O Guitarrista - A5 livro 4

Capítulo 21

VINCE HUTTON

-Acha que estão desconfiando de algo? - Abby pergunta no instante que me fecho a porta do escritório atrás de nós.

A conversa com Abby em meu quarto algumas noites atrás não teve um grande efeito prático como eu esperava. O lado positivo é que paramos de nos policiar quanto a vontade de estarmos próximos um do outro e mesmo que não tenha rolado sexo - além do seu aniversário, é claro -, tenho me sentido muito bem com os beijos escondidos que temos dado. O lado ruim é que me sinto como a porra de um adolescente, beijando sua garota pelas sombras para não levantar suspeitas.

-Você quer a verdade ou prefere que eu minta para te manter tranquila?

Por mim tudo já teria sido esclarecido e nomeado - se estamos juntos, estamos juntos; se somos exclusivos, assim seja - mas por respeito a Abby e sua personalidade paranoica, tenho me contentado com o que temos até agora.

-Ai, meu Deus! - Encosta seu quadril na mesa, as mãos tapando o rosto enquanto Zeus saltita de um lado para o outro aos seus pés com um brinquedo de pano na boca - Isso é um desastre. Todos descobrirão e serei demitida.

-Mais fácil se livrarem de mim a demitir você.

Jake nem ao menos disfarça os olhares inquisitivos em minha direção sempre que estamos longe de Abby e das garotas. Drew já percebeu que há algo diferente, algo novo, rolando por aqui, mas sua boa educação e cavalheirismo exacerbado o impedem de fazer as perguntas que tanto rodeiam sua mente. Graças aos deuses dos solos de guitarra, meu primo não voltou a insistir na fatídica conversa sobre meu envolvimento com Abby, posso sentir a preocupação transbordando em cada um de seus poros, mas ele também sabe que somos dois adultos e devemos lidar com a situação sozinhos. De qualquer maneira seria hipócrita da sua parte decretar como os outros devem se relacionar considerando que ele mesmo começou seu caso com Lexy por meio de um namoro fake.

-Eles nunca abririam mão de você, você é da família. - Cruza os braços sobre o peito, seu rosto emburrado e não posso deixar de sorrir da cena. Essa é a mulher que todos chama de General.

-Assim como você, mesmo que tente negar isso. - Aproximo-me dela, agarrando seu quadril com as duas mãos antes de lhe dar um beijo casto - Você precisa relaxar.

-Eu não sei o que é isso.

-Eu vejo, teremos que trabalhar melhor sobre relaxamento depois.

Mesmo com a conversa que tivemos não tenho me imposto sobre ela. A prova maior foi sua conversa com a irmã no domingo, ao qual eu não pedi para participar - mesmo que tenha feito inúmeras anotações mentais para falar com Hope e quem sabe convencer Abby no futuro a apresentá-la ao restante do grupo -, foi um momento das duas e permiti que Abby tivesse seu tempo para pensar. Quando a beijei esta manhã, antes que todos os outros chegassem, ela não protestou ou se afastou, pelo contrário, retribuiu meu beijo com empenho então posso dizer que estamos acordados sobre aproveitar o que estamos tendo.

-Estou falando sério, Vincent. Eu não posso perder esse emprego.

-E você não vai. Todos nessa casa te adoram, boneca. Lembra do que acordamos sobre aproveitar a vida?

-Falar é mais fácil do que fazer.

-Você precisa abaixar suas armas para começar a tentar de verdade. Estar sempre com a guarda levantada não ajudará em nada.

-Tudo bem, eu posso fazer isso.

-Ótimo, preciso ir antes que Jake venha atrás de mim como um cão de guarda.

-Vou descer logo também. Tenho que conversar com Lexy sobre o cronograma publicitário dos próximos meses.

-Nós estamos em hiato, vocês não param?

-Não quando a banda de vocês é uma marca tão grande.

Sorrio e a beijo, aprovando seu gosto e sentindo sua proximidade. Mais uma vez Abby não resistiu quando aprofundei o beijo e passei a brincar com minha língua em sua boca, instigando-a. Meu aperto em sua quadril aumentou, mas recusei-me a deixar a região porque se eu insistisse em descer para sua bunda ou subir para os seios nós não sairíamos deste escritório até que tivéssemos transado sobre a mesa. Uma pessoa tem direito a suas fantasias.

Saio do cômodo sem pressa, caminhando pelo corredor e descendo as escadas apenas para encontrar todos reunidos ilha de sofás entretidos em uma conversa. Joguei-me na poltrona perto de Drew e Gabis, observando como o baixista ruivo mantém seu braço quase que de forma protetora ao redor da enfermeira. Não acho que ele tenha ciência disso, mas ainda assim o faz. Talvez pessoas apaixonadas tenham o impulso de proteger aqueles que ama, especialmente se você for um cara apaixonado com quase dois metros de altura que mais parece um guerreiro escocês.

-É por isso que temos pensado em melhorar a logística. - Lexy fala deitada nos braços de Jake, que acaricia gentilmente sua barriga - Não queremos que a imprensa descubra sobre a bebê tão depressa e definitivamente não queremos fotos dela nas redes sociais.

-Nem toda figura pública teria uma preocupação tão grande com a privacidade dos filhos. - Gabis declara, dando um sorriso admirado para o casal Baby - Acho isso muito bonito.

-Quando tiver idade suficiente nossa filha poderá escolher se terá ou não redes sociais, se será uma figura pública e tudo isso, mas queremos preservar a infância dela. - Jake fala, os ombros um tanto tensos por tocar no assunto, sabendo que a mídia pode estragar tudo - Ela tem direito a uma infância normal, uma vida saudável e ter pessoas na internet opinando sobre sua crianção, sua aparência e sobre tudo o que ela faz não é bom. Sabemos que os fãs se preocupam e querem o nosso bem, mas precisamos lembrar que ela é uma criança.

Abby surge nas escadas, seu tablet quase inseparável em uma mão e Zeus na outra. Ela tem mesmo aproveitado a permissão para trazer o cachorrinho para cá, a bola de pelos não apenas virou um mascote da banda como também consegue passar o dia com sua dona.

-Desculpe atrapalhar, mas preciso que Lexy para verificar o cronograma.

Antes mesmo que Lexy pudesse se levantar ou responder algo, a porta de entrada é escancarada e duas figuras entram na casa carregando muitas sacolas consigo.

-Querida, cheguei! - Ethan grita em plenos pulmões com um sotaque escocês forçado, com um braço lotado de sacolas de compras e o outra ao redor dos ombros de Maggie - E trouxe presentes.