Capítulo 20

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ABBY HAWLEY

-Claro. - Vince abre espaço para que eu possa entrar em seu quarto, forço meus olhos para qualquer lugar no ambiente menos no homem de cueca fechando a porta - Em que posso ajudá-la?

-Eu vim pedir desculpas por hoje cedo. - Forço as palavras para fora de minha boca e como uma pessoa muito orgulhosa posso dizer com propriedade que é difícil - Você estava certo, nós deveríamos ter conversado e eu não apenas fugi como te tratei mal. Eu sinto muito.

-Meu ego é capaz de suportar uma rejeição, Abby. Desculpas aceitas, não se preocupe.

-Então está tudo bem entre nós dois?

-Sim. - Vince senta/deita em sua cama, as pernas musculosas estendidas no colchão e o tronco apoiado na cabeceira acolchoada. As tatuagens em plena exibição - Você queria uma foda de uma noite, nós tivemos isso, nos divertimos, gozamos e seguimos nossas vidas. Tudo certo.

Ele está te dando a justificativa perfeita, Abigail. Uma que você mesma usou, lembre-se de todos os motivos de você não poder se envolver com esse homem, tudo pelo qual você trabalhou tanto para conseguir, a reação do seu pai se soubesse que estão juntos e como isso colocaria as ligações para Hope em risco. Você é a funcionária, Abby, deveria permanecer no seu lugar, não importando se a língua, os dedos e o pau desse homem impressionantemente bonito esteve em seu corpo. Aproveite a chance, agradeça pela noite passada e fuja enquanto é tempo.

-Não foi apenas uma foda. - Agarro Zeus junto ao meu peito, precisando de alguma proteção entre ele e eu - Para ser sincera eu não tenho ideia de como nomear o que aconteceu, mas não gosto quando fala que foi uma simples foda.

-Como sugere que nomeemos o que aconteceu?

-Eu não sei! - Suspiro exasperada, sentindo a confusão e a insegurança sobre a situação me dominar - A verdade é que você me assusta, toda essa situação me assusta e eu não sei como lidar.

-Eu assusto alguém? - Sua risada sarcástica enche o quarto, seus braços cruzados sobre o peito chamando atenção para o físico - Essa é nova.

-Não estou mentindo. - Dou um passo em sua direção, determinada a provar meu ponto - Eu não sei me relacionar com as pessoas, tudo o que tive na vida foram alguns casos porque a perspectiva de que uma pessoa pode ter algum poder sobre mim me apavora. Não quero estragar tudo apenas porque somos funcionária e chefe, mas porque você é um cara legal e está passando por um momento difícil. Eu já sou uma pessoa muito confusa sozinha, não preciso atrapalhar tudo.

-Eu agradeço toda a sua preocupação sobre mim, Abby, mas eu posso te garantir que estou longe de ser um príncipe encantado precisando de proteção. Eu não sou o melhor dos caras, eu não fui o melhor dos filhos e estou longe de ser o melhor dos amigos, mas meu empenho em estar sóbrio não pode ser quebrado por uma rejeição ou qualquer coisa que você julgue ser confusa em si mesma. - Vince se levanta, caminhando lentamente em minha direção, me observando com seus olhos cinzentos como se eu fosse sua presa - Eu estava fodido e quebrado. Eu era uma criança irritadiça que expressava tudo o que sentia através da violência, era esse o meu mundo. Até que tudo desabou de vez e fui enviado para morar com meus tios. Um belo dia tia A apareceu com um papel e uma caneta sugerindo que eu escrevesse tudo o que eu sentia. O que deveria ser um diário virou um caderno de composição e foi assim que nossa banda começou na garagem, cada um reunindo suas melhores habilidades e interesses para cantar as frustrações que eu colocava no papel.

-Eu não sabia disso. - Sussurro em resposta, tentando imaginar esse quatro homens em uma versão mais jovem tocando em uma garagem, não se parece em nada com tudo o que eles têm hoje.

-Não é a história que vendemos, é a que escolhemos manter em privado porque o mundo não precisa saber que tia A foi o anjo que nos salvou. Que livrou Drew de seu pai violento e filho da puta, que salvou Ethan de sua mãe drogada de merda e que me salvou de virar um bandidinho de esquina com futuro na cadeia. Eu estava destinado a ser um fracasso, ser pior que meu pai e mais perdido que minha mãe, até tia A ganhar mais importância na minha vida que a mera esposa do meu tio. Não estou comparando o seu passado com o meu, mas consegue se imaginar onde está hoje tendo perdido tudo antes? Sem uma família, sem uma base, sem valores. Tudo o que tenho é graças a tia A e a esses caras, porque são minha família. É por essas pessoas que tenho lutado todo maldito dia para me manter limpo, porque não quero olhar em seus olhos e ver a decepção por se preocuparem tanto com alguém que, na realidade, não vale o tempo deles.

Vince está tão perto que invade meu espaço pessoal, suas órbitas cinzentas me encaram com tanta intensidade que não sei como ainda não estou encolhida em mim mesma. Meu cérebro se esforça para assimilar todas as informações que Vince despejou sobre mim, mas tem tido em vão. Não acho que poucos segundos seja tempo suficiente para entender toda a profundidade do que foi dito.

-É muito complicado.

-Não há como a sua vida confusa atrapalhar a minha, Abby. Eu não ligo para a merda que seu pai tenha feito ou ache de nós, eu não ligo para o que você fez ou deixou de fazer no seu passado. Se eu investir nessa relação confusa que temos é porque estou interessado em você, não no seu histórico. Consegue entender isso?

-E o que eu devo fazer? Abrir mão de tudo o que conheço e confio para me aventurar em uma incerteza? Se o que está acontecendo entre nós continuar e der errado, como as coisas ficarão?

-Nunca daria certo se você começar esperando o final, Abby. Sei que é difícil desapegar desse controle maluco que você exerce sobre tudo, mas se quiser aproveitar mais a própria vida precisa fazer isso. 

O Guitarrista - A5 livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora