Capítulo 11

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VINCE HUTTON

-Ficou do caralho! - Ouço Jake falar entusiasmado enquanto coloco minha guitarra e os fones de ouvido em seus devidos suportes.

-Era o que estávamos procurando? - Resgato minha garrafa de água deixada no canto.

-Era, cara. Ficou fantástico. - Meu primo não contém sua empolgação e não posso deixar de rir com isso. Eu preciso concordar que ficou um som muito bom, estive trabalhando incansavelmente nesse solo durante as últimas semanas.

-Ainda preciso terminar os outros, mas estão ficando muito bons também. - Saio da cabine, para encontrar Lexy sentada no sofá com as pernas esticadas e o olhar focado em um site de móveis para bebês - Estou indo buscar alguma coisa para mastigar, alguém quer?

-Eu aceito. - Drew fica de pé, fazendo seu caminho para dentro da cabine - Traga Chips.

Olhos para Lexy, Jake e o operador da mesa de som que veio trabalhar conosco hoje, mas todos negam. Drew gravará a sua parte dos instrumentais agora então não há pressa real em trazer a comida, mas essa tem sido uma ótima válvula de escape para mim, manter as mãos e a boca sempre ocupadas com aperitivos diminui minha ansiedade e não me faz correr atrás do bar mais próximo. Em contrapartida Drew me faz vender minha alma para gastar todas as calorias que ganhei comendo besteira e ainda trabalhar para o ganho de músculos.

Não posso deixar de concordar que me sinto muito melhor ao olhar no espelho e ver um abdome definido e braços bem desenhados de músculos, olhar as fotos dos últimos anos em que estive magro e pálido como um fantasma só causa desconforto. Não que os cabelos longos, na altura das costelas, fizessem muito para mudar minha imagem como fantasma de filme de terror japonês.

É bom olhar no espelho e encontrar uma pessoa aparentemente saudável, posso dizer que depois de tanta merda a vaidade caiu bem em mim. E tia A está orgulhosa, isso também é muito importante. Claro que ela recebe cópias digitalizadas dos meus exames médicos de tempos em tempos, mas depois de ter causados tantos problemas, eu não tenho o direito de reclamar.

Subo as escadas para a sala, indo até a cozinha para buscar os lanches desejados e me surpreendendo um pouco ao encontrar Abby parada ali, lendo algo no tablet com concentração total. Ela ainda está empenhada em descobrir quem vazou a informação sobre Jake e Lexy - e possivelmente é a mesma pessoa que delatou pequenas informações sobre nós para a mídia. Nada comprometedor de verdade, mas a mulher tem sede de vingança.

Aproveitando a oportunidade eu começo a estudá-la. Abby é uma jovem muito bonita com todos os seus traços orientais e corpo atlético, para atuar como nossa segurança ocasional como fez com John Downing não poderia ser diferente. A mulher séria em trajes sociais parada em minha cozinha não parece em quase nada com a jovem irritadiça, perdida e desesperada no hotel em Vegas. Manter cabelos tão bonitos presos desses coques deveria ser considerado um crime capital.

-Precisa de ajuda em alguma coisa? - Pergunta antes de levantar os olhos para mim, as feições sérias como de um soldado que passou anos servindo ao país. Aí está outro ponto, se Abby é tão militarizada e em algum momento de sua vida investiu na carreira militar, o que diabos está fazendo com quatro desocupados como nós?

-Você pode falar palavrão, boneca. - Dou-lhe um sorriso brincalhão e Abby revira os olhos, como se soubesse que não devesse perder seu tempo comigo e o certo a fazer é me ignorar. Infelizmente não estou dando essa folga hoje - Vamos lá, é só um palavrão. Seja uma garota má pelo menos uma vez.

-Não vou atender a esse pedido, você já pode voltar lá para baixo.

-Eu não sou um cachorrinho que você dispensa quando bem entende, Abby. - Caminho até ela, chegando perigosamente perto - Eu só quero ouvir um palavrão, é pedir demais.

-Eu não falo palavrão.

-Oh, eu sei que você fala. - Seguro firme em seu pulso, nada que a machuque, e a trago para mais perto ainda - Seus olhos brilham sempre que você sente vontade de falar um palavrão mas se segura.

-Se você não se afastar, Vincent, serei obrigada a golpear suas bolas.

-Você não faria isso com nossos futuros filhos.

O brilho divertido em seus olhos desaparecem, ficando uma completa escuridão e é assim que percebo como ela não gostou da piada. Não foi nada incômodo, quero dizer, piadas assim são feitas entre todos os membros de nosso grupo com frequência, o próprio Ethan já falou isso para ela, mas perceber que algo na fala a incomodou me deixa intrigado.

-Essa brincadeira foi demais. - Resmunga, tentando soltar seu braço sem realmente fazer um esforço para isso. Ela sairia do meu "aperto" com facilidade se quisesse.

-Você não gostou. Foi a coisa errada a se dizer, sinto muito.

-Tudo bem. - Solta um suspiro derrotado - Preciso voltar ao trabalho agora.

-Quero que diga um palavrão antes.

-Vincent.

-Só um e eu paro de perturbá-la.

-Quando você começou a conversa sobre o meu aniversário essa manhã, quis mandar você se foder. Sei que você é meu chefe e tudo mais, mas porra, você sabe apertar os botões certos para irritar uma pessoa.

-Viu? - Sinto um sorriso largo preencher meu rosto e me aproximo ainda mais dela - Não foi tão difícil assim, foi?

-Você deveria voltar para o estúdio agora. - Abby engole em seco, sua respiração levemente descompassada.

-É. -  Alterno meu olhar entre seus olhos e sua boca e pelos deuses dos solos de guitarra, que boca - Eu deveria.

Eu não sei exatamente porque, talvez seja excesso de tesão acumulado? Eu não transo com ninguém ou beijo uma boca desde que entrei na clínica de reabilitação longos meses atrás. Agora aqui estou eu, beijando a assistente de olhar assassino da banda. General Hawley para todos que convivem com ela. Em algum lugar da minha cabeça há um alarme disparando sobre não ser certo, mas porra, Abby é gata para caralho, mesmo com esses terninhos e coques de bibliotecária. Para o meu deleite, ela está retribuindo o beijo com tanto entusiasmo quanto eu, seus dedos sobem por minha nuca e agarram um pouco do meu cabelo enquanto uma de minhas mãos deixa sua cintura e agarra sua bunda protegida pela saia social. Nossas línguas se encontraram e foda-me se eu não estava pronto para levá-la para cima. A investigação sobre sua vida poderia esperar, eu passaria meu tempo beijando Abigail Hawley de muito bom grado.

O Guitarrista - A5 livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora