As músicas citadas não me pertencem, servem apenas para dar um sabor. Se quiser acompanhar temos a trilha aqui, assim pode ter uma ideia do que está por vir: https://open.spotify.com/playlist/1a7YZ53HcMRLSzNCLqWJ5h?si=ohEcMHhuToSM89R48WJ9bA&utm_source=copy-link
Música deste capítulo: I know It's Over - The Smiths
IntroduçãoCharlie, ou Charles Edward Mars, deveria ser a caracterização do sonho americano. De berço rico, pertencente a uma família tradicional americana que comanda a indústria de doces Mars, nasceu e cresceu em Upper East Side em NY, em escola para pobres garotos ricos, diria. Saiu de lá com vaga garantida para a Universidade de Columbia, e seus pais lhe deram inusitada liberdade de escolha sobre graduação (escolheu o bacharel em Artes), por ter um irmão mais velho já encaminhado para assumir a administração da família.
Nasceu gemelar, mas não idêntico. O segundo a nascer, depois de John, por diferença de 7 minutos. Mamãe e papai imensamente felizes por terem três filhos homens, loiros, de olhos azuis, bem educados. Nada poderia atingi-los. Exceto que, quando retornaram nas primeiras férias de verão da universidade após a festa da república, Charlie ao volante alcoolizado furou farol fechado e meteu seu Puma vermelho num acidente tão catastrófico, que ao final, na carcaça do carro capotado, assistiu impotente seu gêmeo morrer preso entre as ferragens.
Aos 18 anos, enlutado, culpado e enfrentando a pior crise (talvez a primeira) de sua vida, se tornou outro tipo de pessoa. A trancos e barrancos lidou com tratamentos com psiquiatras estranhos, uma reabilitação forçada por abuso de drogas e todo o tipo de discussão familiar. Afinal os Mars, discretos e misteriosos, faziam o possível para sustentar a imagem da família, silenciando a dor com pílulas e compromissos sociais.
Isso o modificou, trouxe um senso crítico à respeito de seu lugar no mundo, trouxe a culpa e a impossibilidade de viver aquela farsa pomposa de Manhattan. Então quando finalmente pegou seu diploma, fez uma mochila de roupas, livros (os mais preciosos), violão e feito um Beatnik, colocou o pé na estrada para viver uma vida antimaterialista por alguns anos.
Sua alma era de escritor, compositor, se especializou em literatura, filosofia e poesia, e se reconheceu um verdadeiro niilista, desacreditado da vida, sarcástico frente a ela. Viajou de carona, a pé, dormiu nos cantos mais escuros e sujos e, de bico em bico, conseguia se alimentar e se relacionar minimamente.
Agora com 25 anos, depois que sua família colocou um detetive na sua cola, aceitou por fim um trabalho de freela como colunista pro jornal, apenas para dizer que tinha algo e se livrar de uma vez por todas dos Mars. O que foi interessante, pois teve que assinar até contrato de sigilo a respeito de sua identidade para a família.
Estava praticamente deserdado, exceto pela mãe, que vez ou outra enviava cartas para o seu endereço na Califórnia. Depois de tanta viagem, escolheu a cidade da fama, Los Angeles, completamente influenciado pelos poucos amigos que fez, artistas, músicos, viados, putas, a pior raça possível, dizia ela. Mas era com quem podia trocar mais do que 3 ou 4 palavras, gente que tinha uma marca na vida, presava por essas histórias como parteiro de letras que era.
Desta forma, mesmo com o freela, ainda precisava dar duro para pagar o aluguel da kitnet em que vivia e sustentar seus vícios: livros, vodka, haxixe e ironicamente... Os doces. Aqueles pelos quais a família era conhecida.
1984 - Los Angeles, CA - Onde tudo começou
Nas sextas no bar perto de sua casa, chamado The Purge, o microfone era livre para quem quisesse cantar ou declamar, deixando seu chapéu a disposição para ganhar uns trocados. Charlie acostumado a se apresentar por lá, ganhava sempre o suficiente para beber algumas cervejas. Naquela noite, pegou uma das músicas novas dos The Smiths para cantar ao som de violão. Excepcionalmente triste e por tanto, bela, chamada I know it's over.
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Bloody Nights
VampireOlá! Presta atenção aqui, esse não é um romance comum nem um conto de fadas. Você vai entrar em uma história intensa sobre como um humano com um passado complicado e uma mente muito filosófica - Charlie - quase virou a janta de um vampiro rockstar...