Capítulo 31

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ABBY HAWLEY

Limpo minhas palmas suadas na minha calça jeans. Passei em casa rapidamente para pegar algumas roupas antes de voltar para a Fiveland, onde Zeus e eu passaremos a noite hoje. No caminho para casa enviei uma mensagem para a minha mãe pedindo para fazer uma vídeo chamada com ela e meu pai mais tarde e para minha surpresa ela apenas aceitou.

Não que minha mãe seja uma pessoa difícil, ela é um doce e a mais acessível do casal. Apesar de não entender como os dois - como pessoas tão opostas - conseguem nutrir sentimentos um pelo outro e fazer o casamento funcionar a sua maneira. Normalmente minhas brigas são apenas com meu pai e agora, sentada com Vince e esperando que eles atendam a ligação, sinto o nervosismo me dominar.

Vince não disse nada, mas eu percebi que ele colocou uma blusa preta de manga longa que tapa suas tatuagens nos braços e dorsos das mãos para não causar um grande impacto, mesmo que alguns traços de chamam escapem pelas bordas das mangas e as rosas tatuadas em seu pescoço não podem ser escondidas. Seu ato foi fofo e atencioso, mas não quero que ele mude quem é para agradar meus pais, se eu não consegui ele também não precisa fazê-lo.

-Relaxe, dará tudo certo. - Diz tomando minha mão e cruzando nossos dedos.

-Sim, eu sei. Só não quero que eles me envergonhem. - Um riso nervoso me escapa - Eu quero te impressionar.

-Boneca, você me impressiona desde o dia em que pisou aqui.

Antes que eu tenha a oportunidade de responder a ligação é atendida. Minha mãe e meu pai aparecem na tela, ele como sempre está sério em sua melhor postura de Coronel Hawley e minha mãe tem aquele sorriso doce no rosto, como se tivesse sido transportada direto dos anos 50 ou algo assim.

-Mãe, pai. - Forço meu corpo a parar de tremer, conseguindo dá-lhes um pequeno sorriso, nada comparado ao terror que sinto por dentro.

-Ficamos felizes que tenha ligado querida. - Minha mãe, como a ótima anfitriã que é, nos olha de modo gentil e receptivo - Como tem passado?

-Muito bem, eu liguei porque queria... - Engulo em seco, tentando manter a respiração sob controle e parar meu pânico crescente - ... Quero lhes apresentar Vincent Hutton, meu namorado.

-Oh! - Surpresa domina o rosto da minha mãe enquanto meu pai se mantém expressivo como uma pedra - Olá, senhor Hutton. Você é um dos membros da banda, não é mesmo?

-Sim, senhora Hawley. Sou o guitarrista do grupo, toco com meus amigos e meu primo.

-Bem... Essa é uma surpresa e tanto. - Minha mãe dá uma risada nervosa. Céus, essa ligação é a mais pura tensão. Vince parece o único relaxado de verdade aqui - Você não parece o tipo de namorado que minha filha costumava ter.

-Mãe.

-Eu posso imaginar. - Vince dá-lha um sorriso relaxado, acariciando minha mão fora do campo de visão da câmera - Não estou do modelo mais tradicional.

-Você não é aquele que teve problema com drogas? - Meu pai se manifesta pela primeira vez, seu rosto a mais pura desaprovação - Que também tem histórico violento e foi internado em uma clínica de reabilitação recentemente.

-Pai!

-Sim, senhor. - Mesmo falando de um assunto tão delicado, Vince mantém sua postura relaxada e rosto tranquilo - Foram tempos difíceis, mas estou me recuperando muito bem e me mantenho sóbrio com o apoio da minha família e de sua filha.

-Você não é uma presença adequada para esta família, você mesma deveria saber disso, Abigail. Não posso tolerar esse tipo de influência perto da sua irmã, você já é uma adula e decide o que bem quiser sobre sua vida, mas Hope não precisa disso.

-O que?! - Uma queimação começa em meu estômago, subindo por meu tronco até chegar ao meu peito. A sensação certamente é de ter levado um soco, por isso congelo na cadeira com a boca aberta, olhando para a tela com pura incredulidade - Você não pode fazer isso.

-Abby, está tudo bem. - Vince aperta minha mão e a raiva acumulada por vinte e seis anos simplesmente explode. Como uma porta muito bem trancada cujo os cadeados e correntes explodiram em pedaço. Já chega.

-Não está tudo bem! - Desvio meus olhos de Vince para a tela outra vez, a raiva correndo líquida em minhas veias - Eu passei a vida inteira tentando o meu melhor para te agradar, pai! Por anos sofrendo tentando ser boa o suficiente, tentando me provar competente e tudo o que recebi foi desaprovação. Eu não nasci para a carreira militar, eu não nasci para porra nenhuma disso! Pela primeira vez estou vindo aqui mostrar a vocês algo importante para mim, Vince é importante e tudo o que vocês fazem é desaprovar. Um riso nervoso e um olhar de submissão não é apoio, mãe e falar sobre o que você não sabe, expondo mentiras de merda que são ditas pela mídia não é a verdade sobre o que aconteceu, Pai! Vocês não o conhecem, vocês nem se esforçam para isso, apenas julgas e jogam suas pedras como se fossem o exemplo de família perfeita. Eu estou cansada desse julgamento, estou cansada de ter meu tempo cronometrado com a minha irmã e estou cansada de me esforçar tanto para vocês me menosprezarem.

No auge da minha raiva, desligo a chamada em seus rostos chocados. O cansaço misturado a frustração e raiva acumulada. Recosto-me na cadeira fechando os olhos, respirando pesadamente enquanto a mão de Vince não abandona a minha.

-Você fica sexy para caralho quanto está com raiva.

Mesmo com toda a névoa vermelha ao meu redor, o comentário de Vince consegue me arrancar um riso verdadeiro. Eu não menti quando disse que ele é importante para mim. Inferno, tenho uma paixonite por ele desde o meu primeiro dia aqui. Na época ele ainda estava bem magro com cabelos negros na altura das costelas, ele já não estava bem, mas não deixava de ser bonito.

-Sinto muito por isso, eu deveria saber que era uma ideia idiota.

-Hey. - Vince solta minha mão, tomando meu rosto em suas mãos, obrigando-me a olhar em seus olhos prateados - Você foi muito corajosa. Nada do que seu pai colocou na sua cabeça nos últimos anos é verdade, okay? Você é gata, sexy para caralho, muito inteligente, dedicada e a melhor profissional que eu conheço. Você é incrível e foi incrível como você me defendeu. Eu te amo, porra. Você é incrível.

Eu não sou uma pessoa sentimental, sempre me orgulhei disso, porém escutar Vince dizer todas essas palavras e saber que de alguma forma eu acredito nelas me deixa emotiva e preciso lutar contra a vontade de chorar.

-Porra, eu te amo também. - Seguro seu rosto, puxando-o em minha direção para um beijo casto - Você é incrível Vince, não há nada dos seus pais em você. Serei eternamente grata a tia A por presentear o mundo com um homem tão bem instruído. Eu sou sortuda por te ter como o meu cara.

-Você é a minha garota, Abby. - Suas mãos agarram minha cintura, trazendo-me para o seu colo enquanto uma risada escapa de mim.

-Mesmo que as ideias de Eth seja um tanto malucas, você sabe que Zeus é nosso filhote, certo? Meu e seu.

-Nosso filhote. - Beija meus lábios outra vez.

O Guitarrista - A5 livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora