7. Narciso

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Nesse capítulo irá ouvir:

David Bowie - Cat People
David Bowie - Heroes

No escuro úmido do porão onde Charlie mal conseguia enxergar direito, havia também duas ou três camas ao estilo futon pelo chão com almofadas e rendas

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No escuro úmido do porão onde Charlie mal conseguia enxergar direito, havia também duas ou três camas ao estilo futon pelo chão com almofadas e rendas. E claro, um caixão.

O vampiro o guiou pela escuridão, mordeu-lhe o lábio um pouco mais forte e fez sentar-se em cima do caixão. Quem em todo esse mundo poderia se divertir com tamanha ambiguidade senão Charlie, com suas reflexões distópicas e seu desejo latente? Aquilo era um romance atípico, ser devorado era literal e não era.

Yves apoiou uma perna entre as do loiro, e subiu a mão em sua nuca, o inclinou para trás em seus braços enquanto se curvava sobre ele, o humano se entregou suavemente aos braços do vampiro, até quase encostar as costas na madeira do caixão, amparado pelas braço de Yves. Assim o vampiro levou o rosto para o pescoço do rapaz, Charlie sentiu os lábios macios recostando gentilmente em sua pele e então as presas o perfurando.

Lá em cima na sala alguém mudara o disco para o recente álbum de Bowie, Modern Love, dançante e carismático. Charlie se deu conta escutando os versos enérgicos de Cat People: And I've been putting out fire with gasoline. Fechou os olhos se atentando a guitarra lá longe, tão longe!

"See these eyes so green 
I can stare for a thousand years.
 just be still with me 
you wouldn't believe what I've been thru

You've been so long 
 Well it's been so long
 And I've been putting out fire with gasoline 
 Putting out fire with gasoline"

Enquanto era tomado como refeição, pôde reparar no calor se espalhando pelo corpo do vampiro na mesma proporção que parecia fazer o seu formigar. Quando mordia Charlie já não era mais na tonalidade de um caçador se alimentando de sua presa à força. Mas como amantes, tinha agora seu consentimento e não lhe roubava mais o sangue, lhe era dado de bom grado. O êxtase chegou para o humano igual cantava Bowie - gasolina sobre o fogo, o fazendo sonhar com algo mais etéreo.

Era uma vez uma noite estrelada com pontinhos dourados dançantes a flutuar. Os pontinhos são vaga-lumes que parecem formar rastros pela imensidão de céu tom violeta adornado de estrelas prateadas.

A prata e o ouro se misturam em arabescos e traços - mas não é a noite quem se move. Você está de braços abertos correndo em círculos de pés descalços sobre a grama molhada de sereno. Ouça os grilos, Charlie... tão barulhentos, parecem fazer uma sinfonia. Você acha que Bach ouvia a natureza? Pode apostar que sim. Essa noite vai durar para sempre. Vamos correr! O programa vai começar.

Charlie percebeu então: estava na sala de televisão de sua casa nesse flashback, havia corrido muito e estava ofegante. Passava o programa de Marc e Bowie aparecia cantando o novo single Heroes. Havia esperado o dia todo para ver. John estava ao alcance de seus braços, sorrindo para a televisão enquanto balançava a cabeça no som da guitarra lentamente. John tinha os cabelos louros compridos sobre os ombros e Charlie os bagunçou, ganhando "aquela olhada" sem querer ser desconcentrado. Ele se levantou de um tapete peludo e macio e simplesmente começou a dançar. Charlie ainda sentado lhe estendeu a mão e John balançava seus braços de forma boba, curtindo a música feito um louco.

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