dizendo que não comemora o Natal?

-Por que comemoraria? - Uma risada quase debochada me escapa. Eu não sei o que acontece comigo que estou estranhamente tagarela perto desse homem nos últimos tempos - Eu moro sozinha e meu trabalho não me permite ter tempo para cuidar de um animalzinho de estimação.

-Então não tem nenhum gato para chamar de seu?

-Por que teria? Sou alérgica a eles e cachorros, por mais fofos que sejam, demandam o tempo que eu não tenho.

-Você tem uma irmã.

-Sim, mas ela mora do outro lado do país e não costumo passar as festas com a minha família. - Me arrependo da informação no instante em que ela sai, felizmente Vince não parece se atentar para o que acabo de dizer, então me permito continuar relaxada.

-Ano Novo?

-Vocês costumam fazer shows no Ano Novo.

-Você não tem uma vida?

-Eu trabalho.

-Trabalhar não significa que tem uma vida.

-Eu trabalho. - Respondo pausadamente, enviando aquele olhar que diz para ficar quieto e não entrar no assunto

-Se você não costuma falar sobre o seu aniversário, então como Eth sabe sobre ele?

-Por que ele é enxerido.

-Devo ser enxerido também?

-Não. - Me levanto da bancada, trazendo o café, o tablet e minha bolsa comigo. O melhor a fazer é me trancar no escritório e fugir de sua presença até que seja estritamente relevante - Você não deve e não pode.

-Por que não?

-Porque não gosto de pessoas invadindo minha privacidade dessa forma, fique longe.

-E se eu desobedecer?

-Céus, quantos anos você tem? Estou avisado, Hutton. Fique longe da minha merda.

-Uh, nossa querida General perdeu o filtro sobre a língua. Que coisa mais interessante.

-Claro que não, idiota. - Endireito minha coluna, recuperando a postura - Estou apenas dizendo para ficar longe.

-Abby?

-O que? - Pergunto quase forçada, parando ao pé da escada para olhá-lo na entrada da cozinha.

-Você pode falar palavrão, nós não brigaremos com você.

E com isso, preciso morder minha língua e subir as escadas até o escritório segurando a vontade de mandá-lo se foder. Manter o profissionalismo às vezes custa tanta paciência.

O Guitarrista - A5 livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora