Capítulo 14

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ABBY HAWLEY

Respiro fundo, ponderando sua pergunta. Tenho me sentido tão cansada emocionalmente que talvez seja hora de compartilhar com alguém e Vice não apenas tem sigo gentil como já havia me oferecido um ombro amigo para desabafar antes. Não que eu tenha aceitado na ocasião, mas agora parece uma boa hora.

-Meu relacionamento com meu pai sempre foi complicado. - Acaricio o filhotinho em meu colo, usando essa desculpa para não encarar Vince. Aproveito a oportunidade para retirar seu laço, não querendo arriscar que se sufoque em seu sono - Sempre fiz de tudo para agradá-lo e nada parecia adiantar, nunca tive o corpo bom o bastante, nunca fui inteligente o suficiente... Era frustrante.

-Você não precisa continuar contando se não quiser, Abby.

-Não, tudo bem. Eu acho que está na hora de compartilhar com alguém. - Tentando controlar meu próprio nervosismo, levanto Zeus enquanto cruzo minhas pernas, só para acomodá-lo de volta e o pequeno nem se deu ao trabalho de acordar - Eu fui para a faculdade militar, queria seguir os passos do meu pai e ele parecia muito bem com esse plano.

-Sinto que a merda não fica por aí, não é?

-Não. - Um pequeno riso me escapa, sem muita graça, mas ajuda - Eu engravidei quando estava no último ano, faltavam poucos meses para eu me formar quando descobri. Eu não tinha um namorado de verdade, era mais um caso ocasional com um dos colegas de batalhão. Acho que você consegue imaginar o quanto meu pai surtou.

-Não deve ter sido agradável.

-E não foi mesmo. Ele gritou tanto no telefone sobre como eu sou uma burra irresponsável, sempre fazendo besteira e agora teria uma criança para cuidar. - Respiro fundo, olhando para o teto e piscando rapidamente tentando controlar as lágrimas que ameaçam cair - Ele não precisou me ofender por muito mais tempo. Alguns dias depois, na noite de véspera do meu aniversário eu comecei a passar muito mal, fui para a enfermaria da faculdade e quando eles viram o sangue me encaminharam para o hospital mais próximo. Eu tive um aborto, o médico disse que não é raro primeiras gestações não vingarem. Então foi assim que comemorei meus vinte e um, passando a madrugada sozinha no hospital em observação tendo que lidar com a notícia de que não tinha mais um bebê.

-Eu sinto muito, Abby. - Vince passa seu braço em meus ombros e me puxa contra sua lateral, beijando meus cabelos enquanto esfrega meu braço - Porra, não consigo imaginar como deve ter sido difícil.

-Foi duro. - Limpo rapidamente uma lágrima rebelde que me escapou - A vaga para assistente da banda foi como um presente dos céus para que eu não precisasse voltar para casa e encarar meu pai. Ele ficou ainda mais irritado quando soube que eu não seguiria carreira militar e que começaria a trabalhar com grandes astros do rock. Coisas pesadas foram ditos naquele dia e eu fui permanentemente proibida de voltar. Minha mãe, como uma eterna subordinada do meu pai, só interviu ao meu favor quando implorei para continuar a falar com minha irmã. Agora eu tenho direito a duas horas de ligação todos os domingos.

-Isso é cruel.

-Você diz isso porque seu modelo é uma mulher amorosa como a senhora Hutton. Meu pai não é do tipo que sente alguma coisa, ele só se importa com as aparências e o que todos pensam sobre a sua imagem bem construída de família perfeita. Foi mais fácil para ele me excluir que mostrar para todos que eu não havia seguido seus planos. Essa é a realidade de quem convive com um narcisista.

-Meu pai batia na minha mãe. - Vince despeja de uma vez e o olho surpresa, sem me afastar o suficiente para escapar de seu braço, por algum motivo eu me sinto acolhida dessa forma - Ele batia me mim também, mas minha mãe apanhava muito mais. Na noite no acidente foi uma das raras ocasiões que comemos fora, tínhamos ido para a cidade vizinha e no caminho de volta eles começaram a brigar. Eu não lembro o motivo, mas lembro do meu pai segurando o cabelo da minha mãe e empurrando a cabeça dela contra o painel do carro, uma buzina alta, depois vieram as luzes, senti o impacto da batida e tudo ficou escuro.

-Eu sinto muito. Deve ter sido horrível.

-Eu acordei no hospital, tinha policiais e meu tio estava lá, tia A, Jake e minhas primas também. Eles falaram que eu ficaria com eles agora e me contaram o que havia acontecido.

-Eu sinto muito mesmo.

-Bem, agora você entende porque me afundei cada vez mais nos vícios. De alguma forma eles me faziam esquecer de tudo e quando eu voltava a mim via as matérias sobre como havia me descontrolado e batido nas pessoas. Quantas vezes você teve que me tirar da cadeia por ter agredido alguém? Eu não queria ser igual ao meu pai, mas eu queria esquecer.

-Você não é igual a ele, Vince. - Coloco Zeus ao meu lado no tapete e me viro para olhá-lo melhor - Você é uma boa pessoa, não é como ele.

-A bebida e as drogas me fizeram magoar a tia A, mesmo depois de tudo o que ela fez por mim. - Seus olhos brilharam de lágrimas mal contidas e comecei a me sentir inquieta - Depois que meus pais morreram, meu tio se afundou na bebida. Ele procurou encrenca e definhou até a morte, tia A ficou sozinha para cuidar dos três filhos, de mim, de Ethan e de Drew porque todos tínhamos lares problemáticos e ela era a única que se importava de verdade.

-Você está bem agora. - Seguro seu rosto, obrigando-o a me olhar - Você está sóbrio e longe de encrenca. Qualquer um consegue ver como a senhora Hutton te ama, seus amigos te amam. Você não é como o seu pai, Vince, você é bom, é diferente dele.

-Somos duas pessoas fodidas e com histórias de merda, Abby. - Seu sorriso é fraco, quase amargurado - Eu me sinto quebrado.

-Eu também me sinto quebrada. Tenho tentado parecer uma pessoa mais velha, madura e responsável para mostrar a mim mesma que sou capaz e provar o quanto meu pai estava errado. Você não pode deixar o passado te prender assim, Vince.

-Você também não.

O Guitarrista - A5 livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora