Capítulo 24

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ABBY HAWLEY

Não consigo correr o suficientemente rápido com esses saltos e não me importa que todos os seis estejam chocados e de olhos focados em mim. Deixei meu tablet na poltrona e corri, parando ao pé da escada para me livrar dos saltos e correr atrás de Vince.

Estou tão irritada, chateada e preocupada. Quem disse a ele que tenho vergonha? Porra, não é nada disso. Tento desesperadamente alcançá-lo, mas o homem com toda a sua altura e pernas longas é mais rápido e bate a porta do quarto antes que eu consiga chegar. Pela primeira vez na vida não me importa com o que os outros pensarão, eu apenas abro a porta e entro em seu quarto, batendo-a como ele fez.

-O que foi aquilo?

-Abby, eu gostaria de ficar sozinho.

-Você não ficará sozinho enquanto não em explicar o que aconteceu lá. - A preocupação parece ter fechado minha garganta, eu me sinto sufocada - Quem te disse que tenho vergonha de você?

-Ninguém precisou dizer nada, Abby. Suas ações tem falado mais que qualquer coisa.

-Minhas ações? Isso é por estarmos nos encontrando as escondidas? Por nãos termos transado outra vez?

O rosto de Vince muda de raiva para dor, como se eu tivesse acabo de apunhalá-lo no peito.

-Você acha que eu estou nessa pelo sexo, Abby? Porra, que tipo de homem você acha que eu sou?

-Eu não sei! Você está me deixando no escuro e o desespero me faz procurar uma resposta. Quem te disse que eu tenho vergonha de você?

-Abby, por favor. - Vince coloca as mãos na cintura e olha para o teto soltando uma risada amargurada - O que uma garota como você estaria fazendo com um cara como eu?

-Um cara como você?

-Um drogado de merda, Abby! Um cara violento e viciado! Basta dar um Google e você poderá ver com seus próprios olhos que eu não sou bom o bastante para porra nenhuma! - A dor em seus olhos é o suficiente para me deixar emotiva. Ver a maneira como ele se enxerga, como se fosse tão pouco me deixa lutando contra o ardor das lágrimas - Não precisa, não é mesmo? Quem foi a delegacia tantas vezes livrar minha bunda de lá?

-Não é nada disso, Vince.

-Como não? Você apresentaria um cara como eu para sua família, Abby? Sabendo do meu histórico e de como eu sou? Sem uma família decente, com a minha boca suja de merda e toda a coisas das tatuagens?

Tudo o que posso fazer é olhar para ele atônita. Por muito tempo me esforcei para ser o mais próximo possível da perfeição, não fisicamente, mas em intelecto e ações. Sempre querendo o melhor e imaculado. Agora, aqui, olhando para Vince e seu riso amargurado enquanto ele chuta seus tênis e meias para longe, não posso deixar de querer me chutar.

Esse não é um estranho, esse é Vincent Hutton, o homem para quem tenho trabalhado por tantos anos e conheço a ele e sua família como ninguém. Ele esteve no fundo do poço e se esforçou para sair por amor a sua família, a mulher que o criou e é por ela que ele se mantém na luta para ficar sóbrio.

-Alguns anos atrás eu não teria hesitado em responder não, mas hoje é diferente. - Vince apenas balança a cabeça continua na missão de tirar o kilt, evitando contato visual comigo. Não querendo suportar essa distância eu largo meus saltos no chão e me aproximo dele, segurando seu rosto para que me olhe - Hoje é diferente porque eu não sei como ou quando, Vince, mas eu me apaixonei por você e por mais que esses sentimentos sejam fortes demais eu estou aterrorizada, eu não sei nada sobre relacionamentos e não quero me machucar, mas saber que te alguma forma eu estou te machucando acaba comigo.

-Eu não sou bom o suficiente, Abby.

-Você é perfeito, Vince. - Seguro seu rosto um pouquinho mais forte, a dor em seus olhos ameaçando me partir ao meio - Você errou como todo mundo erra, mas você está tentando melhorar.

-Eu nunca vou ser bom o suficiente para o que eles têm.

Levou um par de segundos para eu entender que ele se referia aos outros e pensar em como Vince se sente vendo todos felizes, construindo suas próprias famílias enquanto ele se sente como peso para todos. Um homem problemático necessitado de "babá", empenhado a não decepcionar a senhora Hutton.

-Você entendeu o que eu disse, Vincent? - Obrigo seus olhos cinzentos a me olhar nos olhos - Eu não tenho vergonha de você, na realidade eu estou apaixonada por você e estou aqui para provar que você é muito mais que isso. Você é um bom homem, Vince.

-Estou apaixonado por você também, mas eu não quero estragar tudo.

-Eu também não quero, mas sou uma pessoa muito medrosa, nunca estive em um relacionamento e a chance de estragar tudo... A ideia de entregar meu coração a alguém e esperar que essa pessoa não o esmague é demais para mim.

-Isso é um relacionamento, Abby. A outra pessoa entrega o coração a você e espera a mesma coisa. Se a pessoa esmagar seu coração é um problema de caráter dela, não há nada de errado com você.

Olho seus olhos cinzentos, os mesmos que penso toda noite antes de dormir e a primeira coisa que penso ao acordar. Talvez seja hora de arriscar pela primeira vez, tentar abafar as exigências do meu pai em minha cabeça. Vince não me faz sentir burra, incompetente ou a pessoa que estraga tudo, ele apenas me anima e me dá suporte. Pode não ser a melhor hora em nossas vidas, mas estou disposta a tentar.

Não suporto ver a dor e a vulnerabilidade em seus olhos. Não posso deixar que minhas próprias inseguranças atrapalharem o que temos. Vince queria nomear as coisas e eu fugi, ele queria fazer tudo às claras e eu o arrastei para os cantos escuros. A A5 nunca escondeu nada entre si, todos sempre foram muito transparentes com o que sentem e o que estão fazendo e eu privei Vince de compartilhar o que estava acontecendo com sua família.

Não querendo me conter mais, estiquei-me na ponta dos pés e o beijei. Por que a necessidade de mostrar a ele que quero isso é maior que meus medos.

O Guitarrista - A5 livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora